O sobrenome é forte. Wolfgang Van Halen é filho do saudoso Eddie Van Halen, um dos nomes que revolucionou não apenas o rock, mas o jeito de se tocar guitarra. Isso, contudo, faz com que parte do público se esqueça de — ou não se atente a — diversos feitos de um talentoso multi-instrumentista que, mesmo ainda com seus 34 anos, já fez muita coisa.
Antes de se tornar o único responsável por vocais, composições e todos os instrumentos de sua própria banda, Mammoth (agora sem a sigla WVH ao fim do nome), Wolfgang integrou o Van Halen como baixista de 2007 até o fim oficial do grupo, devido à morte do pai, em 2020. Participou de turnês — algumas delas enquanto ainda era adolescente — e não apenas participou do álbum A Different Kind of Truth (2012), como foi a força motriz por trás do lançamento. Envolvidos garantem: sem Wolfie, como o músico também é chamado, esse disco jamais seria feito. A própria banda teria acabado, já que a condição de Eddie para continuar era contar com seu filho na vaga de Michael Anthony.
Entre 2012 e 2016, ele se juntou ao Tremonti, banda solo do guitarrista Mark Tremonti (Creed, Alter Bridge), com direito a participar de dois trabalhos de estúdio: Cauterize (2015) e Dust (2016). Na virada da década, decidiu concentrar esforços em seu próprio projeto, que chega ao terceiro disco, The End, lançado nesta sexta-feira, 24, via BMG. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Wolfgang aponta que, neste álbum mais recente, adquiriu maior “confiança no processo” — por isso, conseguiu experimentar um pouco mais com a sonoridade. “Estou mais confortável e ciente do quem sou e do que sou capaz, logo, fui capaz de me desafiar”, reflete.
A identidade sonora de Wolfie como compositor está mais clara. Hoje, suas criações reúnem influências díspares, do pop punk de Jimmy Eat World e Sum 41 (ouça “Something New”) ao metal alternativo do Alter Bridge (como em “I Really Wanna”), passando por referências como Foo Fighters (vide “Selfish”) e, em pitadas, o hard rock do próprio Van Halen (a faixa-título, com seu tapping de execução perfeita na intro). Há ainda canções de abordagem ligeiramente experimental, como a abertura “One of a Kind”, que traz uma notória mudança de andamento. Não à toa, é a canção que deixa o artista mais ansioso para o público ouvir. “Ela é um ótimo exemplo desse crescimento”, diz, também traçando uma linha de evolução entre os três álbuns já disponibilizados:
“Acho que o primeiro álbum [chamado apenas Mammoth WVH e lançado em 2021] foi a tentativa de descobrir o que eu tinha a dizer como artista, bem como o que poderia conquistar sozinho. Com o segundo álbum [Mammoth II, 2023], fiquei tão animado que o som ficou mais pesado, com muita agressividade e uso de bumbo duplo. Em The End, estive mais calmo e pronto para explorar o som. Mudei o processo de pós-produção, deixando o laptop de lado para fazer as demos já no estúdio, então me permiti correr mais riscos. É como um renascimento — até por ter abandonado as letras ‘WVH’ do nome ‘Mammoth’.”
A menção ao bumbo duplo não ocorre por acaso. A bateria dita naturalmente o processo criativo de Wolfgang Van Halen: foi o primeiro instrumento que aprendeu a tocar, ainda criança, e seu estilo de tocar guitarra e baixo é muito rítmico, tal qual sua declarada maior influência, Dave Grohl. Se em estúdio ele grava tudo, em turnês fica a cargo de vocais e guitarra, acompanhado de uma banda de apoio composta por Frank Sidoris (guitarra), Jonathan Jourdan (guitarra), Ronnie Ficarro (baixo) e Garrett Whitlock (bateria). Por conta disso, ele admite: não pratica tanto com as baquetas em mãos quanto gostaria.
“Geralmente pratico apenas quando estamos nos preparando no estúdio para começar a gravar. Toco as ideias do disco por cerca de uma semana e meia. Mas muitas ideias chegam através desse processo. Em algumas músicas, faço a demo intencionalmente mais aberta para que elementos surjam espontaneamente ao gravar. Além disso, é mais fácil não ser tão rígido e estar aberto. De toda forma, amo tocar bateria e não tenho oportunidade de tocar com tanta frequência, então é na gravação onde mais toco.”
