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O reinado de corrupção de Elon Musk narrado no relatório de Elizabeth Warren


Enquanto Elon Musk se despede da Casa Branca de Trump (ao menos oficialmente) um novo relatório do Senado analisa como o homem mais rico do mundo usou seu acesso às engrenagens do poder federal para impulsionar seus inúmeros negócios pessoais, incluindo sua empresa de veículos elétricos Tesla, a contratante aeroespacial SpaceX, a plataforma de mídia social X e a empresa de implantes cerebrais Neuralink.

Musk está deixando seu cargo como “funcionário especial do governo”, um status que limitava sua permanência no Poder Executivo a 130 dias. Como Donald Trump deixou claro em uma coletiva de imprensa, na qual entregou a Musk uma “chave” da Casa Branca, a influência do bilionário continuará, assim como sua cruzada contra seus próprios órgãos reguladores.

Emitido pela senadora Elizabeth Warren (democrata de Massachusetts), o relatório é intitulado Interesses Especiais Acima do Interesse Público: Os 130 Dias de Elon Musk na Administração Trump e apresenta uma lista de 130 ações de Musk, de suas empresas e de membros de sua família que “levantam questões sobre corrupção, ética e conflitos de interesse”.

Musk, é claro, foi o maior benfeitor de Trump na campanha de 2024, gastando quase 300 milhões de dólares para colocar Trump e candidatos republicanos no poder. Ele então se instalou em Mar-a-Lago durante a transição presidencial e mudou-se para Washington junto com o 47º presidente. Em alguns momentos, chegou a parecer o verdadeiro chefe do Executivo nacional, comandando as forças do chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) e submetendo agências cruciais, como a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a uma “trituradora de madeira”, condenando provavelmente milhões de pessoas vulneráveis ao redor do mundo à morte por doenças evitáveis.

O relatório de Warren foca no uso do poder político por Elon para alavancar seus negócios ou garantir benefícios especiais, desde alívio regulatório até contratos novos e lucrativos, que favorecem sua fortuna e sua família.

O relatório esclarece que “nem toda ação listada… representa uma violação da lei federal”, mas argumenta, em vez disso, que “Musk violou normas em um ritmo impressionante” ao se envolver em ações (e apoiar ações) que estão “prejudicando o público americano”. O documento rotula esse comportamento como “escandaloso, independentemente de sujeitá-lo ou não a processo criminal”.

O relatório de Warren divide sua lista em 15 categorias, que a Rolling Stone pode antecipar com exclusividade abaixo:

1. Promoção pela Casa Branca

O relatório destaca o momento em que os showrooms da Tesla estavam sendo cada vez mais alvo de protestos públicos, e Trump transformou o gramado da Casa Branca em um estacionamento da Tesla.

2. Contratos Lucrativos

O relatório destaca mais de 20 casos em que Musk ou o DOGE ajudaram as empresas de Musk a garantir novos contratos em vias privilegiadas de negócios lucrativos. Por exemplo, menciona a reportagem da Rolling Stone sobre como funcionários da Administração Federal de Aviação (FAA) foram instruídos a encontrar “dezenas de milhões” de dólares para um novo e lucrativo contrato com a Starlink. Também cita um novo contrato de 100 milhões de dólares da NASA com a SpaceX para lançar um telescópio espacial de monitoramento de asteroides.

3. Investigações Paralisadas

Quando Trump assumiu o cargo, as empresas de Musk enfrentavam penalidades e ações de fiscalização federais que somavam até 2,4 bilhões de dólares, segundo o relatório. Warren destaca uma reportagem da CNBC afirmando que o governo federal permitiu que quase 40 processos contra empresas de Musk ficassem efetivamente inativos, enquanto outros — incluindo um processo do Departamento de Justiça contra a SpaceX por suposta discriminação contra imigrantes nas contratações — foram arquivados.

4. Supervisão Prejudicada

O relatório descreve como Musk e o governo atacaram agências com poderes para regular os negócios de Musk — incluindo “dissolver suas equipes, sabotar seu funcionamento e colocar funcionários do DOGE leais a Musk em cargos estratégicos”. Um exemplo central é o Bureau de Proteção Financeira ao Consumidor (Consumer Financial Protection Bureau), que tem autoridade para fiscalizar Musk enquanto ele transforma a plataforma X em um sistema de pagamentos. “Acabem com o CFPB”, postou Musk — e o governo tem tentado levar a agência à beira do colapso.

