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PCC: leniência, omissão e cumplicidade


O promotor Lincoln Gakiya, uma das autoridades mais respeitadas no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC), foi cirúrgico ao depor na Comissão Especial sobre as Competências Federativas e Segurança Pública, na Câmara dos Deputados. Em 23 de setembro, Gakiya afirmou com todas as letras: “São Paulo fracassou na contenção do crime organizado. E acrescentou: “O Estado permitiu o surgimento da primeira máfia brasileira”.

A frase não é uma figura de retórica. É a constatação amarga de uma tragédia anunciada. Fracassamos por leniência, por incompetência e, pior, por conivência. A verdade dói, mas precisa ser dita: houve omissão deliberada de agentes públicos. Onde o Estado recua, o crime avança. E o Brasil, lentamente, vai se transformando num território sob o domínio paralelo de facções criminosas.

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo resumiu bem o drama: “São Paulo fracassou em conter o PCC. De Taubaté à Faria Lima, a facção se consolidou como máfia pela negligência, quando não pela cumplicidade, de agentes públicos paulistas”. Não se trata de mero descuido administrativo. Trata-se de falha moral e política. O poder público permitiu que o crime crescesse e se estruturasse.

Onde o Estado recua, o crime avança. E o Brasil, lentamente, vai se transformando num território sob o domínio paralelo de facções criminosas

Em 2005, o então governador Geraldo Alckmin declarou que o PCC estava extinto como organização estruturada. Uma avaliação, no mínimo, ingênua e precipitada. Hoje, duas décadas depois, a facção atua como uma máfia empresarial com braços em vários países da América do Sul. Tem hierarquia, códigos, contabilidade, estrutura financeira e, sobretudo, um poder de intimidação que rivaliza com o do próprio Estado.

Na Amazônia, por exemplo, o crime organizado está assumindo o lugar das instituições. Facções investigam, julgam, condenam e executam. Depois, enviam os vídeos das execuções às autoridades públicas. Um governo paralelo, armado e cruel, impõe sua própria lei. É a barbárie institucionalizada. A ausência do Estado e a covardia de sucessivos governos criaram o terreno fértil para o avanço dessa criminalidade sem freios.

Enquanto isso, o veto permanente ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, disfarçado de defesa ambiental, contribui para agravar o problema. A política de paralisia promovida pela ministra Marina Silva, pelo Ibama e por um exército de ONGs ideologizadas impede a geração de emprego e empurra milhares de jovens para o colo das facções. A miséria é a principal aliada do crime. O combate à criminalidade exige repressão qualificada, mas também oportunidades reais de trabalho e educação. Sem desenvolvimento, não há segurança possível.

O Brasil não pode se curvar ao crime. A criação de um narcoestado não é uma hipótese distante – é uma realidade em rápida consolidação. O Estado precisa reagir com firmeza e inteligência. O presidente Michel Temer, à época, acertou ao criar o Ministério da Segurança Pública e instituir o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Foi um passo importante. O combate ao crime exige uma articulação nacional.

É preciso declarar guerra ao crime organizado. Guerra sem tréguas. Isso significa inteligência policial articulada, repressão firme, penas severas e um sistema prisional realmente controlado pelo Estado – e não pelas facções. É preciso acabar com a impunidade e com o faz de conta institucional. O combate ao PCC e a outras organizações criminosas não é uma questão regional. É uma guerra nacional. E precisa ser tratada como tal.

O crime avança porque o Estado se omite. A leniência de autoridades, a politização da segurança e o populismo penal alimentam o monstro que agora ameaça devorar o país. A história recente mostra que, quando o Estado hesita, o crime ocupa o espaço. O PCC é o retrato vivo dessa omissão prolongada. Nasceu nos presídios, cresceu com a conivência dos poderosos e hoje impõe sua lei à sociedade.

A leniência de autoridades, a politização da segurança e o populismo penal alimentam o monstro que agora ameaça devorar o país

O enfrentamento, portanto, não pode ser episódico nem retórico. É preciso uma política de Estado, não de governo. Uma estratégia nacional que envolva as Forças Armadas, a Polícia Federal, as polícias estaduais e o sistema de inteligência. O Brasil precisa recuperar o monopólio da força, fundamento essencial da soberania. Onde o Estado perde esse monopólio, instala-se o caos.

A omissão tem um preço – e ele é pago em sangue. Policiais assassinados, civis aterrorizados, comunidades dominadas, jovens aliciados. Cada morte é uma acusação. Cada silêncio, uma cumplicidade.

A sociedade brasileira clama por segurança e por ordem. A covardia política diante do crime organizado é um atentado contra a própria democracia. Não há liberdade onde reina o medo. Não há paz social quando o Estado abdica do dever de proteger seus cidadãos.

O tema estará no centro do debate eleitoral de 2026. E será inevitável. O país quer respostas, não justificativas. Quem se omitir, quem relativizar, quem preferir o silêncio cúmplice estará do lado errado da história. O Brasil precisa de líderes corajosos, capazes de dizer o óbvio: o crime não é um ator político, é um inimigo da nação. E contra inimigos, a resposta deve ser firme, coordenada e implacável.



Fonte: Revista Oeste

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