O System of a Down terá, em 2025, seu ano mais produtivo em uma década. A banda realiza 15 apresentações, a maior parte delas na América do Sul. Especificamente no Brasil, haverá cinco shows: um em Curitiba, outro no Rio e três em São Paulo.
Não quer dizer, porém, que o grupo de metal armênio-americano esteja de volta em definitivo. Ao menos de acordo com John Dolmayan.
O baterista foi perguntado, em entrevista a Lilian Tahmasian (via Blabbermouth), se há alguma chance de o SOAD gravar novos álbuns. Desde 2005, a banda lançou apenas dois singles: “Protect the Land” e “Genocidal Humanoidz”, em uma ação beneficente. Em resposta, Dolmayan declarou que “há muito drama envolvido” especialmente na parte criativa. Ele afirmou:
“Não sei se quero [um novo álbum do System of a Down] neste momento. Há muito drama envolvido. E eu gosto de sair e me divertir com meus amigos e fazer shows. E não quero que isso desapareça. Teria que haver diretrizes muito rígidas para que eu fizesse outro disco com o System novamente.”
Tendo ou não regras criativas estabelecidas, Serj Tankian (voz), Daron Malakian (guitarra), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria) parecem estar em um bom momento conjunto. Em entrevista ao radialista Eddie Trunk (via site Igor Miranda), Odadjian revelou que ele e seus colegas agora estão “na mesma sintonia” — algo que não acontecia há quase uma década —, o que viabilizou os shows anunciados para 2025.
“Não temos tocado muito juntos ultimamente. Desde 2017, temos feito um ou dois shows por ano. Então, os relacionamentos não estavam tão bons quanto estão agora. Basicamente, todo mundo não estava na mesma sintonia. Mas conversamos e agora está tudo ótimo. Todos estão na mesma página e todo mundo está feliz. Por isso, decidimos testar e fazer mais alguns shows. E é só isso.”
Tretas internas no System of a Down
Por outro lado, há de se reconhecer que o System of a Down oferece pouco a seus fãs. O que faz um grupo tão popular produzir em rotação baixa assim?
Em entrevista de 2020 ao jornalista Eddie Trunk (via Ultimate Guitar), John Dolmayan ligou o modo “sincerão” ao apontar os principais problemas internos do projeto — que chegou a lavar roupa suja em público tempos antes, após o guitarrista Daron Malakian ter acusado o vocalista Serj Tankian de “empacar” as atividades.
De acordo com Dolmayan, o System of a Down é “disfuncional”, já que existe, mas ao mesmo tempo em que as carreiras solos dos envolvidos estão nos holofotes. O baterista acha que nenhum integrante deveria ter tempo para outros projetos, somente para o SOAD.
Por outro lado, ele reconhece que a relação entre os músicos não é mais a mesma — e está tudo bem. A questão é que as pessoas no entorno acabam tomando algum lado. Para os envolvidos diretamente na briga, é importante não se deixar levar pelo que falam.
“Você terá brigas e o resultado é: quanto maior a banda, mais as pessoas dizem que você é ótimo, que seu papel é o mais importante. Alguns ouvem isso mais do que outros e se apaixonam por suas próprias ideias.”

As personalidades diferentes dentro do SOAD foram apontadas por Dolmayan. Porém, o baterista disse que o grupo, inicialmente, tinha uma mentalidade “um por todos, todos por um” que acabou sendo perdida.
“Eu era amigo dos caras antes de estar na banda, mas como tudo na vida, quanto mais dinheiro e fama você tem, mais complicado isso se torna. De alguma forma, você perde a mentalidade que te fez chegar a isso, que é ‘nós contra todos’. Acontece em toda banda. Costumávamos ser nós contra todo mundo, certo? Pensamos como: temos algo a provar, vamos fazer nossas músicas, estamos lutando, não temos grana… é isso que fortalece.”
Situação única no mercado
John Dolmayan ainda mostrou ter uma visão de mercado curiosa — e certeira — com relação ao System of a Down. O baterista destacou que há cada vez menos grandes bandas de rock em atividade, já que o estilo não se renovou da forma esperada, a ponto de não haver tantos grupos capazes de lotar uma arena com dezenas de milhares de fãs. Mesmo não tendo tanta concorrência, o SOAD não consegue se ajeitar.
