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Terceira eleição em três anos: Portugal se tornou ingovernável?


Neste domingo (18), a população de Portugal vai às urnas para eleger os 230 deputados da Assembleia da República e, indiretamente, o primeiro-ministro do país.

Será uma eleição antecipada, porque em março o governo de Luís Montenegro, da conservadora Aliança Democrática (AD), foi derrubado ao ter uma moção de confiança rejeitada no Parlamento, depois de um escândalo de acusações de conflito de interesses relacionadas a uma empresa da família do primeiro-ministro.

Montenegro está no cargo desde 2 de abril de 2024, após a AD ter vencido eleições legislativas antecipadas no mês anterior: ele substituiu o socialista António Costa, que renunciou após acusações de corrupção.

Em janeiro de 2022, já haviam sido realizadas eleições antecipadas, depois que o orçamento proposto pelo Partido Socialista (PS) foi rejeitado pela Assembleia da República. Com a terceira eleição legislativa em menos de três anos e meio, fica a pergunta: Portugal se tornou ingovernável?

As pesquisas indicam que a eleição deste domingo terá um resultado parecido com o de 2024: a AD como vencedora, mas sem ter sozinha maioria na Assembleia da República, o PS em segundo e o partido de direita nacionalista Chega em terceiro.

Confirmado esse cenário, o impasse político permaneceria, porque Montenegro descartou em declarações em abril formar coalizão com o PS ou com o Chega.

O premiê disse que a AD não tem “propostas que sejam convergentes” com os socialistas, embora não tenha descartado “um ou outro entendimento que seja bom para o país”, e disse que não há chance de parceria com a direita nacionalista porque esta não teria “nem postura, nem maturidade para assumir essa responsabilidade”.

A crise política gera desilusão no povo de Portugal: uma pesquisa divulgada pelo jornal Diário de Notícias em abril de 2024, quando a Revolução dos Cravos completou 50 anos, mostrou que 51% dos entrevistados estavam insatisfeitos com o estado da democracia portuguesa e 67% disseram que os políticos não estão preocupados com os interesses da população.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Igor Lucena, economista, especialista em relações internacionais e CEO da Amero Consulting, disse que não acredita que Portugal esteja se tornando ingovernável.

Na opinião dele, o país está num momento de transição do bipartidarismo para um cenário político com uma terceira via, como também parece estar acontecendo no Reino Unido, onde o partido de direita nacionalista Reforma Reino Unido cresce como alternativa aos tradicionais conservadores e trabalhistas.

Para Lucena, caso a AD vença novamente em Portugal, a aliança terá mais governabilidade, mesmo sem formar maioria parlamentar.

“Isso mostraria que, apesar da queda [do governo em março], a população portuguesa chancela mais uma vez a centro-direita. Eu acho que a partir daí fica muito difícil para a centro-esquerda querer barrar o governo ou tentar de novo outras eleições, quando está nítido na sociedade que ela quer o avanço do PSD [Partido Social Democrata, legenda de Montenegro e um dos integrantes da AD]”, argumentou.

A respeito da recusa de Montenegro em formar coalizão com o Chega, Lucena afirmou que a direita nacionalista na Europa é “um movimento que veio para mostrar que está aí” e que “o medo de um novo 1936” (ano da criação do Eixo Roma-Berlim, a aliança entre a Alemanha nazista e a Itália fascista) não faz sentido.

“O maior exemplo foi a Itália, a própria [primeira-ministra] Giorgia Meloni, o [partido dela] Fratelli d’Italia era um partido chamado de extrema direita; quando chegou ao poder, se pragmatizou, se juntou a outros partidos e hoje está tendo uma das maiores estabilidades da Europa, proporcionando uma volta do crescimento econômico na Itália e sendo visto como um partido que deu certo”, disse o especialista.



Fonte: Revista Oeste

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