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O que mais o Rock and Roll Hall of Fame quer de Mariah Carey?


Quando Mariah Carey recebeu sua segunda indicação para o Rock and Roll Hall of Fame no início deste ano, o presidente da fundação da instituição, John Sykes, divulgou um comunicado celebrando o novo grupo de indicados. “Esses indicados notáveis criaram cada um seu próprio estilo musical e atitude, impactando gerações de amantes da música”, escreveu ele. Carey apareceu na cédula deste ano ao lado de Phish, Outkast, Oasis, Billy Idol, Cyndi Lauper, Joy Division/New Order, Soundgarden, The White Stripes, Joe Cocker, Bad Company, Black Crowes, Chubby Checker e Maná.

Carey também esteve na cédula em 2024. Naquela ocasião, apareceu ao lado de Cher, Ozzy Osbourne, Oasis, Sinéad O’Connor, Mary J. Blige, Dave Matthews Band, Eric B. & Rakim, Foreigner, Peter Frampton, Jane’s Addiction, Kool and the Gang, Lenny Kravitz e A Tribe Called Quest

Na época, Sykes compartilhou outra versão de sua declaração comemorativa: 

“Esses artistas criaram seus próprios sons, que impactaram gerações e influenciaram inúmeros outros que seguiram seus passos.”

Os critérios expressos nessas declarações não eram menos verdadeiros em 2024 ou 2025 do que em 2016, quando Carey se tornou elegível pela primeira vez para a prestigiosa homenagem. Na verdade, mal levou uma década após o lançamento de seu álbum de estreia, Mariah Carey, em 1990, para sua influência começar a moldar uma nova geração de divas do pop que assumiriam o controle de seus próprios vocais no estúdio com a mesma autoridade que exibiam nos palcos.

E, ainda assim, pelo segundo ano consecutivo, a cantora, compositora e produtora foi deixada de fora da cerimônia de indução. Bad Company, Chubby Checker, Joe Cocker, Cyndi Lauper, OutKast, Soundgarden e The White Stripes farão parte da turma de 2025. A cada ano que passa, o legado construído por Carey se torna apenas mais indiscutível. O que mais o Rock and Roll Hall of Fame quer dela?

No ano passado, Mariah Carey admitiu ter ficado um pouco decepcionada por não ter sido escolhida para integrar a turma de 2024 do Rock and Roll Hall of Fame. 

Sobre o tema, ela falou ao Los Angeles Times:

“Todo mundo estava me ligando dizendo: ‘Acho que você vai entrar!’ e eu fiquei empolgada com isso. Mas aí não aconteceu.”

Ela sentiu uma expectativa parecida em 1996, quando seu álbum Daydream (1995) recebeu seis indicações ao Grammy, incluindo Álbum do Ano. Hits como “One Sweet Day”, “Always Be My Baby” e “Fantasy” — todos nº 1 na parada americana — estavam entre os indicados. “Todas essas músicas foram enormes”, disse ela, então pelo menos alguma venceria, certo? “Aí eu fiquei sentada lá o tempo todo e não ganhei nada. Eu pensei: ‘Isso não é divertido. Mas o que posso fazer?’”

Mariah Carey, em 1996 – Foto: Rob Verhorst / Redferns

Essas três músicas representam apenas uma fração dos 19 singles que chegaram ao número 1 na carreira de Mariah Carey ao longo dos últimos 35 anos — sendo que ela tem créditos como coautora em 18 deles. Em 1998, já tinha tantos sucessos que lançou sua primeira coletânea, Number 1’s, reunindo os 13 hits que acumulou em apenas oito anos.

Atualmente, Carey comemora os 20 anos de The Emancipation of Mimi, álbum que a apresentou a uma nova geração de ouvintes como uma verdadeira fábrica de hits. Foi dele que saíram faixas como “We Belong Together”, “Shake It Off”, “Don’t Forget About Us” e “It’s Like That” — pequenos trechos do que Carey disse à Rolling Stone, em 2024, ser “meu trabalho favorito”.

