Depois de uma jornada gamer de oito anos, marcada pelo ciclo de console mais longo da história da Nintendo, finalmente é hora de virar a página com o lançamento do Switch 2. O novo console híbrido, que funciona tanto como portátil quanto como sistema de mesa, assim como seu antecessor — tem uma grande missão pela frente.
Desde seu lançamento em 2017, o Switch original se tornou um verdadeiro fenômeno, com mais de 152 milhões de unidades vendidas (o que o coloca como o terceiro dispositivo de jogos mais vendido da história, atrás apenas do Nintendo DS e do PlayStation 2), revitalizando a companhia japonesa com lucros robustos e prestígio cultural. Se há dez anos muita gente acreditava que a Nintendo era coisa do passado, o sucesso do Switch a lançou em uma nova era dourada. Agora, é a coroa dela que está em jogo.
Pode até parecer um drama exagerado para o lançamento de um videogame, mas a leitura faz sentido. Com os jogos mobile transformando o hábito em algo onipresente, o público gamer nunca foi tão amplo. Mas, apesar do crescimento, a indústria parece ter atingido um certo platô. Os saltos geracionais que antes pareciam revolucionários, como ir de sons 8-bit em 1985 a mundos 3D renderizados em tempo real em uma década, hoje são cada vez mais sutis. Os jogos mais impressionantes de 2025 não são tão diferentes assim dos que jogávamos há 10 (ou até 20) anos.
Ou seja, não basta apenas lançar um novo hardware com especificações melhores e uma ou outra continuação de peso. É preciso ter um gancho real, algo que faça as pessoas largarem o celular e, mais difícil ainda, os jogos que elas já têm. Essa é a missão do Switch 2: conquistar uma atenção cada vez mais fragmentada, seja em casa ou na rua, e mantê-la pelo tempo que esse novo ciclo durar.
Quanto a isso, é difícil dizer se a Nintendo está realmente pronta para o desafio. Em muitos aspectos, parece garantido que o Switch 2 será um sucesso, ele é melhor, mais rápido e mais potente do que o original em todos os sentidos. Mas o console (que chega ao mercado por US$ 449,99) também soa como uma espécie de traição ao espírito mais essencial da Nintendo: o da inovação. É o primeiro dispositivo da história da empresa a carregar um nome com numeração simples, como uma sequência direta, e a mensagem é clara: trata-se de “mais do que você já gosta”, e não de algo totalmente novo. Ainda assim, é possível que isso baste.
O que é o Nintendo Switch 2?
Bem, o nome já diz muita coisa. O sucessor do Switch original se parece bastante com o modelo anterior. Essencialmente, é um tablet com tela sensível ao toque e dois controles que se encaixam nas laterais. No modo portátil, é um verdadeiro sonho para quem cresceu trocando pilhas em um Game Boy monocromático e parrudo.
A tela é um LCD enorme de 7,9 polegadas (um upgrade em relação às 6,2 do antecessor), que usa tecnologia HDR (alta faixa dinâmica) e resolução 1080p para entregar jogos em alta definição na palma da mão. Ela também é capaz de rodar a 120 Hz com taxa de atualização variável (VRR), o que permite que certos jogos aproveitem ao máximo o novo processador gráfico e a CPU turbinada, oferecendo movimentos mais suaves do que qualquer outro dispositivo da Nintendo até hoje.
Seus controles (chamados de Joy-Con) são destacáveis, o que significa que os jogadores podem usar o console apoiado em uma superfície no modo suporte (kickstand), ou entregar um dos controles para outra pessoa e jogar em modo multiplayer. Por dentro, os Joy-Con vêm equipados com todos os recursos que os jogadores modernos esperam: desde giroscópios para controles de movimento até HD Rumble aprimorado, que oferece um feedback tátil mais preciso (uma versão mais sofisticada da vibração tradicional).
Conectado à base (dock), o Switch 2 se liga a uma tela maior e aumenta sua potência de processamento para rodar jogos com resolução 4K em upscaling, colocando-o lado a lado com consoles mais robustos como o PlayStation 5 e o Xbox Series X, mas em uma fração do tamanho. Ainda há limitações: o Switch 2 representa um avanço significativo em relação ao seu antecessor, mas sua potência geral se aproxima mais da de um PlayStation 4 (lançado em 2013) do que dos consoles da geração atual.
