O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu nesta segunda-feira (18) que o Brasil deveria entregar “algumas vitórias” ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para negociar o tarifaço. A sobretaxa de 50% imposta pelo republicano ao país entrou em vigor no último dia 6.
“Acho que é fundamental compreender um pouco do estilo do presidente americano. É um presidente que vive da economia da atenção. Que gosta de sentar com o chefe de Estado, botar sentado e dizer: ‘Olha, consegui uma vitória’. E ele está querendo colecionar vitórias. Então, por que não entregar algumas vitórias?”, disse o governador durante um evento promovido pela corretora Warren Investimentos, em São Paulo.
O governo dos EUA citou uma série de motivos que levaram a definição do tarifaço contra o Brasil. Entre os principais estão: o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe de Estado; as decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contra big techs; e práticas comerciais consideradas desleiais, como o uso do Pix.
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Tarcísio disse que uma possível “vitória” para Trump seria o Brasil deixar de comprar combustível da Rússia, parceira do país no Brics. “A gente tem, na nossa relação com a Rússia, por exemplo, a compra de diesel, a compra de fertilizante. O fertilizante é absolutamente necessário. O diesel, nem tanto. A gente não precisa do diesel que vem da Rússia para nada. Então, será que não posso fazer um gesto nesse sentido?”, questionou.
Ele disse ainda que investimentos de empresas brasileiras nos Estados Unidos também representariam um sucesso para Trump. “Então, a gente pode começar a dar algumas vitórias. A gente pode começar uma negociação e entregar essa vitória”, afirmou.
O governador avalia que, se o Brasil ceder, pode conseguir avançar na negociação. “Se a gente consegue reduzir a tarifa, eu tiro a tarifa, volto para o patamar anterior no setor de máquinas e equipamentos, no café, no pneu, na proteína animal, no pescado, a gente vai ter uma vitória”, disse.
O governo federal enfrenta resistência na negociação com os EUA. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, relatou que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, cancelou uma reunião para debater o tarifaço.
No dia em que o encontro deveria ter ocorrido, Bessent recebeu o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o jornalista Paulo Figueiredo, que articulam sanções contra Moraes e outras autoridades brasileiras e demonstraram apoio às restrições econômicas de Trump.
No início de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que Trump não quer conversar para negociar uma possível resolução do tarifaço. Por isso, o petista disse que não pretende se “humilhar” tentando entrar em contato com o americano.
“Um presidente não pode ficar se humilhando para outro. Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, afirmou Lula em entrevista à agência de notícias Reuters, em 6 de agosto.
Durante o evento da Warren Investimentos, Tarcísio voltou a criticar a postura do presidente. “Obviamente a gente tem de forçar a barra agora para falar, negociar. Eu acho que não é humilhação para ninguém, para nenhum chefe [de Estado]”, disse o governador.
Fonte: Revista Oeste