Após informar ao tribunal que não chamariam nenhuma testemunha, os advogados de Sean Combs levaram cerca de 25 minutos para apresentar sua defesa no julgamento do magnata por tráfico sexual e extorsão nesta terça-feira.
Ao longo do processo, o principal advogado de Combs, Marc Agnifilo, chegou a apresentar estimativas bem diferentes sobre quanto tempo a defesa poderia levar. Depois que os promotores reduziram sua lista de testemunhas, Agnifilo disse que talvez precisassem de até duas semanas. Mais recentemente, estimou que seriam necessários de dois a cinco dias. Em uma reviravolta na segunda-feira, anunciou que a defesa não chamaria nenhuma testemunha e apenas apresentaria documentos como provas. Embora não seja incomum que a defesa opte por não convocar testemunhas, a decisão indicou que a equipe acreditava que os depoimentos sob contrainterrogatório já haviam gerado dúvidas suficientes para levar a uma absolvição ou a um júri indeciso.
O tempo curto surpreendeu, considerando que Combs pode pegar prisão perpétua caso seja condenado pelas cinco acusações criminais que enfrenta. Aos 55 anos, o artista, que tem participado ativamente do processo, se declarou inocente das acusações de conspiração para extorsão, tráfico sexual e transporte com fins de prostituição.
Antes do início da defesa, o juiz federal Arun Subramanian perguntou a Combs se a decisão de não testemunhar era dele. Em pé, Combs elogiou o juiz por estar fazendo “um excelente trabalho” na condução do julgamento. Com a voz um pouco rouca, confirmou que havia sido informado sobre seus direitos e optado por não depor em sua própria defesa. “Essa é uma decisão exclusivamente minha”, afirmou. “É minha decisão, em conjunto com meus advogados”.
Agora em sua sétima semana, o julgamento se aproxima do feriado do Dia da Independência, em 4 de julho. O juiz Subramanian já havia dito aos jurados que esperava encerrar os trabalhos até essa data. Com os argumentos finais marcados para quinta-feira, a expectativa é que o caso seja entregue ao júri na segunda.
Combs parecia estar de bom humor enquanto a acusação encerrava sua parte no caso. Durante o contrainterrogatório conduzido pela advogada de defesa Teny Geragos com a última testemunha da promotoria — um agente especial do Departamento de Segurança Interna —, o magnata do hip-hop foi visto rindo e sorrindo ao lado de seus advogados. Embora a defesa tenha dito anteriormente que ainda não havia decidido se Combs deporia, não se espera que ele testemunhe.
A equipe de Combs conseguiu apresentar boa parte de sua argumentação durante os contrainterrogatórios das quase três dezenas de testemunhas do governo, questionando possíveis contradições nos depoimentos ou declarações consideradas incoerentes.
Em determinado momento, o juiz Subramanian comentou o tom intenso do contrainterrogatório conduzido pela advogada de defesa Nicole Westmoreland com Bryana “Bana” Bongolan, amiga de Casandra Ventura. Bongolan afirmou que Combs a pendurou da sacada do 17º andar de um prédio. O juiz disse que Westmoreland teve um “verdadeiro momento Perry Mason” ao apresentar provas de que Combs não estava em Los Angeles no período mencionado por Bongolan como data do suposto incidente. Bongolan admitiu que não tinha certeza da data exata.
Desde a prisão de Combs, em setembro, seus advogados vêm alegando que as acusações, que abrangem quase 20 anos, representam um abuso de poder por parte da promotoria. Afirmam que o governo invadiu a vida pessoal do réu e passou a julgar sua conduta sexual privada. Em sua declaração de abertura no mês passado, Teny Geragos afirmou que as duas mulheres no centro das acusações de tráfico sexual — a ex-namorada de Combs, Casandra “Cassie” Ventura, e uma mulher identificada pelo pseudônimo “Jane” — não eram vítimas. Segundo ela, tratavam-se de mulheres independentes, capazes e conscientes de suas decisões.
Geragos reconheceu que Combs pode ter sido um “idiota”, um namorado controlador e ciumento, e que admitiu ao menos um episódio de violência brutal. Mas ressaltou que ele não está sendo julgado por violência doméstica. “Violência doméstica não é tráfico sexual”, afirmou. “Se ele tivesse sido acusado de violência doméstica, se tivesse sido acusado de agressão, não estaríamos aqui hoje”.
Os advogados de Combs sugeriram que várias testemunhas do governo poderiam ter interesses pessoais em suas relações com ele, tanto românticos quanto profissionais. No caso de Ventura, eles alegam que o relacionamento com o fundador da Bad Boy Entertainment ajudou a consolidar sua fama e impulsionar sua carreira musical.
Embora Ventura tenha testemunhado que Combs teria mantido sua música como refém, lançando apenas um álbum de um contrato para dez discos, os advogados de defesa apresentaram fotos dela em tapetes vermelhos de eventos cinematográficos, em diversos ensaios fotográficos e mencionando nomes de artistas de primeiro escalão.
E, segundo Geragos, não foi só Ventura que teria se aproveitado de Combs para benefício próprio. Ela sugeriu que outras supostas vítimas ou funcionárias também tinham seus próprios interesses, incluindo ganhos pessoais. As experientes advogadas questionaram duramente a ex-artista da Bad Boy, Dawn Richard, e Bongolan sobre processos civis que elas estavam movendo contra Combs.
Elas questionaram as ex-assistentes de Combs, Capricorn Clark e uma mulher identificada pelo pseudônimo “Mia”, sobre o motivo de manterem relações amigáveis com ele, mesmo após alegarem ter passado por experiências traumáticas durante o período em que trabalharam para ele.
“Eles estão com ele, ou trabalham para ele, porque estão recebendo algo que querem ao estar ao lado dele”, disse Geragos. “Agora, para cada pessoa, esse ‘algo’ pode ser diferente. E geralmente é. Mas para todas, elas estão recebendo alguma coisa”.
Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Cheyenne Roundtree e Nancy Dillon, no dia 24 de junho de 2025, e pode ser conferido aqui.
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Fonte: rollingstone.com.br