A revista britânica The Economist, em reportagem publicada nesta sexta-feira (25), afirmou que o tarifaço de 50% que deve ser imposto às importações do Brasil, assim como a revogação de vistos de autoridades pelo governo americano, é uma “chocante agressão” do presidente Donald Trump e representa a maior interferência dos Estados Unidos na América Latina desde a Guerra Fria.
A revista classifica os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos como “adversários ideológicos” e afirma que o tiro de Trump está saindo pela culatra em razão de “brasileiros de todos as origens estarem apoiando Lula”.
“Imagens de Trump foram queimadas nas ruas. O índice de aprovação de Lula, que vinha caindo, se recuperou. Ele agora lidera o grupo de potenciais candidatos para a corrida eleitoral do ano que vem”, afirma o texto.
Para a The Economist, “o gatilho para o ataque de Trump parece ter sido a cúpula dos Brics, um grupo de países emergentes, que o Brasil sediou nos dias 6 e 7”.
O evento em questão, ocorrido no Rio de Janeiro, contou com a participação online do ditador Vladimir Putin, que defendeu a desdolarização, a autoridade do bloco e a ideia de que o modelo de globalização liberal está ultrapassado.
A reportagem cita a investigação em curso de tentativa de golpe de Estado contra Jair Messias Bolsonaro (PL) — que é apontado pela revista como “ex-presidente de extrema direita” — e define as medidas restritivas propostas pelo Supremo Tribunal Federal como “agressivas também”.
O texto indica que o Congresso Nacional “controlado por partidos de direita se uniu em torno de Lula e está cogitando tarifas retaliatórias”.
A revista afirma que as tarifas impostas pelos Estados Unidos “provavelmente recairão desproporcionalmente sobre empresas sediadas em regiões que são redutos de Bolsonaro”.
“É revelador que a confederação de agricultores do Brasil, geralmente leal a Bolsonaro, tenha condenado a ‘natureza política’ das tarifas de Trump. Até mesmo Bolsonaro tentou se distanciar. Ele afirma que as tarifas ‘não têm nada a ver conosco.'”
A reportagem cita a investigação dos Estados Unidos com base na Seção 301, que apura possíveis práticas comerciais desleais cometidas pelo Brasil e mira o Pix. A revista afirma que “os brasileiros estão particularmente irritados com a ideia de que o governo Trump possa atacar” o sistema de pagamento brasileiro.
“O Pix estimulou a concorrência no setor bancário brasileiro, antes decadente, ao oferecer infraestrutura de baixo custo para que empresas iniciantes possam fornecer serviços financeiros com facilidade”, descreve a publicação britânica.
Brazilians of all stripes are backing their president amid attacks from Donald Trump. Luiz Inácio Lula da Silva’s approval rating, which had been flagging, has now perked up https://t.co/jcrEMp7nCS
— The Economist (@TheEconomist) July 25, 2025
Sobre as investigações de possíveis práticas comerciais desleais, a The Economist afirma que a ação “tem mérito”, mas não é a “real preocupação” do presidente Trump.
“O governo brasileiro tenta contatar a Casa Branca desde maio para negociar um acordo comercial, mas seus apelos têm sido ignorados”, argumenta.
No final da reportagem, a revista afirma que Lula está “revigorado pela disputa” e menciona o característico boné azul do presidente: “O Brasil é dos brasileiros”.
Entretanto, reconhece que, de acordo com um ex-diplomata, “os assessores de Lula temem que o impulso não dure”: “Se as tarifas entrarem em vigor e a crise econômica se instalar, Lula terá dificuldade em atribuir toda a culpa a Bolsonaro”.
“A questão é quem, aos 79 anos, recuará primeiro: o impetuoso Trump ou o obstinado Lula”, finaliza a The Economist.
Fonte: Revista Oeste