Poucas bandas de rock e heavy metal mantiveram tão bem a forma em álbuns de estúdio como o Iron Maiden. São 17 discos de inéditas lançados pelo grupo composto na maior parte do tempo por Bruce Dickinson (voz), Dave Murray (guitarra), Adrian Smith (guitarra), Janick Gers (guitarra), Steve Harris (baixo) e Nicko McBrain (bateria); a maior parte em alto patamar de qualidade.
Por isso, é tarefa hercúlea pinçar os cinco melhores e, na visão de muitos leitores como você, algumas injustiças podem ter sido cometidas. Mas vale o desafio. A lista a seguir apresenta as escolhas e seus respectivos comentários. Confira!
Os 5 melhores discos do Iron Maiden segundo crítico da Rolling Stone Brasil
5) Brave New World (2000)
A história do Iron Maiden na década de 90 é um bom exemplo de: a união faz a força. Bruce Dickinson deixou a formação em 1993 e concebeu bons álbuns solo, mas não havia o poder de seus trabalhos com a banda — que, por sua vez, também não agradou ao substitui-lo por Blaze Bayley e deixar perder um pouco de seu encanto. Dickinson e Maiden sabiam que funcionam melhor juntos, engoliram seus egos e toparam se reunir. A tiracolo, Bruce ainda trouxe Adrian Smith, que estava fora desde 1990, mas todos decidiram que o ocupante de seu posto, Janick Gers, seria mantido. Deu tão certo que, exceção feita ao afastamento de Nicko McBrain por razões de saúde no fim de 2024, todos seguem juntos.
Ótimos álbuns surgiram desde então, mas Brave New World ainda é o melhor retrato da formação sexteto. As tentativas de soar mais prog com The X Factor (1995) e Virtual XI (1998), aqui, foram convertidas em acertos, já que a assinatura criativa de Dickinson e Smith fazem a diferença — como se nota no hino “The Wicker Man” e em “The Fallen Angel”, por exemplo. Além disso, contar com três guitarristas expandiu as possibilidades, o que se percebe em “Ghost of the Navigator” e “Dream of Mirrors”. E o mais legal de tudo: as contribuições de Gers não se suprimiram, haja vista que o guitarrista coassina quatro faixas, destacando-se o segundo single, “Out of the Silent Planet”.
4) Somewhere in Time (1986)
Após cinco álbuns e um sucesso construído a partir de uma ética de trabalho indefectível, o Iron Maiden estava esgotado. Física e criativamente. Foram mais de 850 shows entre 1979 e 1985 — média de mais de 140 apresentações por ano; duas a cada cinco dias, com longas viagens no meio. Ninguém aguenta: Bruce Dickinson ficou viciado em sexo, Adrian Smith sofreu com depressão e alcoolismo, Steve Harris se isolou de um jeito nada saudável. Um contexto perfeito para uma banda ruir, correto?
Não foi o caso do Maiden. Surpreendentemente, eles se recuperaram e fizeram Somewhere in Time, um álbum de temática futurista que não apenas os reposicionou na década de 1980, como também estabeleceu novos padrões em termos conceituais, líricos e melódicos. Esgotado, Dickinson não ajudou no processo de composição, assumido apenas por Adrian Smith e Steve Harris — embora Dave Murray coassine “Deja-Vu”. E é delicioso observar como eles criam de jeitos diferentes, mas complementares: Smith desfila seu apreço por melodias fortes em “Wasted Years” e “Stranger in a Strange Land”, enquanto a veia prog de Harris salta em “Caught Somewhere in Time” e “Alexander the Great”. Somewhere in Time é tão subestimado que acabou largamente ignorado nos repertórios de turnês subsequentes, a ponto de o grupo retomá-lo na recém-encerrada The Future Past.
3) Powerslave (1984)
O álbum que encerra uma série de ciclos para o Iron Maiden. Powerslave é o resultado de praticamente uma década — o grupo foi fundado em 1975 — de esforços; dos mais básicos, como estabelecer uma formação minimamente estável, aos mais complexos, a exemplo de desenvolver uma assinatura sonora própria sem repetir o que havia feito no disco anterior. Não à toa, o quinteto começou a mudar sua pegada a partir do trabalho seguinte, curiosamente o quarto colocado nesta humilde lista. Nem tinha como ser diferente: Powerslave é tão rico que não havia mais para onde ir a partir daqui.