Membro da família Alter Bridge
A relação de Wolfgang Van Halen com o “Alter-Bridge-verso” vai muito além dos anos como integrante do Tremonti. O músico fez recentemente uma turnê abrindo para o Creed (banda ainda mais popular dos instrumentistas do Alter Bridge com o vocalista Scott Stapp), trouxe o cantor Myles Kennedy em carreira solo como convidado de sua nova excursão e ainda colocou o amigo para aparecer no videoclipe da faixa “The End”, em meio a um apocalipse zumbi.
Inicialmente, a respeito dos clipes divertidos do Mammoth, Wolfie cita sua grande influência: “Sempre admirei o Foo Fighters e a forma como eles faziam seus vídeos. Acho importante não se levar tão a sério: o que importa é se divertir no fim das contas. E vários artistas não fazem mais videoclipes assim, as pessoas estão gostando”. Em seguida, narra seu longo histórico junto ao Alter Bridge, iniciado como fã.
“Comprei o álbum Blackbird em 2007, sob recomendação de Morgan Rose, baterista do Sevendust. Fiquei impressionado, obcecado, inclusive pela produção — claro, Michael ‘Elvis’ Baskette [que viria a se tornar produtor do Mammoth] foi quem produziu. Os vocais de Myles, a instrumentação de tudo, o quão bom Myles é também como guitarrista, tocando como louco junto do Mark Tremonti. Um dia, estava em Delaware para um show com o Van Halen e eles tocaram na mesma noite e rua que nós. Fiz meu show e corri para ver o fim do show deles. Foi quando os conheci e mantivemos contato.”
Naturalmente, a amizade virou parceria artística, com a entrada de Wolfgang para o Tremonti. E a formação ao vivo do Mammoth também foi construída a partir deste universo.
“Foi na banda Tremonti que conheci Garrett Whitlock, meu baterista de turnês. Conheci Frank Sidoris, meu guitarrista de turnês, por ele ser membro do The Conspirators [projeto de Myles Kennedy com Slash, do Guns N’ Roses]. É uma grande família. Pude abrir para Slash, Myles & The Conspirators na minha época de Tremonti. Depois, o Mammoth abriu para o Alter Bridge, para o Creed e para o Slash, Myles & The Conspirators. É uma grande família feliz.”
E o Brasil?
Embora tenha sido — e ainda seja — popular em todo o globo, o Van Halen não era uma banda de turnês mundiais. Raramente excursionou fora da América do Norte. Por isso, vieram ao Brasil apenas uma vez, em 1983. Será que o Mammoth promete quebrar a escrita e visitar o país em algum momento?
“Com certeza”, responde Wolfgang, antes de elaborar:
“Sei que a questão mesmo é quando isso irá funcionar. Como somos uma banda nova, tudo depende de conseguirmos ir com algum outro artista — principalmente por causa dos custos envolvidos em ir para um lugar distante. Mas sei que isso definitivamente está em andamento e já faz algum tempo. Recebo constantemente comentários dizendo para ir ao Brasil.”
Curiosamente, o único integrante do Mammoth já teve o gosto de dividir o palco com um brasileiro. Em junho de 2023, ele participou de um show da formação atual do Pantera no festival português Evil Live ao lado de Max Cavalera, vocalista e guitarrista original do Sepultura, hoje no Soulfly, Cavalera Conspiracy e outros projetos. Wolfie admite não ser grande conhecedor da música produzida por aqui, mas rende elogios à maior banda brasileira de metal em todos os tempos.
“Não estou muito familiarizado com a música brasileira, mas amo Sepultura, além de Soulfly. Não há nada como ‘Roots Bloody Roots’, nada melhor do que isso. É com essa música que eu testo sistemas de som, sabe? O álbum Roots (1996) é muito importante para mim.”
*Ouça The End nas plataformas digitais — mammoth.lnk.to/TheEndAlbum.
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Fonte: rollingstone.com.br