Isso não quer dizer que ele seja fraco, longe disso. Com mais memória RAM e melhorias na arquitetura, o Switch 2 consegue rodar jogos como Cyberpunk 2077, um dos títulos de lançamento, que ficou famoso por travar miseravelmente no PS4 e no Xbox One. Jogar como uma versão em alta definição do Keanu Reeves em um console da Nintendo tem, nesse sentido, algo de quase revelador.
Em resumo, é basicamente um Switch turbinado. Mas o que ele pode não oferecer em termos de truques mirabolantes ou saltos quânticos na forma como as pessoas percebem os videogames, como aconteceu na transição do SNES para o Nintendo 64 ou com o Wii, ele compensa com mudanças sutis que representam algo novo para a Nintendo. Em vez de criar algo que o público nem sabia que queria, o Switch 2 entrega justamente muitas das coisas que ele já queria há tempos.
O que há de novo no Switch 2?
Do ponto de vista técnico, o Switch 2 representa um salto enorme em termos de potência. Embora a Nintendo tenha basicamente abandonado a briga corporativa por gráficos ultrarrealistas desde o Wii, lá em 2006, o fato é que a evolução visual nos últimos dois ciclos de consoles meio que estagnou e, com isso, os jogos rodando no Switch 2 acabam parecendo muito bons, até quando comparados a dispositivos mais parrudos. Mario Kart World e a versão turbinada de Tears of the Kingdom (de 2023) impressionam, com este último rodando a 60 quadros por segundo de forma suave como manteiga, um contraste gritante com a forma engasgada como o jogo se comportava no Switch original e já ultrapassado.

Mas nunca houve realmente dúvida de que os jogos desenvolvidos pela própria Nintendo teriam uma boa aparência. Com uma direção de arte inteligente e profundo conhecimento de sua própria tecnologia, os títulos da casa sempre souberam extrair o máximo de cada plataforma. O verdadeiro potencial aqui está na possibilidade de estúdios terceiros voltarem a lançar jogos para o ecossistema da Nintendo, algo que muitos abandonaram na era do Switch original, por conta das limitações do aparelho.
Embora não tenham sido fornecidas cópias para análise com tempo hábil para jogar até o fim, a Rolling Stone testou o Switch 2 em sessões práticas com jogos como Street Fighter 6, da Capcom, Split Fiction, da EA, e, de forma mais impressionante, Cyberpunk 2077, da CD Projekt Red, todos rodando com visual e jogabilidade surpreendentemente próximos de suas versões originais para outros consoles. Apesar de ainda ficarem um pouco abaixo na fidelidade gráfica, com menos detalhes de textura e iluminação em tempo real mais simples, todos funcionaram, o que, por si só, já é uma conquista, considerando o quão desastrosas foram as versões para o Switch original de jogos como Mortal Kombat 1.
Eles podem não ser a forma definitiva de jogar esses títulos, mas as versões para o Switch 2 chegam muito perto da experiência ideal — especialmente no modo portátil, sem que o jogador precise investir centenas ou milhares de reais a mais em consoles premium ou PCs de ponta.

As outras mudanças são mais sutis. O tamanho do console aumentou, mas sem afetar significativamente seu peso, uma ótima notícia para adultos de dedos longos que tinham dificuldade para jogar confortavelmente no Switch original ou mesmo no modelo OLED de 2021, um pouco maior. Com acabamento fosco e conectores magnéticos para os Joy-Con (em vez do encaixe tradicional dos antigos), tudo no Switch 2 transmite uma sensação de maior robustez, limpeza e sofisticação. Claramente inspirado em PCs portáteis como o ASUS ROG Ally e o Steam Deck, o Switch 2 parece menos um brinquedo e mais um dispositivo que um adulto usaria tranquilamente em público.
Os próprios Joy-Con também ganharam novas funcionalidades — embora haja algumas ausências notáveis, como a tão pedida adoção de alavancas com tecnologia Hall effect, mais modernas e duráveis, que poderiam ter resolvido o problema do drift que afetou o primeiro Switch. O HD Rumble está de volta, agora mais potente e ao mesmo tempo mais sutil. Em jogos como Nintendo Switch 2 Welcome Tour (uma espécie de demo técnica turbinada), o feedback tátil permite perceber vibrações de diferentes intensidades com bastante precisão. Em Mario Kart World, o motor dos karts vibra sob seus dedos. Nada disso é exatamente inédito, e não chega ao nível de imersão do DualSense Edge do PS5 —, mas ainda assim proporciona uma ótima experiência.
