Amada por uns e odiada por outros, a “Data Fifa” é um período do calendário do futebol mundial no qual as competições de clubes são interrompidas para dar lugar aos jogos entre seleções. No Brasil, a paralisação do Campeonato Brasileiro durante essas janelas é uma novidade recente, mas sua origem remonta a um processo para resolver um conflito histórico entre clubes e federações nacionais.
A origem do conflito entre clubes e seleções
A história do futebol entre nações é quase tão antiga quanto o próprio esporte. O primeiro jogo internacional oficial ocorreu em 1872, entre Escócia e Inglaterra.
Com a fundação da Fifa em 1904 e a criação da Copa do Mundo em 1930, os confrontos entre seleções ganharam relevância. No entanto, por décadas, não existia um calendário internacional coordenado.

Garrincha e Pelé ao final do jogo contra a Suécia pela Copa do Mundo de 1958 (Acervo Luiz Carlos Barreto)
A liberação de jogadores era uma questão de negociação, boa vontade ou, em muitos casos, imposição das federações, gerando atritos constantes com os clubes — que pagavam os salários dos atletas. Além disso, não era comum a existência de Eliminatórias longas e novos torneios, como a Uefa Nations League.
Com a crescente profissionalização e o avanço das transmissões a partir dos anos 1970, os clubes passaram a ter mais poder econômico e se tornaram relutantes em ceder seus principais jogadores. O desequilíbrio era evidente: seleções queriam suas estrelas, enquanto os clubes não queriam perder seus ativos.
O surgimento do Calendário Internacional de Jogos
O caos logístico e esportivo se intensificou com a globalização do futebol. A Lei Bosman, de 1995, que ampliou a liberdade contratual dos atletas na Europa, acentuou o problema: jogadores atuavam cada vez mais longe de seus países de origem, e as convocações se tornavam viagens intercontinentais.
Diante disso, a Fifa, sob a presidência de Joseph Blatter, iniciou um processo de regulamentação que culminou no Calendário Internacional de Jogos (FIFA International Match Calendar).


Sede da Fifa, em Zurique – Divulgação / Fifa
Consolidado entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000, o sistema definiu janelas específicas — geralmente em março, junho, setembro, outubro e novembro — em que os clubes são obrigados a liberar seus atletas convocados. A primeira versão oficial do calendário foi publicada em 2002 e tornou-se regra a partir de 2006.
A lenta adesão brasileira
Enquanto a Europa ajustava suas ligas e copas às pausas internacionais, o Brasil seguiu um caminho distinto. Mesmo após a oficialização das Datas Fifa, o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil continuaram sendo disputados durante as janelas internacionais.
Entre 2006 e 2022, era comum ver clubes desfalcados por convocações, o que afetava momentos decisivos. A primeira tentativa de ajuste parcial ocorreu em 2011, durante a gestão de Ricardo Teixeira, quando a CBF passou a evitar marcar rodadas da Série A em algumas janelas específicas.


Ednaldo Rodrigues foi destituído do cargo de presidente da CBF – Rafael Ribeiro/Divulgação
No entanto, a paralisação total só começou a ser implantada a partir de 2023, sob a presidência de Ednaldo Rodrigues, quando o Brasileirão finalmente passou a parar em todas as Datas Fifa. Todavia, com o mesmo mandatário, a competição seguiu sendo disputada durante a Copa América de 2024.
Para 2026, a gestão de Samir Xaud prevê um novo calendário, ajustado para que as Datas Fifas não desfalquem clubes. Com isso, a CBF optou por diminuir estaduais, estender o Campeonato Brasileiro e prever uma paralisação até mesmo durante a Copa do Mundo feminina de 2027.
Fonte: Agência Brasil