Desde a última vinda ao Brasil, no Rock in Rio de 2015, System of a Down passou por alguns momentos conturbados (especialmente com declarações dos integrantes sobre novas gravações): o baterista John Dolmayanpediu publicamente o retorno da banda, o vocalista Serj Tankiantestou positivo para covid-19 logo após o grupo retornar aos palcos, Dolmayan culpou Tankian pela falta de discos novos, o cantor disse que se desligou emocionalmente do projeto, entre outros. Porém, os artistas demonstraram que conseguiram superar as diferenças, tanto criativas quanto políticas, com os dois grandes shows realizados nos dias 10 e 11 de maio, no Allianz Parque, em São Paulo.
Com ingressos disputadíssimos (todas as datas na América do Sul, com exceção do “minifestival” no Autódromo de Interlagos, esgotaram as vendas em questão de minutos), o quarteto formado por Dolmayan, Tankian, Daron Malakian (guitarra) e Shavo Odadjian (baixo) desembarcou no continente para shows na Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Brasil.
No Brasil, após grande repercussão em Curitiba (no Estádio Couto Pereira) e Rio de Janeiro (Estádio Nilton Santos), a banda de nu metal armênio-americana chegou em São Paulo na reta final da turnê Wake Up! South America Stadium Tour.
O final de semana na capital paulista não foi lá dos melhores: temperaturas baixas e chuva predominaram. Porém, isso não foi problema algum para os integrantes do System of a Down ou para as 100 mil pessoas (50 mil no sábado, 50 mil no domingo) presentes no Allianz Parque.
Após Ego Kill Talent se apresentar às 19h30 (horário de Brasília), a banda liderada por Serj Tankian iniciou o show pontualmente às 21h, como estava marcado. A apresentação começou com “X“, música presente no aclamado disco de estúdio Toxicity (2001).
Apesar de um começo explosivo da banda, o público começou a realmente entrar no clima quando, logo na quarta música da noite, “Aerials” foi apresentada, com rodinhas punk (ou mosh, se preferir) se abrindo ao longo das duas pistas. Então, o quarteto emendou com a energizada “I-E-A-I-A-I-O“, que ao vivo é divertidíssima.
No palco, os quatro integrantes não decepcionam. Serj Tankian não se movimenta muito pelo palco quando canta, com uma expressão corporal mais tímida, mas gesticula as mãos para cima como um verdadeiro maestro – e até arrisca umas dancinhas vez ou outra. Ao vivo, a voz dele é impecável; parece que estamos ouvindo o som diretamente das gravações do disco, seja com a intonação normal ou os gritos e guturais.
Com seu chapéu e maquiagem característicos, Daron Malakian é um dos grandes destaques dos shows da banda. Ele faz várias caretas, anda de um lado para o outro e, além de ser um grande guitarrista, é um grande cantor ao vivo. Ponto para você, Daron!
Da mesma forma, Shavo Odadjian é muito carismático no palco, apontava sempre que podia para os fãs na frente do palco e fazia um ótimo apoio no baixo (e ainda vestia um par de tênis verde e amarelo). Já John Dolmayan não é aquele baterista performático que se joga de um lado para o outro conforme a batida, mas fica muito focado no complexo kit e supera qualquer expectativa.
Os telões do show do System of a Down também são muito bem resolvidos. Sem usar muitas imagens, a banda ainda conta com quatro painéis de LED retangulares, que ficam na parte de cima e complementam o visual, além de se moverem para baixo e para cima ao longo da apresentação.
O quarteto não falava muito com o público, mas Malakian chegou a reverenciar a multidão após a banda tocar “Psycho“. “Ah, sim, estamos aqui, System está aqui. Oh, São Paulo, dance, dance, dance“, disse o guitarrista momentos antes.
Na segunda metade do setlist, o grupo realizou alguns mini covers: “Every Breath You Take”, do The Police, antes de “Bounce” e “Careless Whisper”, do WHAM!, antes de “Lost in Hollywood” – ambos muito bem comandados pelo guitarrista.
O lado político da banda também não ficou fora. Apesar de não abordarem pautas explicitamente de direita ou esquerda, os artistas colocaram algumas mensagens nos telões durante a performance de “B.Y.O.B.“, como “sofrimento humano: agora em 4K“, “paz: adiada indefinidamente” e “sem abrigo, sem futuro, sem segurança“.
Em pleno Dia das Mães, Daron Malakian dedicou “Cigaro” para “minha mãe, todas as mães, sua mãe e todas as mães do mundo – e aos filhos da p***”. Então, ele reconheceu que usar uma música que diz “meu pau é bem maior que o seu” não era “a coisa mais legal de se dizer” em uma data como esta. Em seguida, eles tocaram “Roulette“, descrita pelo guitarrista como uma “música muito linda”.
O clima no Allianz Parque na noite deste domingo, 11, era de festa. Com um público protagonista do show, que acendeu diversos sinalizadores durante o hit “Toxicity“, os quatro integrantes pareciam realmente felizes. Durante “B.Y.O.B.“, Serj Tankian perguntou se o público estava se divertindo. Mal sabia ele que a diversão começou logo nos primeiros acordes de “X“.
Ingressos para o último show de System of a Down
Na próxima quarta, 14, System of a Down se apresentará no Autódromo de Interlagos em um minifestival, que também contará com AFI e Ego Kill Talent. Os ingressos estão disponíveis no site da Eventim.
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Fonte: rollingstone.com.br