A missão parlamentar do Senado Federal aos Estados Unidos, prevista para ocorrer entre os dias 29 e 31 de julho, teve seus integrantes nomeados mas ainda não tem reuniões agendadas com membros do alto escalão do governo do presidente Donald Trump. As reuniões serão divulgadas pela comissão temporária, posteriormente.
Com aval do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), foi criada na quarta-feira (16) a Comissão Temporária Externa para Interlocução sobre as Relações Econômicas Bilaterais com os Estados Unidos (CTEUA).
Apesar de ser apresentada como uma missão de alto nível, a ida dos senadores brasileiros a Washington, não garante qualquer reunião formal com autoridades do governo dos Estados Unidos. A comissão criada pelo Senado busca, na prática, exercer influência política e econômica junto a parlamentares e empresários norte-americanos, diante do aumento tarifário anunciado contra produtos brasileiros.
Entre nomes preferidos para conversarem, o grupo cita os senadores americanos Rick Scott (Republicano-Flórida) e Jim Risch (Republicano-Idaho) e com o senador e secretário de Estado, Marco Rubio (Republicano-Flórida). A programação de visitas e reuniões ainda está sendo construída.
A comissão diz ter como objetivo conduzir, em nome do Senado, uma articulação institucional de alto nível com o Congresso norte-americano, ou seja, por meio de diplomacia parlamentar. A gestão das relações internacionais é prerrogativa do Poder Executivo, mas as ações orientadas por ideologia do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm feito parlamentares tentarem soluções paralelas.
A pauta dos senadores é: comércio exterior, segurança jurídica, investimentos, cadeias produtivas, agropecuária e os impactos das novas barreiras tarifárias impostas pelos EUA a produtos brasileiros.
A missão tem caráter suprapartidário e diz que visa defender os interesses econômicos do Brasil por meio do diálogo direto com parlamentares e autoridades americanas. A criação da CTEUA foi aprovada por unanimidade pelo Plenário.
A comissão temporária, composta por quatro titulares e quatro suplentes, será comandada pelo atual presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Nelsinho Trad (PSD-MS). Desde maio, ele conduz tratativas com a Embaixada dos EUA e autoridades brasileiras. Em seu estado, o impacto das tarifas já atinge frigoríficos e indústrias da celulose.
“É hora de diálogo franco com quem toma decisões em Washington. O Brasil precisa proteger suas cadeias produtivas e Mato Grosso do Sul já sente o impacto direto do tarifaço”, afirmou.
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Veja quem compõe a comitiva:
Titulares:
- Senador Nelsinho Trad (PSD-MS) – Médico e ex-prefeito de Campo Grande, será o presidente da comissão temporária;
- Senadora Tereza Cristina (PP-MS): Ex-ministra da Agricultura, é uma das principais representantes do agronegócio no Congresso. Sua presença reforça o peso do setor agropecuário na pauta da missão, especialmente diante das tarifas que atingem carne, soja e algodão.
- Senador Jacques Wagner (PT-BA): Ex-governador da Bahia e ex-ministro da Defesa. Líder da maioria no Senado, tem trânsito político dentro e fora do governo. Sua presença sinaliza o apoio do Executivo e o reforço da articulação diplomática com o Legislativo norte-americano.
- Senador Fernando Farias (MDB-AL): Empresário do setor de transportes e estreante no Senado. Traz à mesa a perspectiva da infraestrutura logística e do impacto do tarifaço sobre exportações nordestinas, especialmente no setor de sucos e alimentos.
Suplentes:
- Senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP): Ex-ministro da Ciência e Tecnologia e o primeiro brasileiro no espaço. No Senado, atua em temas ligados à indústria, inovação e relações exteriores. Deve contribuir com a discussão sobre cadeias tecnológicas e comércio de alto valor agregado. Ele também é amigo do senador democrata Mark Kelly, do Arizona, astronauta aposentado da Nasa.
- Senador Rogério Carvalho (PT-SE): Líder do PT no Senado, é médico e ex-secretário de Saúde. Representa a ala governista da comissão e reforça a posição institucional do Senado na construção de consenso e no alinhamento com o Palácio do Planalto.
- Senador Esperidião Amin (PP-SC): Político experiente e ex-governador de Santa Catarina, é voz técnica e respeitada no Senado. Sua atuação pode contribuir com análises econômicas mais consistentes e defesa da indústria do Sul, que também sofre com as tarifas.
- Senador Carlos Viana (Podemos-MG): Jornalista e ex-apresentador, tem forte base entre setores industriais de Minas Gerais. No Senado, defende segurança jurídica, livre iniciativa e previsibilidade no ambiente de negócios — todos pontos sensíveis afetados pelas barreiras dos EUA.
Fragilidade diplomática e solução ao tarifaço
Em publicação nas redes sociais, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) afirmou que a missão do Senado ocorre em um momento de fragilidade diplomática do governo federal.
“Enquanto o governo atual falha na diplomacia, representarei o nosso país e o Senado Federal em missão internacional junto ao Congresso Americano, buscando abrir novos caminhos de diálogo entre as duas nações”, escreveu.
Pontes afirmou que se sente honrado com o papel e defendeu a necessidade de uma ação firme: “Farei o impossível para levar a posição do nosso país aos centros de decisão. Me sinto honrado em assumir esta missão sobre soberania, diálogo e coragem em nome do Brasil, a fim de construir pontes e não levantar muros!”
Segundo ele, o objetivo é buscar uma solução para o chamado tarifaço que seja “vantajosa” para os dois lados.
Missão institucional com apoio do governo e da Embaixada dos EUA
A iniciativa de criar a comissão teria surgido de convite da Embaixada dos EUA no Brasil e foi abraçada pelo Senado com apoio do presidente Davi Alcolumbre. A proposta também passou por reunião com ministros e líderes partidários, que discutiram as reações ao tarifaço. Em maio, o vice-presidente Geraldo Alckmin foi consultado e se mostrou favorável à articulação.
O objetivo central é fortalecer o canal direto entre os parlamentos dos dois países e, eventualmente, formalizar um grupo interparlamentar Brasil–EUA com foco em diplomacia econômica.
Um dos suplentes da comissão temporária, senador Carlos Viana, afirmou à Gazeta do Povo que o objetivo central da missão é impedir que entre em vigor, no dia 1º de agosto, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos.
“Queremos uma abertura de diálogo, sentar à mesa com senadores americanos, negociadores e empresários, mostrando claramente os interesses em jogo. O anúncio da tarifa, da forma como foi feito, fere acordos diplomáticos vigentes entre Brasil e Estados Unidos”, afirmou.
Segundo ele, além do impacto econômico, a delegação brasileira pretende reforçar os laços históricos entre os dois países. “Os governos passam, mas as relações bilaterais continuam. A linguagem que os americanos entendem é a linguagem do lucro. Eles têm superávit, ganham mais ao comprar do Brasil e vender para nós. Queremos deixar claro que essa tarifa prejudica, inclusive, o consumidor americano.”
Viana se disse confiante no “bom senso” e na lógica comercial como caminho para o entendimento. A expectativa é que a missão contribua para diminuir tensões comerciais, proteger empregos e reforçar a previsibilidade nas relações bilaterais.
Fonte: Revista Oeste