Na história do Rock and Roll Hall of Fame, artistas como Patti Smith e Solomon Burke precisaram de sete a nove indicações para finalmente serem incluídos. O Chic foi indicado 11 vezes e nunca entrou (embora Nile Rodgers tenha sido incluído em 2017 com o prêmio de Excelência Musical). Janet Jackson e Joni Mitchell só foram reconhecidas após três indicações, muitos anos depois do período de elegibilidade. Donna Summer, cinco vezes em cinco anos. E até Brenda Lee — cujo single “Rockin’ Around the Christmas Tree” compete com “All I Want for Christmas Is You” nas paradas todos os anos, só foi indicada em 2002, após três tentativas. Como muitos desses artistas, Carey jamais deveria ter precisado de mais de uma. Como muitos desses artistas, Mariah Carey nunca deveria precisar de mais de uma indicação.

Em 2022, Mariah Carey foi incluída no Songwriters Hall of Fame. Seu discurso teve o toque dramático que virou sua marca registrada, mas também destacou os anos em que passou “andando sozinha e criando melodias, escrevendo palavras em um caderno”. Essa homenagem, em especial, teve um peso enorme. Ela contou que precisa “constantemente” lembrar as pessoas de que é compositora. Mas era mais do que isso. 

Questlove explicou o porquê: 

“Esse é o poder do sucesso — especialmente no nível da Mariah Carey — porque você pode ser ignorado em certos aspectos, e as pessoas esquecem que você é uma artista. As pessoas esquecem, e de repente você vira apenas um produto.”

A resiliência sempre foi um fio condutor na carreira de Carey. Ela nunca fica muito tempo no escuro antes de voltar para os holofotes (ou para as luzinhas piscando das festas de fim de ano). Enfrentou rivalidades — reais e fabricadas, como acontece com quase toda estrela pop — mas nada que abalasse sua aura serena e imperturbável. Lançou 15 álbuns de estúdio e venceu 6 dos 34 Grammys a que foi indicada. Seu legado se construiu sobre uma base sólida de força pessoal e uma das vozes mais únicas que a música já conheceu. Mariah está no mesmo patamar de Janet e Whitney. Mariah é a raiz de Christina e Ariana. Uma em um milhão.

“Não existem palavras suficientes. Obrigada do fundo do meu coração por esse sonho realizado e por ter espalhado sua genialidade e magia na minha musiquinha”, disse Ariana Grande quando Mariah Carey — “a única, rainha do meu coração e inspiração de toda a vida” — participou do remix de seu single “Yes, And?”, em 2024. Esse sempre foi o sonho de Carey. “Não quero ser apenas categorizada como ‘daquela era’. Meu objetivo é ter uma carreira duradoura. Caso contrário, qual é o sentido?”, ela disse à Vibe em 1998. Foi para isso que ela trabalhou. 

“A [Sony] lançava só quatro singles de um álbum meu. Enquanto uma Janet, por exemplo, lançava uns sete e ficava trabalhando o mesmo disco por dois anos. Mas comigo era assim: ‘Vai pro estúdio! Mais músicas! Canta! Canta!’”

Mais de 1,2 mil artistas, historiadores e profissionais da indústria — os votantes do Hall da Fama — moldam a história da música com simples marcações numa cédula de indicações. Os critérios de seleção do Hall deveriam levar em conta o impacto de um artista na cultura musical, como o sucesso inovador de Mariah Carey como produtora e compositora pop em meio ao machismo corporativo. Também é sobre influência em outros músicos — como Latto, que transformou “Fantasy” em um hit dos anos 2020 com “Big Energy”, ou Megan Thee Stallion, que canta “I feel like Mariah Carey / Got these n#gg@s so obsessed” no seu single número 1, “Hiss”. O Hall também valoriza alcance e longevidade — tanto na carreira quanto na obra. E aí está Carey: no cruzamento entre pop, R&B e hip-hop (sem contar aquele álbum grunge alternativo guardado em algum cofre por aí).

Seja lá o que o Hall esteja procurando, Mariah Carey já tem. Está na voz. Nas músicas. No legado. Ela já marcou todas as caixas. Agora, é a vez do Hall. Talvez a terceira vez seja o Charmbracelet — mas essa homenagem já vem tarde demais.

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Fonte: rollingstone.com.br

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