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Simple Minds expressa gratidão por hit de filme, comenta vida ‘estilo The White Lotus’ e promete álbum novo


Após mais de uma década sem visitar o Brasil, Simple Minds retorna ao país para show único em São Paulo neste domingo, 4. 

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o vocalista Jim Kerr confessou estar “chocado” com o período longe dos fãs sul-americanos. “Sempre foi emocionante tocar no Brasil, mas depois de tanto tempo, será um prazer nos reconectar e restabelecer o contato”, disse.

“Don’t You (Forget About Me)”, canção que marcou os anos 1980 como trilha sonora de Clube dos Cinco (1985), alavancou a carreira do grupo escocês. No entanto, seus membros estavam relutantes sobre a faixa. 

“Na época, para os críticos — e para a nossa autoestima também — era importante ser um artista sério, e isso significava escrever suas próprias músicas. Nós escrevíamos todas. Quando surgiu a proposta de participar do filme, achamos interessante. Mas quando disseram que já havia uma música para o filme, nossa reação foi: “Não, não, não. Deixem outra banda fazer. A gente faz as nossas”. Essa foi a resistência inicial”, lembrou Kerr.

O cantor, porém, afirmou que, ao conhecer o diretor do filme, “John Hughes, e o produtor da faixa, Keith Forsey”, percebeu que dar sonoridade ao que se tornaria um hit era um desafio que valia a pena.

Na mesma década, a cena punk inglesa estava em ebulição. Ainda que o Simple Minds não tenha se apropriado do gênero, a banda usou a fama como plataforma para o ativismo. Em 1988, por exemplo, o grupo participou de um concerto no Estádio de Wembley, na Inglaterra, em homenagem aos 70 anos de Nelson Mandela e em protesto ao apartheid.

Hoje, Kerr acredita que é a vez de outras gerações: “Já fiz minha parte. Agora é a vez das novas gerações. Sou um cara mais velho, com menos tempo à frente. Esse é o mundo de vocês. Minha missão agora é sentar sob uma árvore e sonhar um pouco”.

O músico vive um de seus sonhos de infância: morar na Itália, onde também é dono de um hotel. O guitarrista Charlie Burchill, amigo e cofundador da banda, é seu vizinho em Taormina, na Sicília. O lugar recebeu mais atenção ao servir de locação para a segunda temporada de The White Lotus. Kerr nunca assistiu à série, mas brincou dizendo que teve seu “segredo” descoberto pelos turistas.

Burchill e ele são os únicos membros originais do Simple Minds que resistiram aos anos. Agora, a dupla planeja lançamentos inéditos: “Temos ideias, músicas. Mas também estamos gravando músicas novas: há duas semanas, gravamos oito faixas em Londres, ainda não finalizadas, mas empolgantes. E é ótimo terminar a turnê com algo novo esperando. Significa que a criatividade, que é o coração de tudo, continua viva”.

Leia abaixo a entrevista na íntegra com o Simple Minds.


Rolling Stone Brasil: Olá, Jim, como vai?
Jim Kerr: Muito bem, obrigado. É um prazer falar com você.

Rolling Stone Brasil: E onde você está agora?
Jim Kerr: Estou em Londres hoje. Passamos a semana por aqui fazendo muita divulgação, e você é a última entrevista da semana.

Rolling Stone Brasil: Ah, estou me sentindo especial agora.
Jim Kerr: Na verdade, não. Você é a penúltima. Tem mais uma amanhã. Mas é a última de hoje.

Rolling Stone Brasil: Ok, então. Estou um pouco doente, então, se minha voz estiver ruim e você não entender, me avise, por favor. Mas vamos lá. Já faz mais de uma década desde a última vez que o Simple Minds veio ao Brasil. O que você espera dessa próxima visita?
Jim Kerr: Antes de tudo, estou chocado. Eu sabia que fazia um tempo, que não vínhamos desde antes da COVID, mas não tinha noção de quanto tempo exatamente. Isso faz com que tudo pareça novo e empolgante de novo. Sempre foi emocionante tocar no Brasil, mas depois de tanto tempo, será um prazer nos reconectar e restabelecer o contato. E a melhor forma de fazer isso é com um grande show — esse é o desafio que temos pela frente. Mas estamos confiantes. A banda tem tocado bastante e recebido ótimas críticas e reações. Estamos na primavera e prontos para mais uma turnê, todos animados.

Rolling Stone Brasil: E vai sobrar um tempo para assistir a uma partida de futebol, talvez?
Jim Kerr: Talvez, sim. Alguém até comentou isso hoje mais cedo. Se der, ficaremos muito felizes.

