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Quem é o casal investigado pela CPMI por receber R$ 12 milhões


O ex-procurador-geral do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, e sua mulher, a médica e empresária Thaisa Hoffmann Jonasson, foram convocados pela CPMI do INSS a prestar esclarecimentos sobre suposto “enriquecimento ilícito” supostamente com o dinheiro desviado das fraudes em aposentadorias. Eles não explicaram a reserva de um apartamento de R$ 28 milhões em Balneário Camboriú (SC) e a compra de um Porsche Cayenne híbrido de R$ 789 mil.

Ao ser questionada por parlamentares sobre os recursos recebidos por suas empresas, Thaisa informou que os valores foram fruto de “serviços de consultoria, pesquisa e pareceres médicos” e disse que nunca esteve envolvida com qualquer prática ilícita. Em outras perguntas sobre os imóveis e bens milionários, ela manteve o silêncio. Diferentemente da esposa, Virgílio respondeu algumas perguntas do relator e dos parlamentares.

Ambos estão protegidos por um habeas corpus do STF que permite que não respondam às perguntas dos deputados e senadores. O casal é investigado pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) por suposto envolvimento em um esquema bilionário de desvios da Previdência, revelado pela Operação Sem Desconto.

As apurações indicam que Virgílio Oliveira Filho, afastado do cargo por decisão judicial em abril, teria recebido R$ 11,9 milhões de empresas ligadas a associações investigadas por descontos irregulares em benefícios previdenciários. Parte dos valores teria sido movimentada por meio de contas e empresas em nome da esposa, conforme documentos sigilosos enviados à CPMI. Em alguns recibos, consta a compra de imóveis milionários e a aquisição de carros, como um Porsche Cayenne híbrido de R$ 789 mil.

O modus operandi do esquema, conforme as apurações, envolveria o ex-procurador-geral autorizando o desbloqueio em massa de benefícios de aposentados, contrariando pareceres técnicos, para permitir que associações voltassem a efetuar descontos nos contracheques dos segurados.

Parte dos valores recebidos pelo ex-procurador — cerca de R$ 7,5 milhões — teria vindo de empresas ligadas a Antonio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, apontado como lobista do esquema. O dinheiro circulou por companhias controladas pela esposa de Virgílio, como a Curitiba Consultoria, a THJ Consultoria e o Centro Médico Vita Care.

Oliveira Filho, mesmo sob investigação, reservou a compra de um Audi A5 de R$ 380 mil. A aquisição, feita após ser alvo da operação “Sem Desconto”, chamou a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), constando no Relatório de Inteligência Financeira (RIF) sobre o ex-procurador-geral do INSS.

Este não é o único bem de luxo recente do ex-procurador: em 2025, ele já havia comprado uma Mercedes-Benz GLB 35 AMG, avaliada em R$ 508,5 mil pela Tabela Fipe.

O ex-procurador, juntamente com outros investigados, chegou a contestar judicialmente os Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que embasaram a investigação. Os advogados alegaram que o material foi obtido de forma ilegal e deveria ser anulado.

Relator cobrou informações sobre reserva de apartamento de R$ 28 milhões

O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), questionou Thaisa sobre a reserva de compra de um apartamento de R$ 28 milhões no edifício Senna Tower, em Balneário Camboriú (SC) — empreendimento apresentado pelos incorporadores como “o maior prédio do mundo”. Por orientação da defesa, Thaisa preferiu não responder à pergunta.

A reserva foi formalizada em 5 de novembro de 2023, para o apartamento 7001, mas cancelada pela construtora em julho de 2024, sob o argumento de “risco iminente de constrição judicial do imóvel”. A própria Thaisa teria desistido do negócio, segundo o processo.

O episódio levantou suspeitas sobre a origem dos recursos do casal. Documentos da CGU apontam que Oliveira Filho teve acréscimo patrimonial de cerca de R$ 18 milhões nos últimos anos.

Além da tentativa de compra de imóvel em Santa Catarina, documentos sigilosos enviados à CPMI e revelados pelo Metrópoles revelam que Thaisa adquiriu três imóveis à vista entre 2022 e 2024: um apartamento e uma sala comercial em Curitiba (PR), além de um apartamento em Brasília, às margens do Lago Paranoá, próximo ao Palácio da Alvorada.

“Como é que um servidor público tem condições de comprar um imóvel de R$ 28 milhões de reais? Depois da deflagração da operação, agora em abril e maio, eles adquiriram um imóvel por mais de R$ 5 milhões de reais”, disse o relator em entrevista à imprensa. 

A depoente permaneceu em silêncio, em todas as perguntas sobre imóveis e até sobre a aquisição de um Porsche Cayenne híbrido de R$ 789 mil.

“Queria muito que a senhora desmentisse que esses R$ 28 milhões tenham saído da mesa do sofrido aposentado e pensionista, do remédio que ele deixou de comprar, da miséria que foi causada por conta daqueles gananciosos que roubaram aposentados e pensionista”, declarou Gaspar. 

Parlamentares criticam empresas e enriquecimento do casal

Logo no início da sessão, parlamentares questionaram o alcance do habeas corpus concedido ao casal – pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – e se seriam ouvidos como testemunhas ou investigados. A advogada de Thaisa informou que, por ser alvo de investigação, ela não prestaria compromisso de dizer a verdade e responderia apenas com orientação da defesa.

