O relançamento de Toy Story, animação pioneira da Pixar e do CGI, às telonas a partir desta quinta-feira, 11 de setembro, celebra seus 30 anos em um momento no qual franquias e continuações dominam o cinema e as bilheteiras. Revisitar 1995 — quando o estúdio de animação ainda engatinhava no quesito longas-metragens, prestes a completar 10 anos de existência — é uma oportunidade rara de voltar à origem de tudo e perceber, três décadas depois, como as animações, as histórias e até as expectativas eram mais simples.
Mesmo direta, a história é encantadora: Woody, o brinquedo favorito de Andy, enfrenta ciúme e insegurança quando surge Buzz Lightyear, um astronauta moderno que ameaça roubar seu lugar como brinquedo predileto. Mas o conflito vai além da disputa entre brinquedos; é uma fábula sobre amizade, pertencimento, medo da substituição e a necessidade de se reinventar. Woody e Buzz atravessam aventuras que vão do quarto de Andy às ruas da vizinhança, desenvolvendo uma amizade inesperada.
Nos últimos anos, assistir a uma estreia da Pixar virou sinônimo de “prepare-se para se debulhar em lágrimas”: o emocionante clipe da vida de casados de Carl e Ellie em Up – Altas Aventuras (2009) ou a canção “Lembre de Mim” em Viva – A Vida é Uma Festa (2017) são exemplos marcantes. Mas este primeiro Toy Story nos lembra que, originalmente, a ideia era diferente: divertir e fazer rir — sem perder a leveza e a ingenuidade. Essa simplicidade, hoje rara, faz falta no cinema contemporâneo.
Aliás, se hoje o cinema — e até parte do público — parece valorizar a discussão de “temas importantes”, aqui ela inexiste. Toy Story não aborda grandes questões sociais, tampouco depende de tendências da mídia, elementos externos ou memes — que sequer existiam na época como são propagados hoje em dia: a história se basta por si só. É uma aventura entre brinquedos, capaz de capturar a imaginação de crianças e adultos, usando o CGI de forma lúdica para dar vida a esse universo.
O que torna Toy Story atemporal não é apenas a tecnologia pioneira para a época — que, mesmo hoje, mantém um charme nostálgico —, mas a riqueza emocional dos personagens. Woody é carismático, mas falho, movido pelo orgulho e pela insegurança; Buzz, inicialmente arrogante, descobre sua própria vulnerabilidade e aprende o valor da amizade. Essa humanização, mesmo em bonecos, transforma cada cena em algo universalmente reconhecível e profundamente tocante.
O que poderia ser apenas um conto infantil se transforma, nas mãos da Pixar e do diretor John Lasseter (Vida de Inseto), em uma história capaz de encantar todas as idades. Cada brinquedo ganha personalidade, medos e desejos próprios, e é essa humanização que torna a narrativa universal, atemporal e profundamente cativante. A força de Toy Story está justamente em sua descomplicação: não precisa de mensagens complexas ou grandes temas para transmitir valores como amizade, empatia e cooperação.
Trinta anos depois, Toy Story continua a divertir, mantendo seu lugar como clássico absoluto. O legado da franquia é fascinante: novos brinquedos chegaram, os personagens evoluíram, mas a inocência e ingenuidade do primeiro filme permanecem arrebatadoras e relevantes. Revisitar este clássico é lembrar que, às vezes, menos é mais — e que a magia está em contar histórias com honestidade, coração e imaginação, sendo capaz de atravessar gerações sem perder seu encanto.
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Angelo Cordeiro é repórter do núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo. Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas, escreve sobre filmes desde 2014. Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Pisciano, mas não acredita em astrologia. São-paulino, pai de pet e cinéfilo obcecado por listas e rankings.
Fonte: rollingstone.com.br