O quinto disco de estúdio do Maiden também firmou, de modo mais claro, as individualidades criativas. Pela primeira vez, Bruce Dickinson foi creditado pela autoria de duas músicas num mesmo trabalho: a clássica faixa-título e o lado B “Flash of the Blade”. Também assinou duas canções junto a Adrian Smith, cada vez mais à vontade: o hard rock com cara de hit “2 Minutes to Midnight” e outra menos reconhecida, “Back in the Village”. Mas vieram de Steve Harris, principal compositor, as obras mais ousadas: a intensa “Aces High”, que arrancou de Dickinson uma de suas mais incríveis performances vocais, e a épica “Rime of the Ancient Mariner”, com seus mais de 13 minutos de duração — por 31 anos foi a mais longa de todo o catálogo até “Empire of the Clouds”, ocupando 18 minutos de The Book of Souls (2015).
2) Killers (1981)
Escolha ligeiramente controversa, eu sei. Mas não há como negar a força dos dois álbuns do Iron Maiden com Paul Di’Anno. Ambos ajudaram a catapultar a banda a um estrelato inicial pois, já de cara, soavam únicos. Era heavy metal, mas não quadradinho como o de muitos grupos da chamada New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM): havia influências mistas a ponto de fundir o hard rock de melodias de nomes como Wishbone Ash e UFO a, sim, uma feroz pitada punk — refutada por Steve Harris, mas garantida por Di’Anno. Naquela época, ou era visceral, ou era harmonioso. O Maiden conseguia ser os dois.
Killers tem um repertório tão forte quanto o do disco de estreia homônimo, lançado em 1980. Todavia, sua produção, assinada pela primeira vez na trajetória do grupo por Martin Birch — com quem eles fariam uma longa parceria —, elevou os resultados a outro patamar. “Wrathchild” se tornou praticamente eterna no setlist do Maiden e é um desperdício que, com o tempo, eles tenham deixado de tocar pérolas como “Murders in the Rue Morgue”, a faixa-título “Killers” e “Purgatory”, ainda que, reconhecidamente, Bruce Dickinson nunca as tenha interpretado com a mesma fúria que o saudoso Di’Anno.
1) The Number of the Beast (1982)
O Iron Maiden evoluiu muito enquanto banda conforme o desenrolar da década de 1980. Ficou mais sofisticado, seja em conteúdo lírico, trabalho rítmico, exploração de melodias, performance vocal… mas há algo em The Number of the Beast que parece encapsular tudo o que um disco de heavy metal precisa ter. Até os fillers “Invaders” (curiosamente a abertura da tracklist) e “Gangland” são charmosos.
O primeiro álbum com Bruce Dickinson nos vocais equilibra a inocência dos anos iniciais com as características sofisticadas que ainda seriam reforçadas nos trabalhos seguintes. Um hino quase radiofônico como “Run to the Hills” divide espaço com “Hallowed Be Thy Name”, que, acusação de plágio à parte, segue como uma das canções de heavy metal mais dramáticas e sedutoras de todos os tempos. O faro autoral de Adrian Smith, guitarrista que esteve fora do primeiro álbum, começou a florescer de vez com a incrível “The Prisoner” e a quase hard rock “22 Acacia Avenue”. Não dá para chamá-la de balada, mas “Children of the Damned” tem uma construção melódica tão forte que o próprio Maiden usou e abusou do formato no futuro.
E tem até um ingrediente raro na trajetória do grupo, mas indispensável no rock and roll: polêmica, gerada pela faixa-título “The Number of the Beast”, mal interpretada pelo público americano a ponto de definirem os caras como satanistas e promoverem boicotes. Só aumentou o interesse em torno deles. Quer coisa mais legal do que isso?
*Menções honrosas a Iron Maiden (1980), Piece of Mind (1983 — a depender do humor, caberia neste top 5), Seventh Son of a Seventh Son (1988), Dance of Death (2003) e Senjutsu (2021).
Rolling Stone Brasil especial: Iron Maiden
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Fonte: rollingstone.com.br