Rolling Stone Brasil: Quando você começou a banda, meus pais ainda eram crianças, então eu nem era nascido. Entrevistei o Garbage um dia desses e contei para minha madrinha, e ela disse: “Se você entrevistar o Simple Minds, eu morro!”. E aqui estou eu, falando com você. Ela mandou uma pergunta: “Don’t You (Forget About Me)” é um hino dos anos 1980 e continua forte até hoje. Como é saber que milhões de pessoas amam essa música e que ela mudou vidas?
Jim Kerr: É uma honra ter uma música que se tornou um símbolo de uma geração, como você disse. Também é uma grande responsabilidade, especialmente ao tocá-la ao vivo. Tocamos essa música milhares de vezes. E quando se faz algo tantas vezes, é fácil cair na rotina. Mas nunca perdemos a noção do que essa música significa para as pessoas. De alguma forma, sempre que a tocamos, sentimos como se fosse a primeira vez. Mantemos aquele entusiasmo. Conseguimos reviver a emoção de quando ela tocou no rádio ou passou na MTV pela primeira vez. Você podia sentir que ela estava se tornando um marco geracional. E é isso — uma honra ser associado a uma música assim.

Rolling Stone Brasil: Você acha que essa música também mudou sua vida? Por que vocês estavam tão relutantes em gravá-la?
Jim Kerr: Na época, para os críticos — e para a nossa autoestima também — era importante ser um artista sério, e isso significava escrever suas próprias músicas. Nós escrevíamos todas. Quando surgiu a proposta de participar do filme, achamos interessante. Mas quando disseram que já havia uma música para o filme, nossa reação foi: “Não, não, não. Deixem outra banda fazer. A gente faz as nossas”. Essa foi a resistência inicial. Mas depois conhecemos o diretor, John Hughes, e o produtor da faixa, Keith Forsey, dois caras incríveis, muito entusiasmados. Eles tinham a música, mas não tinham o som. Eles queriam o som, o clima, a emoção que o Simple Minds podia trazer. Vimos um desafio artístico nisso. Ainda assim, gravamos pensando: “Provavelmente isso não vai dar em nada”. Talvez virasse um lado B ou uma faixa esquecida em um filme qualquer. Mas ao menos poderíamos dizer que tentamos. E ainda bem que tentamos.

Rolling Stone Brasil: Você já contou em outras entrevistas que planejava ir a um show dos Sex Pistols, mas acabou indo num da Patti Smith. Isso é meio simbólico. O que isso representa na sua carreira?
Jim Kerr: Foi incrível. Éramos jovens e queríamos basicamente três coisas: viajar — vivíamos de carona, de Glasgow até Londres, depois Paris. Íamos para onde sabíamos que havia shows. Na época, Londres estava fervendo com o punk. Mas antes disso, nosso primeiro contato com o punk foi com a cena de Nova York — Patti Smith, Talking Heads, Television… Amávamos aquilo. O punk londrino era mais “foda-se o governo”. Já o de Nova York, tirando os Ramones, era mais poético, boêmio — e isso nos encantava. Mas adorávamos os dois.

Rolling Stone Brasil: Mas vocês não seguiram exatamente o caminho do punk, né? Ainda assim, dá para dizer que vocês foram ativistas com suas músicas. Você acha que o gênero importa nesse contexto?
Jim Kerr: Boa pergunta. Acho que você sabe que participamos dos shows pelo Nelson Mandela, por exemplo. Muitas vezes nos perguntávamos: “Será que isso muda algo? Será que essa música realmente ajuda?” Mas lembro que, após Mandela ser liberto, ele veio a Londres e se reuniu com vários artistas que apoiaram o movimento anti-apartheid. E ele disse: “Quando não tínhamos voz, ouvíamos as vozes das músicas, dos artistas, jornalistas, pintores… E isso foi o oxigênio que nos manteve vivos.” Se alguém como Mandela te diz isso, então, sim, a música importa. Pode ajudar. Hoje o mundo é outro, claro, mas uma boa música, ou filme, ou documentário que conte uma história com emoção pode fazer o ouvinte querer se engajar, ajudar, protestar.

Rolling Stone Brasil: E hoje em dia, como você usa sua plataforma para falar desses temas?
Jim Kerr: Sendo bem honesto, não uso. Já fiz minha parte. Agora é a vez das novas gerações. Sou um cara mais velho, com menos tempo à frente. Esse é o mundo de vocês. Minha missão agora é sentar sob uma árvore e sonhar um pouco.

Rolling Stone Brasil: Justo. Você já sabia que queria morar na Itália desde adolescente, né?
Jim Kerr: Sim.