A maior novidade dos Joy-Con, no entanto, é inusitada e tem raízes na própria história da Nintendo. A qualquer momento, os controles podem ser apoiados sobre uma superfície, como uma mesa ou, surpreendentemente, o próprio joelho, e se transformam em um tipo de mouse apontador. A Nintendo já havia brincado com controles tipo mouse desde a época do SNES, mas aqui o recurso ganha múltiplas utilidades. Em jogos como Mario Party Jamboree, o modo “mouse” é usado em minigames como hóquei de mesa ou desafios baseados em física nos quais é preciso arrastar e empilhar objetos. Já em Metroid Prime 4, o jogador pode alternar entre os analógicos e uma mira de altíssima precisão, próxima da experiência em jogos de tiro para PC. Até mesmo navegar pelo menu do console fica mais suave, e você vai se surpreender com a frequência com que acaba usando o recurso (especialmente sobre o joelho).

A última grande novidade é o GameChat, e ela pode ser um divisor de águas. Basicamente, o GameChat permite que os jogadores se conectem com grupos de até quatro pessoas (em chamadas de vídeo) ou até 12 (em chamadas de áudio) para conversar e jogar juntos. O modo de áudio funciona apenas com o microfone embutido no console, mas, com a compra adicional da Nintendo Switch 2 Camera (vendida por US$ 54,99), os usuários podem se projetar virtualmente na tela, seja sobrepondo sua imagem ao gameplay, seja aparecendo em janelinhas no canto da tela para interagir com os amigos.
Na prática, é quase como uma versão simplificada de streaming no Twitch, colocando os jogadores na frente de um game para que seus amigos assistam, sem a necessidade de equipamentos caros ou chroma key. Pense nisso como uma chamada de Zoom jogável, com a possibilidade de as pessoas jogarem o mesmo ou jogos diferentes juntas, entrando e saindo das sessões à vontade. Claro, há um botão de um clique para comprar o jogo que seu amigo está mostrando, aproveitando o efeito FOMO. Infelizmente, a transmissão ao vivo é de baixa resolução, o que é decepcionante, mas compreensível, considerando que o console está rodando o próprio jogo, o feed direto da câmera e ainda trazendo o sinal de três outros jogadores simultaneamente.
Quais jogos estão disponíveis para o Switch 2?
Comparado a lançamentos de consoles antigos, o lineup do Switch 2 é, no geral, satisfatório. Entre as equipes internas da Nintendo, o grande destaque é claramente Mario Kart World. Maior do que qualquer Mario Kart já feito, ele é a vitrine perfeita para o poder aumentado do Switch 2 e suas funcionalidades sociais, sendo uma compra praticamente garantida para quem adquirir o novo console, ele é inclusive o único bundle disponível no dia do lançamento.

Fora isso, o cenário é mais variado. Nintendo Switch 2 Welcome Tour é uma coletânea de minijogos que custa 10 dólares e desafia os jogadores a aprender e usar todas as novas funções do sistema. Algo que claramente deveria ter vindo de brinde, como a Sony fez com a série Astro no lançamento do seu novo hardware, Welcome Tourserve como um passatempo divertido e uma boa forma de testar todos os novos recursos do console. Mas não é um jogo completo.
Donkey Kong Bananza chega no dia 17 de julho, para saciar a vontade pós-lançamento, sendo a primeira entrada em 3D da série desde Donkey Kong 64 de 1999. Mas sejamos sinceros: Donkey Kong não é Mario; e não há nem um sussurro sobre quando a figura mais amada da Nintendo terá um novo jogo. Pelo menos, é possível jogar a maioria dos títulos antigos do Switch no novo aparelho, com vários deles, como Super Mario Party Jamboree e os jogos da série Zelda, oferecendo atualizações pagas ou gratuitas para versões do Switch 2, que trazem melhorias de desempenho ou integração com câmera/mouse. O Switch 2 também resgata clássicos do GameCube, como The Wind Waker e F-Zero GX, para assinantes do Nintendo Switch Online. Mas é basicamente isso.
