A trajetória do Pink Floyd ficou marcada por músicas geniais e tretas intensas. Até a fase de maior sucesso da banda se notabilizou pelas discordâncias entre os integrantes, especialmente Roger Waters, baixista e principal compositor, e David Gilmour, guitarrista.
Mas nem sempre foi assim. Relatos distintos apontam que, até certo momento, havia relativa paz no grupo completo por Nick Mason (bateria) e Richard Wright (teclados). Gilmour compartilhou mais detalhes em entrevista de 2002 à La Repubblica (via Far Out).
Segundo o guitarrista, até o álbum Animals (1977) o grupo “se manteve firme”. Waters e ele até discordavam de algumas questões, mas a relação só azedou depois disso, com o álbum The Wall (1979) e sua respectiva turnê.
“[O Pink Floyd se manteve firme] até Animals. Então, talvez por causa daquele veneno de corrupção de que eu estava falando, nós ruímos. De fato, cada um ruiu à sua maneira. O período que abrangeu e incluiu The Wall foi o pior da nossa história. Perdemos o sentido do nosso trabalho.”
A tal corrupção citada por David veio em resposta a uma pergunta sobre The Dark Side of the Moon (1973), primeiro álbum do Pink Floyd a realmente fazer sucesso. Ele explica:
“Éramos fortes e arrogantes. […] Tivemos a sensação de que tínhamos conseguido fazer uma obra-prima, algo que mudaria a nossa história primeiro, e depois a do mundo ao nosso redor também. Éramos de certo modo corruptos, como se por um momento realmente achássemos que poderíamos fazer qualquer coisa. O dinheiro te corrói por dentro.”
Em entrevista mais recente, ao canal de Rick Beato, o engenheiro de som Alan Parsons — que trabalhou com o Pink Floyd em Atom Heart Mother (1970) e The Dark Side of the Moon — confirma que Roger Waters e David Gilmour eram amigos nesse período. Existia uma avaliação crítica interna em relação ao trabalho deles, mas nada fora do normal. Parsons afirma (via site Igor Miranda):
“Eles eram críticos em relação às performances uns dos outros e não tinham medo de dizer. Se David Gilmour tivesse criado um solo de guitarra incrível, Roger só diria um ‘acho que está bom, David, obrigado’ [Risos]. Era um ‘parabéns’ bem discreto. Mas eles se deram muito bem. Fazer Dark Side foi uma alegria. Todo mundo estava interessado no que estavam fazendo. Todo mundo era amigável. É terrivelmente triste que exista uma rixa entre eles agora.”
O pior período do Pink Floyd, segundo David Gilmour
Em entrevista de 1987 à Rolling Stone EUA (via site Igor Miranda), David Gilmour definiu o período que gerou o álbum The Final Cut (1983) como o ponto mais baixo da trajetória do Pink Floyd.
O sucessor do multiplatinado The Wall (1979) não conseguiu repetir o padrão de sucesso alcançado pela banda nos anos anteriores. Com letras inspiradas na Guerra das Malvinas e uma série de referências à história pessoal de Waters, o disco vendeu menos que todos aqueles lançados após Meddle (1971).
Gilmour comenta:
“[Foi um período] Muito miserável. Até Roger diz que foi um período miserável — e foi ele quem o tornou assim, pelo menos na minha opinião.”

As discordâncias entre ambos eram fundamentadas, basicamente, na direção criativa do Pink Floyd. David acreditava que várias músicas de The Final Cut não se mostravam boas o suficiente para entrar no disco. O baixista, por sua vez, criticava o guitarrista por deixar de ajudar nas composições, deixando tudo em suas costas.
Em outra entrevista, nos anos 2000, Gilmour reforça o seu ponto. Apesar das letras não estarem de acordo com seus posicionamentos, o problema era outro.
“Havia todo tipo de discussão sobre assuntos políticos, e eu não partilhava das visões dele. Mas nunca, jamais, quis ficar no caminho dele de expressar a história de The Final Cut. Eu simplesmente não achava que algumas das músicas estavam à altura.”
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Fonte: rollingstone.com.br