Nesta quinta-feira (24), a violência explodiu novamente no sudeste asiático, com ataques da Tailândia contra alvos militares do Camboja, que, segundo Bangkok, teria retaliado com ofensivas contra áreas civis.
Os dois países já tiveram outros momentos de confronto de um século para cá, devido a disputas fronteiriças que tiveram início quando o Camboja ainda era uma colônia da França, como parte da então Indochina.
Desta vez, as tensões foram reavivadas porque na quarta-feira (23) cinco militares tailandeses foram feridos por minas terrestres (que Bangkok alegou serem recentes) na região de fronteira durante uma patrulha, e um deles perdeu uma perna.
A Tailândia fechou sua fronteira com o Camboja, retirou seu embaixador do país vizinho e expulsou o embaixador cambojano. Até agora, o Ministério da Saúde da Tailândia informou que pelo menos 12 pessoas (11 civis e um soldado) foram mortas nos confrontos iniciados nesta quinta-feira.
Não se sabe até onde o conflito pode escalar e se potências mundiais poderão intervir, mas uma tentativa de intermediação da China é dada como certa.
Segundo o relatório Balanço Militar 2025, do think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) e que teve trechos divulgados pela CNN, os Estados Unidos consideram a Tailândia um importante aliado não pertencente à Otan, o que se manifestou em décadas de apoio americano para seus programas de armas.
Porém, destacou o IISS, Bangkok estreitou laços com a China nos últimos anos, o que incluiu a compra de armamentos, e desenvolveu uma forte indústria nacional de armas com a ajuda de países como Israel, Itália, Rússia, Coreia do Sul e Suécia, tendo hoje uma capacidade militar bem superior à do Camboja, que também é parceiro chinês.
“A China é o único mediador externo viável porque tem influência direta sobre o Camboja e também sobre a Tailândia”, afirmou Tita Sanglee, pesquisadora associada do Instituto de Estudos do Sudeste Asiático (Iseas) – Instituto Yusof Ishak, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
A especialista alertou, entretanto, que a China tem uma ligação maior com o Camboja, o que pode gerar desconforto entre as autoridades de Bangkok. “Os países vizinhos, que já estão preocupados com o domínio da China na região, também podem se sentir desconfortáveis com a atuação de Pequim”, disse Sanglee.
Nos últimos anos, a China tem buscado exercer o papel de mediadora internacional – em 2023, marcou um gol geopolítico ao intermediar o restabelecimento das relações entre Arábia Saudita e Irã, após sete anos de rompimento.
Entretanto, seu viés (além de seu histórico de desrespeito aos direitos humanos) é considerado um empecilho, como mostra o caso do Camboja – nesta quinta-feira, órgãos de imprensa tailandeses chegaram a noticiar que o ex-primeiro-ministro Hun Sen, atual presidente do Senado cambojano e do Conselho Consultivo Supremo do Rei, teria fugido para a China, mas um site local afirmou que ele segue no país e está comandando operações militares ao lado do primeiro-ministro Hun Manet.
“Estamos profundamente preocupados com os acontecimentos em andamento e esperamos que os dois lados abordem as questões adequadamente por meio de diálogo e consultas”, disse nesta quinta-feira o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, em uma entrevista coletiva em Pequim.
Ele acrescentou que a China “continuará a desempenhar um papel construtivo na promoção da paz e do diálogo para ajudar a aliviar as tensões”.
Fonte: Revista Oeste