Simone Simons é uma entrevistada de rara eloquência no mundo da música pesada. Tudo o que a Rolling Stone Brasil perguntou para a vocalista do Epica foi devidamente respondido, das questões diretas àquelas mais interpretativas.
Atenta e atenciosa, a cantora neerlandesa é o ponto inicial de contato de muitos com o trabalho do grupo, hoje um dos maiores nomes do chamado metal sinfônico, ramificação de som pesado que, como o nome indica, mescla elementos de música erudita, em especial por meio do uso de orquestrações. A voz afinada e a aparência chamativa — algo que, em entrevistas ao longo dos anos, a própria reconhece oferecer — da artista chamam atenção, mas tanto ela quanto a banda são bem mais do que isso.
Aspiral, nono álbum de estúdio do Epica, parece tentar provar isso de algumas maneiras. Nem de longe é um disco experimental como o EP repleto de convidados The Alchemy Project (2022), mas traz Simone, Mark Jansen (co-vocalista e guitarrista), Isaac Delahaye (guitarra), Rob van der Loo (baixo), Coen Janssen (teclados) e Ariën van Weesenbeek (bateria) em uma estética ligeiramente mais acessível. As faixas longas e carregadas de orquestração seguem lá, mas os sintetizadores de Janssen ganharam força, assim como certa crueza no instrumental, fruto de uma gravação instrumental parcialmente ao estilo “ao vivo”.
Ao mesmo tempo, o sexteto não tem muito mais o que provar. Mesmo antes de lançar o novo disco em abril, eles já haviam anunciado uma turnê brasileira de seis datas — só não é mais longa que a realizada em 2018, quando percorreram oito cidades. E o público demonstrou interesse em ir aos vindouros shows em Porto Alegre (06/09), Curitiba (07/09), Belo Horizonte (09/09), Brasília (11/09), Rio de Janeiro (13/09) e São Paulo (14/09), sem ter ouvido o material inédito na íntegra. Tendo ou não mudanças, o Epica ainda atrai um público fiel em território nacional.
Neste bate-papo com a Rolling Stone Brasil, Simone Simons discute as apresentações no Brasil — a serem realizadas com o Fleshgod Apocalypse na abertura —, reflete sobre Aspiral e The Alchemy Project e ainda comenta a respeito de Vermillion (2024), seu primeiro e até agora único álbum solo.
Entrevista com Simone Simons — Epica
Rolling Stone: O Epica fará uma turnê grande pelo Brasil, com seis shows. Será a 12ª visita da banda ao nosso país. Quais são as expectativas para esses shows?
Simone Simons: “Pois é, já é a 12ª vez. Que bom que você fala isso, porque eu perdi a conta. [Risos]”
RS: Também tenho que contar ano após ano, porque são muitas visitas.
SS: “Sim, é uma loucura. Lembro da primeira vez: havia centenas de fãs nos esperando no aeroporto para nos receber. Isso deixou uma grande primeira impressão. O público é tão apaixonado e tão grato, os shows são sempre incríveis. Então, espero o mesmo quando voltarmos. O setlist terá uma combinação de todas as antigas músicas favoritas dos fãs da Epica. Por exemplo, ‘Cry for the Moon’ com certeza estará no repertório, assim como algumas músicas novas.”
RS: Da última vez, a Epica veio para se apresentar na nossa edição do festival Summer Breeze [hoje Bangers Open Air]. Acredito que tenha sido seu maior show no Brasil até hoje, com vocês e o Within Temptation de co-headliners. Que lembranças você tem desse show?
SS: “Foi ótimo. O maior festival que já tocamos no Brasil. Na época, abrimos uma exceção para o Brasil porque estávamos compondo Aspiral e dissemos que não queríamos fazer nenhum show. Mas recebemos a oferta de ir ao Brasil para um show, no Summer Breeze. Não podíamos recusar. Viajamos um dia antes do show, estava com um jet lag enorme, então acordei às três da manhã no dia do show e pensei: ‘meu Deus, como vou sobreviver ao show?’. Mas o café brasileiro estava forte e me deu a energia que eu precisava. E, claro, o público também.”
RS: São Paulo é a segunda cidade do mundo que mais ouve Epica no Spotify [nota da edição: à época da entrevista, era a segunda; hoje, a primeira]. Bogotá, na Colômbia, e Santiago, no Chile, estão no top 5. Você tem alguma ideia ou teoria de por que a banda se tornou tão popular aqui no Brasil e na América do Sul e Latina?
SS: “Acho que o gênero metal sinfônico realmente toca os latino-americanos porque é muito apaixonante, e vocês são muito apaixonados. E já fomos ao Brasil, como você disse, 12 vezes. Então, são muitos anos. O público é muito grato por isso. Eles provavelmente curtem muito o nosso show, o qual considero muito animado e divertido. Os brasileiros se conectam com isso, e nós nos conectamos com os brasileiros.”
RS: Vocês lançaram neste ano um novo álbum, Aspiral, depois de um EP diferente e repleto de participações, The Alchemy Project (2022). Qual a importância desse EP para o processo desse álbum? Houve alguma lição aprendida?
