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Qual é a desse Sleep Token? Uma resenha de ‘Even in Arcadia’


Desde que surgiu em 2016, a banda inglesa de metal Sleep Token se tornou uma das histórias de sucesso mais enigmáticas do rock. Atuando sob completo anonimato — seus membros principais são conhecidos apenas como Vessel e II, e se apresentam com figurinos elaborados e detalhados — o grupo construiu um universo musical amplo e profundamente marcado pelo espírito do século 21.

Usando os riffs pesados e as batidas agressivas do metal como ponto de partida, sua música está repleta de desvios inesperados e mudanças abruptas de tom. Uma banda tão difícil de rotular quanto de identificar.

Even in Arcadia, o quarto álbum do grupo, não revela totalmente esse mistério, mas adiciona ainda mais camadas de intriga — e uma dose de profundidade existencial — ao já denso livro mitológico da banda. “Will you halt this eclipse in me?” (“Você vai deter esse eclipse dentro de mim?”), grita Vessel na faixa de abertura, “Look to Windward” — uma música mutante que, ao longo de seus minutos, envolve o vocalista com synths que lembram tons de discagem, cordas intensas, batidas de trap e acordes de piano imponentes, todos eventualmente engolidos por guitarras pesadas e baterias explosivas. Como declaração de abertura, é um aviso claro de que nada que virá a seguir será previsível — nem sonora, nem emocionalmente.

A partir daí, a feroz “Emergence” oscila entre uma beleza fantasmagórica e uma loucura arpejada, primeiro, encontrando refúgio em guitarras como nuvens de tempestade se formando — cortadas pela voz repentinamente angelical de Vessel — e depois, em um solo de saxofone que evoca uma noite solitária. “Provider” é uma canção de amor em conflito, onde os vocais sobrepostos de Vessel adicionam esperança à sua declaração digna de votos de casamento — “I can give you what you want” (“Posso te dar o que você quiser”) — apesar dessa promessa estar cercada por um caos conduzido por riffs.

Vessel, do Sleep Token, em 2023 – Foto: Pedro Becerra / Redferns

Em outros momentos, as músicas mergulham ainda mais fundo nas contradições da notoriedade no século 21. “Caramel” caminha com passos hesitantes sobre um groove que cresce lentamente, enquanto Vessel lida com as complexidades de existir em público mantendo sua identidade em segredo. “So I’ll keep dancin’ along to the rhythm / The stage is a prison, a beautiful nightmare” (“Então vou continuar dançando no ritmo / O palco é uma prisão, um belo pesadelo”), canta ele entre sinos de caixinha de música, revelando um cansaço do mundo tão explícito quanto possível.

Se momentos como esse revelam algo sobre a mitologia do Sleep Token, é que Vessel é, no fundo, um cantor de baladas. Sua voz é uma mistura firme e rouca que vibra com intensidade em músicas como a etérea faixa-título e alcança notas altas quando necessário em canções como “Damocles”, um tratado cintilante e conturbado sobre a ansiedade criativa. Às vezes lembrando os agudos de Dan Smith, vocalista do Bastille, Vessel ajuda a incorporar outras influências ao som da banda, como na vítrea “Past Self”, impulsionada por batidas de trap.

A faixa final, “Infinite Baths”, é igualmente crua: a visão cada vez mais lúcida de Vessel sobre o mundo se reflete nas camadas geladas de eletrônica. “I have fought so long to be here / I am never going back” (“Lutei tanto para chegar até aqui / Nunca mais vou voltar”), ele declara — um mantra que poderia muito bem servir como lema da visão em constante transformação do Sleep Token: um rock que é imenso, tanto sonora quanto emocionalmente.

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Fonte: rollingstone.com.br

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