Olha, nem todo lançamento de console vem acompanhado daquele jogo que será lembrado para sempre. No cenário atual, a maioria dos novos sistemas é vendida como um upgrade cross-gen, com alguns títulos novos atraentes, mas que principalmente melhoram os jogos já existentes. Sem um título no calibre de Super Mario 64 ou Breath of the Wild, é nisso que a Nintendo está apostando.

Parte dessa estratégia é o ressurgimento dos jogos de terceiros, que pode ser a salvação do sistema. No dia do lançamento, a seleção inclui ports de Cyberpunk 2077, Hitman World of Assassination, Street Fighter 6, Split Fiction e Yakuza 0 (todos ótimos em suas versões anteriores). Mais adiante, jogos como Star Wars Outlaws, Elden Ring e Final Fantasy VII Remake Intergrade prometem chamar atenção, sendo este último um marco pelo tão aguardado retorno da série Final Fantasyà Nintendo, após a famosa ruptura da parceria com a empresa em favor da Sony. O Switch 2 também vai receber Madden NFL 26, EA Sports FC 26 e Tony Hawk’s Pro Skater 3+4 ainda este ano, então não faltam títulos não-Nintendo para aguardar com expectativa.
Se a Nintendo conseguir continuar atraindo as desenvolvedoras terceirizadas de volta, seja para produzir ports decentes ou, idealmente, jogos totalmente novos (como o The Duskbloods, no estilo Bloodborne), deve haver um fluxo constante de lançamentos, evitando os temidos períodos de seca que marcaram o Switch original entre um exclusivo e outro. Além disso, a Nintendo consolidou uma base massiva para jogos indie, que ajudou a fortalecer o perfil da empresa nos últimos anos, inclusive garantindo o lançamento exclusivo por tempo limitado do aguardado Hades II no console.
Vale a pena comprar o Switch 2?
É a pergunta de um milhão de dólares, mas a resposta é complicada. Embora o Switch 2 ofereça uma versão aprimorada de uma experiência já familiar, há muito pouco que pareça realmente revolucionário. O que já funcionava muito bem (a transição fluida entre o modo portátil e o de mesa, o uso inteligente dos Joy-Con e uma biblioteca com potencial para se tornar clássica) continua presente. O que ainda precisa ser testado com o tempo é se os novos recursos, como o GameChat, terão impacto duradouro.

Também há a questão do preço e da disponibilidade. Embora não fossem exatamente baratos, o primeiro Switch e seu modelo Lite se mostraram alternativas econômicas (custando US$ 300 e US$ 200, respectivamente) para jogadores que queriam investir bastante tempo sem gastar demais. Já o Switch 2 parte de US$ 450, sem nenhum jogo incluso. No pacote com Mario Kart World, o valor sobe para cerca de US$ 500. E, comprados separadamente, os jogos também estão mais caros: alguns títulos, como Mario Kart World, custam US$ 80, enquanto outros, como Donkey Kong Bananza, sairão por US$ 70.
Apesar disso, o Switch 2 ainda pode acabar sendo a forma mais econômica de continuar jogando títulos novos. Por uma série de fatores, desde o aumento nos custos de desenvolvimento até a recente ameaça de tarifas, os preços dos videogames subiram em todas as plataformas. O Xbox Series X, por exemplo, passou a custar US$ 600 (e o PlayStation 5 pode seguir o mesmo caminho em breve). É chato admitir, mas o Nintendo Switch 2 talvez ainda seja um bom negócio, especialmente por causa do recurso GameShare, que permite compartilhar uma única cópia de um jogo entre vários consoles Switch 2 (e até com o Switch original) para que todos joguem ao mesmo tempo. Para uma família inteira de jogadores, isso pode fazer uma enorme diferença.
No fim das contas, o Switch 2 será aquilo que você quiser que ele seja. Mesmo com a empolgação moderada no lançamento, ainda estamos falando de um novo console da Nintendo. Se você é o tipo de pessoa que se empolga só de ouvir falar em Mario Kart, provavelmente já fez a sua pré-venda. Para todo o resto, é esperar para ver, embora a Nintendo saiba que você está de olho. E, sinceramente, as chances são grandes de que, em algum momento, você vá acabar comprando.
Este texto foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Christopher Cruz, no dia 5 de junho de 2025, e poded ser conferido aqui.
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Fonte: rollingstone.com.br