“No começo, sabíamos que conseguiríamos lotar um lugar com 3 mil pessoas, mas tocávamos no lugar de 2 mil pessoas e criamos um frenesi em torno daquele show. Também acho que não há tantas bandas para entrar nesses festivais. Há mais festivais e menos bandas chegando para atrair 50 mil a 70 mil pessoas. Então, precisamos das mesmas bandas. Nos últimos 20 anos, isso diminuiu, porque as gravadoras não investem mais em bandas como nós. […] Tudo foi perfeito para nós. Porém, não há tantas bandas de rock ou metal surgindo agora. Isso pode mudar, é cíclico.”
Questões de ego
Em outra entrevista, ao podcast Drinks with Johnny, John Dolmayan deixou claro que o único responsável pelo System of a Down estar na condição atual é seu conjunto de integrantes. Então, cabe à própria banda resolver seus problemas.
“Tivemos enorme sucesso um com o outro, então, o ego atrapalha muito, seja nos relacionamentos ou nos negócios, e, às vezes, você perde de vista o motivo pelo qual começou a fazer música junto com aqueles caras. Especialmente na música, as pessoas perdem o foco. É preciso perdoar algumas coisas, sabe? Deixe para trás e siga em frente. O System não conseguiu fazer isso ainda. Temos algumas coisas que entraram no caminho.”

Apesar do distanciamento natural com o passar dos anos, a relação entre os músicos é, segundo Dolmayan, boa. O baterista se dá bem com Serj Tankian, Daron Malakian e o baixista Shavo Odadjian.
“Sou o melhor quando estou com Serj, Daron e Shavo. Nada que eu faço na música vai se comparar a isso. Estou ciente, admiro isso. Tenho, na minha opinião, uma das melhores bandas de shows no mundo. Com todo o respeito a todos, somos o System of a Down. É como vejo isso.”
Daron Malakian vs. Serj Tankian
Em 2018, Daron Malakian disse à revista Kerrang! que Serj Tankian já queria sair do System of a Down antes de 2006. O vocalista sequer desejava participar dos álbuns finais, Mezmerize e Hypnotize, ambos de 2005.
“Bandas são como marcas, suponho, e isso é um pouco frustrante para mim. Para ser honesto, Serj não queria nem mesmo gravar Mezmerize e Hypnotize. Realmente o imploramos para que fizesse esses discos. Naquela época, ele já sentia que estava fora. Há uma maneira específica que o System faz os discos e alguns de nós quer fazer um álbum, enquanto há um (Serj Tankian, embora seu nome não seja citado nesse momento) que não quer fazer dessa maneira e quer fazer do jeito dele. E nem todos concordam com isso. Esse tem sido o problema.”
Diante disso, Tankian publicou uma longa resposta em carta na internet. O vocalista reforçou que foi ele mesmo o responsável pelo hiato da banda e justificou com questões artísticas (“sempre tive a sensação que continuar fazendo a mesma coisa com as mesmas pessoas é artisticamente redundante”) e democráticas (“Daron passou a monopolizar o processo criativo e financeiro, sem contar que ele yrqueria ser o único a aparecer na mídia”). Ele alegou ter pedido mais espaço no grupo, mas acabou não sendo atendido.
Shows do System of a Down em 2025
- 24 de abril de 2025: Bogotá, Colômbia (Estádio El Campín);
- 27 de abril de 2025: Lima, Peru (Estádio Nacional do Peru);
- 30 de abril de 2025: Santiago, Chile (Parque do Estádio Nacional do Chile);
- 3 de maio de 2025: Buenos Aires, Argentina (Estádio Vélez Sarsfield);
- 6 de maio de 2025: Curitiba, Brasil (Estádio Major Antônio Couto Pereira);
- 8 de maio de 2025: Rio de Janeiro, Brasil (Estádio Nilton Santos Engenhão);
- 10, 11 e 14 de maio de 2025: São Paulo, Brasil (10 e 11 no Allianz Parque, 14 no Autódromo de Interlagos);
- 27 e 28 de agosto de 2025: East Rutherford, Estados Unidos (MetLife Stadium; com Korn);
- 31 de agosto e 1º de setembro de 2025: Chicago, Estados Unidos (Soldier Field; com Avenged Sevenfold);
- 3 e 5 de setembro de 2025: Toronto, Canadá (Rogers Stadium; com Deftones).
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Fonte: rollingstone.com.br