Durante a audiência, o senador Rogério Marinho (PL-RN) afirmou que Oliveira Filho e Thaisa criaram empresas logo após as eleições de 2022. “Essas empresas receberam de 15 a 20 milhões de reais ao longo de pouco mais de um ano e meio. São recursos provenientes de associações que comprovadamente desviaram dinheiro de aposentados. É no mínimo estranho que isso tenha ocorrido com alguém que ocupou postos tão relevantes na estrutura da Previdência desde 2008”, disse.

O deputado Kim Kataguiri (União-SP) afirmou que o caso “mostra a inversão completa de valores dentro do INSS”. “O guardião da legalidade, que deveria proteger os aposentados, vaza informações, ignora alertas da CGU e continua autorizando acordos que permitiram o escândalo. É assustador ver um servidor público aumentar o patrimônio em R$ 18 milhões em cinco anos”, criticou.

Já o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) classificou o casal como parte central do esquema. “Virgílio e a esposa estão no núcleo desse sistema de corrupção. Há vínculos diretos entre as empresas deles e os chamados ‘jovens milionários’ — os que enriqueceram com empresas de fachada criadas para desviar o dinheiro dos aposentados”, afirmou.

Quem é Thaisa Hoffmann Jonasson

Thaisa Hoffmann Jonasson é médica endocrinologista em Curitiba. Ela é sócia de empresas que estão sendo investigadas em relação a um esquema de descontos fraudulentos de beneficiários do INSS.

Em sua fala inicial, Thaisa disse ser vítima de “acusações repetidas à exaustão, com profunda crueldade e sem qualquer compromisso com a verdade”.

“Sou mãe, médica e empresária. Ao longo da minha vida profissional, jamais estive envolvida em qualquer prática ilícita. Minha trajetória sempre foi pautada pela ética, pelo respeito e pelo compromisso com o bem-estar das pessoas”, afirmou.

Ela relatou ser médica há 22 anos, mestre em medicina interna pela Universidade Federal do Paraná, especialista em clínica médica e endocrinologia, pós-graduada em medicina do esporte, e ex-professora da PUC-PR. Disse manter consultório há 17 anos e atuar na promoção da saúde de idosos.

“Apresento-me aqui de cabeça erguida, com serenidade e confiança em quem sou e no que construí. Sei que a verdade vai prevalecer”, concluiu.

A empresária ainda informou que realizou o seu trabalho seriamente e que toda a documentação será entregue nos autos. Em resposta a outros parlamentares, ela disse que iria manter o seu direito de “permanecer calada, principalmente por estar em um ambiente hostil” e para evitar que suas palavras fossem deturpadas. 

Quem é o ex-procurador do INSS

Servidor de carreira da Procuradoria Federal Especializada do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho foi nomeado procurador-geral do instituto em 2022, ainda no final do governo Bolsonaro, cargo que ocupou até abril de 2024, quando foi afastado por decisão da Justiça Federal após a deflagração da Operação Sem Desconto.

Antes de assumir o cargo máximo da Procuradoria do INSS, Oliveira Filho já havia passado por funções estratégicas dentro do órgão, com atuação nas áreas de consultoria jurídica e contencioso administrativo. A investigação da PF e da CGU, porém, aponta que, durante o período em que ocupou postos de comando, teria favorecido entidades privadas envolvidas em descontos ilegais em benefícios previdenciários.

Durante o depoimento, o ex-procurador Virgílio Filho afirmou ter ocupado cargos técnicos em diferentes governos e negou envolvimento em irregularidades, assim como a compra de um imóvel no valor de R$ 5 milhões;

“Sou procurador federal de carreira e integro a Advocacia-Geral da União desde 2016, por concurso público. Sempre pautei minha vida pública em defesa da Constituição e do Estado brasileiro. Exerci funções técnicas em diversos governos — Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva — e reitero que todas as nomeações foram de natureza técnica, nunca política. Não sou filiado, não tenho padrão político e sempre atuei com base na Constituição”, disse.

Ele destacou ainda que a investigação ainda está em andamento e que não foi ouvido pela Polícia Federal. “Ainda não prestei depoimento no inquérito. Não sou indiciado, nem réu, muito menos condenado. Tenho percebido um pré-julgamento nesta CPMI. Estou aqui para colaborar, defender meus atos enquanto procurador-geral do INSS e responder dentro dos limites da orientação da minha defesa.”, declarou.

Segundo documentos da comissão, enquanto chefiava a Procuradoria do INSS, ele teria autorizado o desbloqueio em massa de benefícios para a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), contrariando pareceres técnicos do órgão — medida que, segundo os investigadores, teria facilitado o acesso de associações suspeitas ao sistema previdenciário.

O relator da CPMI, Alfredo Gaspar, apresentou imagens do jornal O Globo sobre uma escolta ilegal da PF a Oliveira Filho e um empresário, questionando-o se ele tinha responsabilidade ou conhecimento do uso da estrutura da PF, e qual a justificativa formal para tal escolta.

Oliveira Filh, por sua vez, decidiu manter silêncio sobre essa questão específica — amparado pelo habeas corpus que lhe permite não responder a perguntas que possam incriminá-lo. Ele reafirmou no depoimento que o processo ainda está em fase de investigação, que não foi ouvido pela Polícia Federal e que colabora “nos limites de sua defesa”.

A oitiva desta quinta-feira (23) é a primeira sessão da comissão dedicada exclusivamente a depoimentos, sem votação de requerimentos. Os parlamentares esperam que os documentos e as oitivas ajudem a comprovar o rastro do dinheiro e o papel do casal no centro do esquema.



Fonte: Revista Oeste

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