PUBLICIDADE

Oposição mostrará na CPI que estados da direita são mais seguros


Em nova derrota para a oposição, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu garantir o comando da CPI do Crime Organizado, instalada nesta terça-feira (4) no Senado. A base aliada elegeu o petista Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência, enquanto os oposicionistas, liderados por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Hamilton Mourão (Republicanos-RS), agora apostam em usar a comissão como palco para reafirmar a imagem da direita no combate ao crime. A relatoria ficou com o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do pedido de criação do colegiado.

A estratégia da oposição é mostrar como estados governados pela direita são mais seguros que estados governados pela esquerda.

Na sessão de instalação da CPI, os senadores aprovaram sete requerimentos apresentados pelo relator Alessandro Vieira, incluindo convites a governadores e secretários de Segurança Pública dos estados considerados mais seguros — Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal —, todos administrados por políticos do campo da direita.

Outros cinco estados com os piores índices de violência também terão representantes chamados a depor: Amapá, Bahia, Pernambuco, Ceará e Alagoas. A Bahia é governada pelo petista Jerônimo Rodrigues, e o Ceará, pelo também integrante do PT Elmano de Freitas.

“O meu estado, o Ceará, tem sofrido, com famílias inteiras sendo expulsas de casa. Há bairros fantasmas e distritos do interior completamente abandonados. É um estado paralelo. E a Bahia, que dos 12 municípios mais violentos do Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, dez estão entre a Bahia e o Ceará, ambos administrados pelo PT. Alguns podem dizer que é coincidência, mas eu não vejo assim”, afirmou Girão.

O senador Márcio Bittar (PL-AC) também destacou a gravidade do avanço do crime organizado e afirmou que, mesmo com a resistência do governo, a CPI deve cumprir um papel essencial ao expor a crise de segurança no país. “O governo não quer, não quis, mas a CPI vai acontecer. E o que é fundamental nós vamos esclarecer. Hoje a própria mídia dá conta de que 50 milhões de brasileiros estão submetidos ao mando de facções criminosas. Nesse caso, o Estado de Direito está quebrado, porque ali não manda o Estado, ali manda facção criminosa, que eu comparo com terroristas”, disse Bittar.

Na contramão da oposição, o presidente da CPI, Fabiano Contarato, afirmou que atuará de forma independente e que a segurança pública “não deve ser uma pauta apenas da direita”. Ele destacou ter apoiado projetos que enfrentaram resistência entre governistas, como a Lei 14.843, que restringiu as saídas temporárias de presos, e o PL 1.473/2025, que propõe aumentar até o dobro as punições aplicadas a adolescentes envolvidos em crimes graves.

“Faço um apelo às lideranças progressistas: é hora de ocupar esse espaço de debate com coragem, técnica e empatia, porque enquanto hesitamos, o medo avança. Progressismo, para mim, é enfrentar a realidade de frente, não ignorá-la. Eu acredito na ressocialização, mas não em impunidade disfarçada de compaixão”, afirmou o senador.

PT se recusou a apoiar, mas vai presidir CPI após manobra do governo

Contarato foi eleito com seis votos, enquanto o candidato da oposição, Hamilton Mourão, recebeu cinco. Líder do Novo, o senador Eduardo Girão (CE) manifestou sua insatisfação com a articulação feita de última hora pelos governistas para alterar a composição da CPI.

A manobra ocorreu com a substituição do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), visto pelos oposicionistas como o “fiel da balança”, por Angelo Coronel (PSD-BA), de perfil governista. Dessa forma, o colegiado passou a ter seis senadores alinhados ao Palácio do Planalto e cinco à oposição.

“Manifestei a minha indignação, votei por outro candidato de oposição para fazer esse equilíbrio, essa independência, mas perdemos por um voto, porque partidos da base se movimentaram de ontem para hoje, tiraram nomes que estavam certos para votar e botaram outros. É o mesmo modus operandi de sempre. Na CPI da roubalheira do INSS, da qual nós conseguimos o comando a duras penas, depois eles ocuparam os espaços, remodelaram tudo, dançaram cadeiras e estão blindando as investigações”, disse Girão.

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) argumentou que nenhum integrante do PT havia assinado o requerimento para criação da CPI. “Nós, da oposição, não temos nenhum conforto em votar em alguém do PT para comandar essa CPI, até porque ninguém do governo assinou o requerimento de criação da comissão. Por isso, a nossa sugestão foi a de indicar o senador general Mourão”, afirmou.

Autorizada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a CPI terá 120 dias de funcionamento, prorrogáveis por igual período. Além de Flávio Bolsonaro e Girão, integram o grupo senadores como Sergio Moro (União-PR), Magno Malta (PL-ES) e Marcos do Val (Podemos-ES) — todos críticos ao Planalto.

Lula critica operação e dá novo combustível à oposição

Em outra frente, a oposição pretende explorar as declarações do presidente Lula para se contrapor às políticas de esquerda na área da segurança pública.
Na tarde desta terça-feira (4), o petista afirmou que o governo federal pretende investigar a Operação Contenção, ação policial que terminou com 121 mortes no Rio de Janeiro.

Segundo o presidente, a operação extrapolou o que estava previsto nos mandados judiciais e acabou se transformando em uma “matança”. “Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação. Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve matança”, disse Lula em entrevista às agências Associated Press e Reuters, durante viagem a Belém (PA).

A fala do presidente contraria o discurso do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que classificou a operação como um “sucesso” e afirmou, em ofício enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que a força policial foi empregada de forma proporcional.

As declarações também destoam da opinião pública. Uma pesquisa da Genial Investimentos, em parceria com o Instituto Quaest, divulgada no sábado (2), mostrou que 64% dos moradores do Rio de Janeiro aprovam a operação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no dia 28 de outubro. Para 73%, a polícia deveria realizar mais ações desse tipo em comunidades e favelas.

Além da divergência com o governo fluminense, a crise foi ampliada por uma fala recente de Lula na Indonésia, quando o presidente afirmou que o combate ao tráfico de drogas passa também pela responsabilização dos usuários.

A declaração — em que o petista sugeriu que “o usuário é responsável pelo traficante” — gerou forte reação no meio político e deve ser usada pela oposição como novo elemento de contraste no debate sobre segurança pública.

VEJA TAMBÉM:

  • Modelo de Bukele é incompatível com nossa Constituição, diz relator da CPI
  • Lula chama operação policial no Rio de “matança” e quer investigação federal



Fonte: Revista Oeste

Leia mais

PUBLICIDADE