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Por que Ed Motta está certo — e também errado — em crítica a Maria Bethânia


A polêmica envolvendo reclamações públicas de Maria Bethânia a respeito do som de seu show com Caetano Veloso, no último sábado, 15, na Farmasi Arena, Rio de Janeiro, ganhou novos contornos com a entrada de um personagem controverso. Ed Motta publicou um vídeo no Instagram onde critica não apenas a artista, como também o público e a imprensa.

Recapitulemos: a artista afirmou durante a apresentação que estava “tudo errado” com o som. Ela alega que “não dá para cantar” naquela situação e emenda: “Me respeitem”. Já em outro vídeo, disse que seu microfone foi trocado “por algum motivo”, mas a mudança acabou revertida. E declarou, ameaçando encerrar sua performance antes do combinado:

“Isso quer dizer o quê? Para mim está um horror. Só tem chiado no meu ouvido. Não é absolutamente o som que eu estava cantando. Querem me desafiar. Acabou. Chama Caetano para fazer o final do show. Eu não posso fazer o solo se eu não tenho voz, gente. Sou uma cantora, não tenho outra coisa senão minha voz. Sinto muito, é uma vergonha no Rio de Janeiro acontecer isso.”

Por sua vez, Motta relembrou um caso onde, em sua visão, foi alvo de comentários negativos por fazer algo similar à cantora. O músico se referia à sua apresentação no festival Rock the Mountain, em Petrópolis (RJ), no último mês de novembro, quando se desentendeu com uma das pessoas de sua equipe técnica em pleno show. “Qualquer roadie sabe disso. Você está fora, cara. Eu tinha falado que você ia ficar, mas é o último show que você faz”, declarou na ocasião para o profissional, tendo que se retratar posteriormente.

Em vídeo no Instagram no último domingo, 16, Ed declarou:

“É sabido a forma como ela trata os músicos, os colaboradores, todos. Nunca tive problema com meus músicos. Tive um problema infeliz com uma pessoa que não era meu funcionário, estava em teste e tinha cometido um erro crasso. Pelo fato de eu reclamar, tenho pago um preço na minha vida que não para. As pessoas me perseguem. Tenho público no mundo inteiro. Poderia me mudar para qualquer lugar, mas não tenho vontade. Quero viver aqui. É nojento e covarde o tratamento que me é dirigido. Principalmente o tratamento que a imprensa brasileira dá para mim. Isso reflete na cabeça das pessoas, sendo a cabeça das pessoas tão fraca, se influenciam por tudo. Estou dentro dessa seara, das pessoas perseguidas pela imprensa cultural do Brasil. Parabéns! Acabei de ver o vídeo. A plateia aplaude. ‘Maravilhosa’, ‘necessária’, esse tipo de coisa. Uma pessoa que não sabe tocar nem piano. Não sabe harmonia, não estudou música, nada. Eu sei tocar piano, eu estudei música. Mas, infelizmente, não tenho o respeito necessário no País do feijão e do futebol.”

São nítidos os equívocos de julgamento de Ed Motta. Primeiro, ao comparar sua postura no Rock the Mountain, com alvo individualizado e visível para o público, com a de Maria Bethânia, uma reclamação generalizada. Segundo, ao conferir caráter acadêmico à discussão, pois diz que, diferentemente dele, a artista de 78 anos “não sabe tocar nem piano, não sabe harmonia, não estudou música”. Terceiro, ao tratar o público como totalmente influenciado por mídia; basta pesquisar sobre a defasada teoria hipodérmica e a evolução das teorias da comunicação para compreender como isso (não) ocorre.

Mas também há acertos. Existe, sim, uma diferença na análise de parte do público e da imprensa. Bethânia, que tem histórico de temperamento difícil nos bastidores, foi rude e expôs algo que não deveria ser trazido para a plateia — que, de fato, pareceu ter reagido de modo mais positivo do que o bom senso pede.

Telhado de vidro à parte, Ed, tantas vezes criticado por suas falas e na maioria das ocasiões com justiça, tem razão nesse sentido. E sua fala não deve ser invalidada simplesmente por vir dele.

Não dá para ameaçar encerrar um show e receber aclamação de quem quer que seja. Dê um intervalo, permita que o problema seja solucionado e continue. Se não deseja sair do palco enquanto o trabalho é feito, conduza a situação. Estresse à parte, tenha respeito por quem está ali: tanto fãs quanto trabalhadores envolvidos com o espetáculo, visto que nenhum contratado sai de casa para exercer mal a sua função. Problemas acontecem e é preciso que todos tenham jogo de cintura; artistas inclusos.

Tais “pitis públicos” servem mais para entrar no imaginário popular e ajudar a construir uma imagem negativa de um artista do que para, realmente, solucionar um problema. Daqui algum tempo, a penúltima apresentação da turnê especial entre Caetano Veloso e Maria Bethânia será lembrada como “a vez em que Bethânia foi rude com sua equipe”. Muito pouco para uma ocasião de tamanha relevância para a música brasileira.

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Fonte: rollingstone.com.br

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