Pode até parecer que o Bangers Open Air, festival de heavy metal que acontece neste fim de semana em São Paulo, está em sua primeira edição. Na verdade, porém, o evento tomará o Memorial da América Latina pela terceira vez. As outras duas ocasiões se deram sob o nome Summer Breeze Brasil — e logo na estreia do evento, uma banda sueca escalada entre as atrações inaugurais, ainda sob o calor do início de tarde, roubou a cena. Era o H.E.A.T, que se escreve desse jeito apenas pelo charme estético (“heat” significa “calor” em inglês), não por se tratar de uma sigla.
Kenny Leckremo (voz), Dave Dalone (guitarra), Jimmy Jay (baixo), Don Crash (bateria) e Jona Tee (teclados) compõem o grupo de sonoridade fortemente direcionada ao hard rock dos anos 1980, especialmente a vertente mais melódica. Comparações com Bon Jovi e Whitesnake não são incomuns, mas há um molho próprio no som do quinteto — responsável, junto da forte presença de palco, por garantir a eles uma posição na lista de melhores shows do festival dois anos atrás.
É bem verdade que o H.E.A.T, estreante tal qual o Summer Breeze em 2023, retorna ao Brasil para tocar, também, na faixa do início da tarde. Não surpreenderá, porém, se reunir um volume ainda maior de público na frente do Hot Stage, um dos palcos principais do evento, no sábado, 3, segundo dos três dias de show.
Em bate-papo com a Rolling Stone Brasil, Jona Tee, também um dos principais compositores e produtor dos álbuns mais recentes, conta que a realização daquele show de 2023 representou quase uma “operação de guerra”. A banda só pousou no Brasil no dia da apresentação, devido a um voo atrasado da Alemanha.
“Chegamos ao hotel por volta das 8h da manhã, dormimos uma hora, fomos direto para o festival às 11h, montamos tudo e fizemos o show. Fomos aos bastidores, tomamos uns drinks e conhecemos fãs incríveis. Na mesma noite, voamos para Buenos Aires.”
O novo velho vocalista
Desta vez, o cenário é de maior tranquilidade não apenas pela logística. O H.E.A.T chega com seu segundo álbum desde o aprovadíssimo retorno de Kenny Leckremo, Welcome to the Future, lançado na última sexta-feira, 25. Se havia alguma insegurança com a presença do frontman em 2023, caiu por terra com a aprovação unânime daquela performance.
A história do vocalista, diga-se, é curiosa: era ele o titular da vaga no momento da fundação do grupo em 2007, mas após três anos e dois discos, ele saiu para tratar uma rara condição cardíaca que o levava a ter taquicardia. Erik Grönwall entrou em seu lugar, gravou mais quatro trabalhos e permaneceu até 2022, quando também se afastou devido a questões de saúde. Quem o substituiu? O próprio Leckremo, que, cá entre nós, hoje soa muito melhor do que nos tempos iniciais.
Ao falar sobre o “novo velho” vocalista, Jona Tee não poupa elogios. Para o tecladista, Kenny Leckremo “é um monstro”, “raramente tem um dia ruim” e “sempre está cheio de energia”.
“Ele também é ótimo no estúdio. Só é um pouco lento ao fazer a parte dele, mas o que ele entrega é incrível. Na estrada, é muito consistente, cuida de si mesmo, fazendo exercícios e tudo o mais. Lá atrás do palco, eu e os outros podemos ficar de ressaca que ninguém vai notar.”
E o que mudou no frontman nesta segunda passagem em comparação à primeira? De acordo com Tee, Leckremo está “muito mais humilde agora”.
“Ele não estava em um bom momento quando saiu. Ficou afastado por mais de 10 anos e em algum momento pareceu ter se encontrado. Eu sei que ele queria voltar. Mesmo antes, quando Erik ainda estava na banda, ele mandou uma mensagem dizendo que queria retornar. Falei que já tínhamos Erik, que ficou um pouco cansado da banda e quis fazer outras coisas. Foi uma transição tranquila, muito boa para todos. E Kenny estava esse tempo todo esperando, entrando em forma e cantando muito.”
Bem-vindo ao futuro?
Convidado a falar sobre Welcome to the Future, Jona Tee descreve o novo álbum como um sucessor natural de Force Majeure (2022), primeiro álbum desde a volta de Kenny, e H.E.A.T II (2020), o último com Grönwall. Aqui, não há experimentos sonoros: é hard rock melódico como manda a cartilha, dos acertos às repetições de clichês. Jona, inclusive, revela acreditar que o disco recém-lançado traz “um pouco mais de música dos anos 1980” — como se fosse possível — e “algumas canções mais dramáticas”.
Deste trabalho, o repertório do show no Bangers deve trazer “Disaster”, “Bad Time for Love” e talvez alguma outra canção; possivelmente “Call My Name”, que ganhou videoclipe mais recentemente. De resto, há grandes chances de o quinteto promover um passeio por sua já robusta discografia de oito álbuns, tocando faixas de quase todos eles, exceção feita ao patinho feio Into the Great Unknown (2017), mal recebido por exagerar justamente nos experimentos.
Se o som do H.E.A.T tem pouco de futuro, dada a proposta saudosista, seus integrantes olham mais para frente do que para trás. Tanto que Jona fica surpreso ao ser informado de que a banda está completando 18 anos de existência. Instigado a refletir sobre essa trajetóri
Fonte: rollingstone.com.br