SS: “Com certeza. The Alchemy Project veio da pandemia. Terminamos Omega [álbum de 2021] e não podíamos fazer turnês. Para não enlouquecermos, Isaac teve a ideia de fazer um projeto com amigos da cena. Fizemos sete músicas com outros artistas, bem experimentais, sem o peso de um álbum convencional. Tivemos um saxofonista-cantor incrível [Jørgen Munkeby, do Shining], além do Fleshgod Apocalypse. Compus uma música junto com a Charlotte [Wessels, cantora ex-Delain]. Aprendemos muito e os fãs gostaram. ‘The Final Lullaby’ se tornou uma das músicas favoritas. Então, continuamos assim. Além disso, o EP foi gravado de uma forma diferente, mais crua, o que mantivemos em Aspiral: Rob, Ariën e Isaac tocaram baixo, bateria e guitarra juntos, ao mesmo tempo. Normalmente, você grava separado bateria, depois guitarra, depois baixo, mas eles tocaram juntos do começo ao fim, tanto no EP quanto no álbum.”

RS: Muitas pessoas têm dito que Aspiral é o álbum mais acessível do Epica. Você concorda com isso?
SS: “Sim, acho que até pela forma como construímos a tracklist, começando com uma música mais acessível como ‘Cross the Divide’, antes das mais longas e complexas. Consideramos isso ao fazer. Hoje em dia, com o streaming, capacidade de atenção das pessoas é um pouco menor. Queríamos renovar o som do Epica, mas nos mantendo fiéis ao que a Epica é. Somos uma banda de metal sinfônico, mas com The Alchemy Project, descobrimos que podíamos modernizá-la um pouco e evoluir.”
RS: Tem alguma música em particular que esteja entre suas favoritas?
SS: “Adoro todas, mas ‘The Grand Saga of Existence’ é uma das minhas favoritas, assim como ‘Obsidian Heart’ e ‘Aspiral’, faixa-título, que já tocávamos antes. ‘Arcana’ também. Mal posso esperar para tocá-las ao vivo.”
RS: A capa do álbum foi inspirada na estátua homônima do artista polonês Stanislav Zhukovsky. E é a primeira capa de álbum da Epica a não ter o nome da banda. Existe algum motivo para isso?
SS: “Foi ideia do designer gráfico, Hedi Xandt. Ele também fez a arte do meu álbum solo Vermillion (2024) e trabalhou com bandas como Ghost e Parkway Drive. Em Vermillion, ele disse que deveríamos deixar a arte falar por si só e não colocar o nome nela, porque distrai. Pensando em como as coisas são hoje em dia online, no Instagram ou Spotify, você só vê esse pequeno círculo. Queríamos modernizar, mas alguns membros da banda estavam um pouco hesitantes. Já eu estou aberta a desafios. Como ele criou uma arte tão linda, nem sinto falta do logotipo do Epica ou do título do álbum.”
RS: A estátua de Zhukovsky representada na arte simboliza renovação. Você mencionou palavras similares a “renovação” em algumas respostas aqui e em outras entrevistas. De que forma você acredita que a Epica está se reinventando neste álbum?
SS: “Boa pergunta. Acho que ao encontrar um novo equilíbrio entre as músicas que compomos. Temos cinco compositores diferentes e as melhores canções entrarão no álbum. Queríamos mudar o som com mais sintetizadores, colocar a orquestra um pouco para trás, fazer com que a crueza das guitarras venham mais para o primeiro plano, equilibrando os lados sinfônico e metal. ‘Darkness Dies in Light’, ‘Metanoia’ e ‘The Grand Saga of Existence’ têm aquela vibe antiga da Epica, mas a maioria das outras músicas traz algo diferente. Ainda há minha voz, coral, os guturais do Mark… mas acho que conseguimos amadurecer e modernizar um pouco.”
RS: Seu álbum solo, Vermillion, saiu em 2024. Como ele está soando agora para você?
SS: “Ainda estou curtindo, porque a pressão diminuiu após o lançamento. Quando você está em fase de criação, sempre há tanto trabalho nos bastidores. Muitas vezes você não consegue realmente aproveitar o momento. Ainda mais porque voltei a trabalhar com o Epica imediatamente. Mas, sim, estou muito feliz com o resultado final. Queria fazer um álbum solo há muitos anos. Mantive contato com Arjen [Lucassen, compositor das melodias do álbum enquanto Simone criou as letras] por muito tempo e tivemos que esperar o momento certo para que nós dois tivéssemos tempo suficiente para nos dedicar ao projeto. Fiquei muito feliz e orgulhosa com o álbum. As músicas são incríveis.”
RS: Você gostaria de fazer uma turnê solo para promover esse álbum?
SS: “Seria ótimo se eu pudesse, mas o Epica está a todo vapor. Estamos planejando mais turnês e hoje tenho um filho, não não posso fazer tantas turnês quanto antes. Então, tenho que escolher. Desta vez, é o Epica. No futuro, talvez eu faça alguns shows solo em vez de turnê, mas ainda não há planos.”
Serviço — Epica no Brasil
- 06/09: Porto Alegre (Opinião)
- 07/09: Curitiba (Ópera de Arame)
- 09/09: Belo Horizonte (Grande Teatro BeFly Minascentro)
- 11/09: Brasília (Toinha)
- 13/09: Rio de Janeiro (Sacadura 154)
- 14/09: São Paulo (Terra SP)
- Ingressos no site Fastix
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Fonte: rollingstone.com.br