Em entrevista exclusiva, o deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) fez uma leitura crítica sobre o cenário político nacional com vistas a 2026. Defensor de bandeiras conservadoras e se definindo como “ideológico”, o parlamentar gaúcho vê Jair Bolsonaro (PL) como peça central do tabuleiro, mesmo que inelegível, e rechaça a possibilidade de uma terceira via viável. Marcon não poupou palavras para descrever a tentativa de articulação de nomes como Michel Temer (MDB) e os governadores do centro, classificando a movimentação como um “balão de ensaio”. Confira os principais trechos da conversa:
Entrelinhas: Deputado, como o senhor avalia a movimentação recente de Michel Temer, que voltou a comentar a política nacional e falou sobre superar a polarização entre Lula e Bolsonaro?
Marcon: O Temer não concorre mais. Ele terminou seu mandato, fez boas coisas — é bom que a gente reconheça — com reformas importantes, mas ele não tem apreço popular. Conversando com as pessoas, a gente vê que o Temer seria engolido. O papel dele hoje é mais de articulação. O que pode acontecer é ele puxar o MDB para fora de uma eventual candidatura à reeleição do Lula. Isso, sim, enfraquece muito o PT. Porque aí o Lula pode acabar indo sozinho para a eleição, sem apoio significativo. E isso muda completamente o cenário.
Entrelinhas: Isso não fortalece a ideia de uma terceira via?
Marcon: Olha, isso tudo é balão de ensaio. Jogam para ver se cola. Tentam construir uma candidatura de centro-direita, mas sem apoio de Bolsonaro, não tem a menor chance. Pode esquecer. Se o Bolsonaro apoiar uma planta, essa planta vai para o segundo turno. Um nome do centro sem ele não prospera.
Entrelinhas: O senhor não acredita na ideia de “caminho do meio”, de centro político?
Marcon: Isso é balela. A grande imprensa tenta vender essa ideia, mas quando você vai conversar com as pessoas de verdade, ninguém diz “ah, veja bem, tem que ver os dois lados”. Todo mundo tem posição. O mundo é dividido entre bem e mal, esquerda e direita. Como na minha cidade, onde tem Juventude e Caxias, não tem meio-termo. Como diz a Bíblia: os mornos Deus vomita. Então, essa tentativa de centro, de consenso, não engana mais. O povo quer alguém com posição clara.
Entrelinhas: E essa radicalização que o senhor menciona, ela é saudável?
Marcon: Sim. É bom que as pessoas discutam política, que saibam quem defende o quê. Eu sou contra o aborto, contra as drogas, contra a destruição da família. Se isso me torna radical, então tudo bem. Porque ser radical, para mim, é ter posição. E grande parte da população é assim também. Radicalismo não é violência. É convicção.
Entrelinhas: E o senhor vê o ex-presidente Lula como candidato em 2026?
Marcon: Eu tenho uma tese que compartilho com alguns amigos: se a popularidade do Lula continuar como está, ele não concorre. O ego dele não permite o risco de sair derrotado. Ele quer manter a narrativa de quem saiu da cadeia e venceu. Uma derrota agora encerraria a carreira dele por baixo. E olha, com o cenário atual — crise no INSS, desemprego subindo, CPMI mostrando que o governo sabia dos problemas — o desgaste só aumenta.
Entrelinhas: E se Lula concorrer mesmo assim?
Marcon: Aí a eleição vai ser entre o candidato do PT e um nome apoiado por Bolsonaro. Talvez a Michelle, talvez o Tarcísio. O PDT pode lançar o Ciro, o PSOL pode querer se separar do PT… Mas tudo isso fragmenta o campo da esquerda. O centro tenta vir com esses nomes que não se sustentam. A verdade é que sem o Lula, a esquerda fica sem rumo. E sem o Bolsonaro, a direita também.
Entrelinhas: Há governadores tentando construir uma alternativa a Bolsonaro, caso ele continue inelegível. Isso é viável?
Marcon: Não vejo viabilidade. O próprio Tarcísio já disse que não existe direita sem Bolsonaro. O Zema é outro que tem se alinhado fortemente com o presidente. Nomes como Caiado ou Ratinho Jr. até são lembrados, mas não se sustentam sem o apoio direto dele. Essa articulação é, de novo, um teste. Mas não passa disso. Bolsonaro é o maior líder da direita brasileira. Assim como a esquerda não consegue substituir o Lula enquanto ele estiver vivo, a direita não tem substituto pro Bolsonaro.
Entrelinhas: O senhor acredita que o presidente Jair Bolsonaro voltará a ser candidato?
Marcon: Eu ainda tenho esperança. Porque subir num caminhão de som no 7 de setembro e se reunir com embaixadores não é motivo pra cassação de direitos políticos. Ele lidera todas as pesquisas. E o povo sente saudade dele. O governo tenta destruir essa imagem, mas não consegue. O Bolsonaro ainda é o maior nome da política brasileira.
Entrelinhas: O senhor deve migrar para o PL, partido de Jair Bolsonaro, após a fusão do seu atual partido, o Podemos, com o PSDB?
Marcon: Já conversei com o Bolsonaro e o PL é o partido que mais se alinha com as bandeiras que eu defendo. Eu sou ideológico, não me elejo por causa de emenda ou cargo, eu me elejo pelas minhas posições, pelas minhas convicções, e tenho mantido isso aqui na Câmara. O PL é onde essas convicções estão mais bem representadas hoje.
Fonte: Revista Oeste