5. Vantagens em Políticas Públicas

Musk atua em muitas áreas altamente regulamentadas, desde o lançamento de foguetes até implantes cerebrais biomédicos. Sob o governo Trump, a FAA tornou-se uma agência a serviço da SpaceX, liberando lançamentos de foguetes apesar de falhas catastróficas frequentes. Nas disputas tarifárias de Trump sobre automóveis, a administração anunciou que carros com 85% de conteúdo doméstico estariam isentos da tarifa, uma categoria que, segundo relatos, inclui apenas veículos da Tesla.

6. Acesso Especial

Nunca antes um megadoador presidencial teve tanto acesso irrestrito a dados governamentais, informações privilegiadas e tomadores de decisão. O relatório destaca o papel de Musk como participante dominante nas reuniões do gabinete de Trump, apesar de não ocupar um cargo de nível ministerial, tendo “acesso a mudanças iminentes de políticas no mais alto nível do governo”, muitas das quais poderiam beneficiar diretamente seus negócios.

7. Um Estado Profundo Pessoal

Musk esteve profundamente envolvido, por meio do DOGE, nas decisões de recursos humanos do governo federal, demitindo dezenas de milhares de funcionários enquanto instalava aliados em toda a burocracia. Muitos deles, agora ocupam cargos permanentes no governo e poderão implementar políticas alinhadas a Musk mesmo sem sua direção ativa, incluindo o chefe da Comissão Federal de Comunicações (FCC), que supervisiona o espectro de rádio necessário para o funcionamento da Starlink, o serviço de internet via satélite da SpaceX.

8. “Interesses Pessoais e Localistas”

O relatório vincula Musk ao súbito e curioso interesse da administração Trump pela causa dos africâneres brancos da África do Sul, que receberam status de refugiados com base em alegações exageradas de Musk de que enfrentam um “genocídio”, ao mesmo tempo em que outras pessoas verdadeiramente vulneráveis ao redor do mundo têm sua entrada nos Estados Unidos negada.

9. Campanha de Intimidação

O relatório destaca uma investigação do Wall Street Journal sobre ameaças percebidas por parte de executivos da X, que insinuaram que uma fusão planejada entre conglomerados de publicidade poderia enfrentar dificuldades caso os clientes não aumentassem seus gastos com a plataforma de mídia social.

10. Instrumentalização do Poder Federal

O relatório liga Musk à “aparentemente infundada” investigação da Comissão Federal de Comércio (FTC) do governo Trump sobre uma possível conivência entre a Media Matters e anunciantes. A X processou o grupo de vigilância no final de 2023, após a Media Matters relatar que anúncios estavam sendo exibidos na plataforma ao lado de conteúdo “pró-nazista”, o que levou grandes marcas a suspenderem suas campanhas publicitárias.

11. Tráfico de Influência no Congresso

O relatório vincula a influência de Musk na Casa Branca a cláusulas favoráveis no projeto orçamentário da Câmara dos Deputados, incluindo o financiamento do “Domo Dourado”, um programa de defesa antimísseis baseado no espaço que parece feito sob medida para a Starlink.

12. “Acordos por Carona”

O relatório de Warren destaca dezenas de acordos firmados por empresas de Musk com países sob ameaça de tarifas por parte da administração, além da presença de Musk na turnê de Trump pelo Golfo Pérsico, durante a qual o chefe do DOGE anunciou acordos próprios — incluindo um acerto para que a Neuralink iniciasse testes clínicos nos Emirados Árabes Unidos.

13. Negócios em Família

O relatório mostra como o poder de Musk está se traduzindo em acordos para membros de sua família, como seu irmão, que recentemente fechou um contrato com estados do Golfo para realizar shows de drones com luzes, e seu pai, que segundo relatos está em negociações para construir uma Musk Tower em Dubai.

14. Interferência no Judiciário

A tentativa fracassada de Musk de financiar uma tomada conservadora da Suprema Corte de Wisconsin é destacada no relatório, assim como seus apelos para que juízes que se opõem a Trump sejam submetidos a impeachment.

15. “Transparência Máxima” — Negada

Apesar da promessa de “transparência máxima” por parte do DOGE, o próprio Musk tem escondido suas ações que quebram normas sob um véu de sigilo, conclui o relatório, deixando de divulgar seus vastos ativos financeiros, ou se recebeu (e quais) isenções das exigências de ética do governo federal.

Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Tim Dickinson, no dia 3 de junho de 2025 e pode ser conferido aqui.

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Fonte: rollingstone.com.br

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