Rolling Stone Brasil: Como é viver tão longe dos rockstars de Los Angeles e Londres?
Jim Kerr: Eu simplesmente amo. Especialmente a Sicília, no sul. É quase África — mais perto da África do que de Roma. Há um cruzamento de culturas ali, com clima maravilhoso, vulcões dramáticos… Mas também um mundo sensual — a comida, por exemplo. Você morde um tomate e pensa: “Isso veio do céu”. A terra é extremamente fértil devido às cinzas vulcânicas. E os sabores são incríveis. As pessoas também têm esse espírito latino — e eu adoro isso.

Rolling Stone Brasil: Você assistiu a The White Lotus?
Jim Kerr: Acredite se quiser, ainda não. Acho que sou o único! Mas vi o trailer, e tive duas reações. Primeiro: “Uau, minha cidade está linda”. Depois: “Não! Esse era meu segredo!” É onde ando de scooter todo dia. Mas sim, trouxe atenção para Taormina e ajudou os negócios.

Rolling Stone Brasil: Como você consegue manter a amizade com o Charlie por tantos anos? Qual o segredo?
Jim Kerr: É fácil, ele é um cara incrível. Nos damos muito bem. Gostamos das mesmas comidas, do mesmo time de futebol, dos mesmos livros, da mesma cultura. Ele ama a Itália tanto quanto eu. Curiosamente, nós dois temos parceiras asiáticas, não italianas — coincidência. Mas somos bem diferentes. Ele é músico puro. Se vou na casa dele de manhã, ele ainda está de roupão, com um violão ou piano ao lado. Eu sou mais das palavras, letras, histórias. Nossos papéis são diferentes, então não pisamos no calo um do outro. Claro, às vezes brigamos. Discutimos sobre músicas, ideias. Às vezes, basta uma palavra errada e… bum! Mas no fim do dia, já estamos com vergonha disso. No dia seguinte, tudo volta ao normal.

Rolling Stone Brasil: E ele ainda mora perto de você, na Itália?
Jim Kerr: Sim. Posso vê-lo da minha janela. Fica ali na rua. Consigo até saber se ele pediu pizza de novo!

Rolling Stone Brasil: Última pergunta. Agora vocês estão na turnê de grandes hits. Você se sente grato pelo sucesso ou um pouco frustrado por ter que tocar sempre as mesmas músicas, em vez das novas, como do álbum Direction of the Heart? É um sentimento agridoce?
Jim Kerr: Vou com a sua primeira palavra: grato. Sempre fomos e continuamos gratos pela oportunidade. A turnê é um serviço ao público — e dentro do público há gostos variados. Claro, muitos vêm para ouvir os hits, e vamos tocá-los. Mas também mostramos onde estamos agora. É um equilíbrio. E montar a setlist é um desafio. Mas, pelo que vemos nas reações do público, acho que estamos acertando.

Rolling Stone Brasil: Agora é a última mesmo, prometo! Vocês pensam em lançar um novo álbum, talvez com músicas antigas que nunca foram lançadas?
Jim Kerr: Como você soube disso? Sim, estamos planejando. Temos ideias, músicas. Mas também estamos gravando músicas novas: há duas semanas, gravamos oito faixas em Londres, ainda não finalizadas, mas empolgantes. E é ótimo terminar a turnê com algo novo esperando. Significa que a criatividade, que é o coração de tudo, continua viva.

Rolling Stone Brasil: Que ótima notícia! Jim, posso tirar um print com você para mostrar para minha madrinha?
Jim Kerr: Claro, como fazemos?

Rolling Stone Brasil: Vou tirar aqui.
Jim Kerr: Qual o nome da sua madrinha?

Rolling Stone Brasil: Rosana.
Jim Kerr: Como se diz?

Rolling Stone Brasil: Rosana.
Jim Kerr: Rosana? Que bonito! Posso mandar uma mensagem para ela?

Rolling Stone Brasil: Pode! Posso gravar?
Jim Kerr: Claro.

Rolling Stone Brasil: Um minutinho… Pronto, gravando. Pode falar.
Jim Kerr: Oi, Rosana! Aqui é o Jim Kerr, do Simple Minds. Um prazer falar com você e quero dizer o quanto você deve se orgulhar da sua afilhada. Ela fez um ótimo trabalho.

Rolling Stone Brasil: Muito obrigada! Ela vai ficar muito feliz. Vamos tirar o print agora. Jim, muito obrigada. Estou muito ansiosa para te ver.
Jim Kerr: Obrigado pelas perguntas. Tchau!

Rolling Stone Brasil:Tchau!



Fonte: rollingstone.com.br

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