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o lado roqueiro do presidente que legalizou a maconha no Uruguai


“Até sempre, companheiro!” — é a legenda da foto compartilhada pelos integrantes da banda Ska-P, o icônico grupo de punk espanhol que, desde meados dos anos 90, segue firme em sua postura crítica contra o capitalismo, o fascismo, o imperialismo e diversas instituições da sociedade ocidental.

Na imagem, os músicos posam ao lado de José “Pepe” Mujica, ex-integrante do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, preso político por mais de uma década em condições desumanas (entre 1972 e 1985), uma das maiores figuras do partido de esquerda Frente Ampla e presidente do Uruguai entre 2010 e 2015.

O encontro aconteceu na chácara simples onde Mujica viveu e morreu, localizada em Rincón del Cerro, nos arredores de Montevidéu. Foi ali que ele decidiu passar seus últimos dias após o diagnóstico de um câncer terminal há cerca de um ano. O ex-presidente faleceu ontem, 14, aos 89 anos, cercado pela mesma humildade que marcou toda a sua trajetória.

“Tenho lembranças muito bonitas do Pepe, porque ele foi nos ver tocar ao vivo várias vezes. E, antes de ser presidente, apareceu no meu aniversário. Eu estava comemorando no estúdio da banda, depois do ensaio, e ele foi me cumprimentar”, conta Emiliano Brancciari, guitarrista e vocalista do No Te Va Gustar à Rolling Stone. “Sempre me pareceu um velho sábio: alguém que deixou de lado a revanche e o ódio para construir, e que sempre viveu na austeridade. Ele pregava com o exemplo. Por isso, é uma tristeza enorme”.

Brancciari também lhe dedicou a canção “El último jefe”, incluída no álbum El calor del pleno invierno (2012).

“Pepe se foi, vou sentir sua falta para sempre. Você foi e continuará sendo sempre uma referência máxima”, escreveu Manu Chao em sua conta no Instagram, junto a um retrato que mostra o ex-presidente uruguaio com o polegar levantado.

René Pérez Joglar, o Residente, também visitou Pepe em sua chácara. O artista porto-riquenho compartilhou um vídeo com um trecho da conversa com o político uruguaio em sua casa. “Pepe… Você nos fez pensar, nos fez acreditar e nos ensinou a entender as complexidades da vida de uma maneira simples: vivendo-a. Você nos deu tanto, que passaremos anos e anos te estudando, te lendo, te rimando. Quem me dera ter um pouco da sua coragem para viver tão livre quanto você. Vou sentir muito a sua falta. Você não imagina o quanto”, escreveu em sua conta no Instagram.

Comovido com a notícia, Jorge Drexler escreveu: “Adeus, Pepe. Obrigado. Aos poucos entenderemos a perspectiva histórica do seu enorme legado ético e político. Que a terra lhe seja leve”.

Uma das últimas aparições públicas de Pepe Mujica foi há um mês, no ato comemorativo pelos 54 anos da Frente Ampla. Agarrate Catalina, Rubén Rada e León Gieco participaram da celebração — todos eles, claro, com vínculo com o ex-presidente. O ano consagrador da Agarrate Catalina foi 2005. Surgidos da Murga Joven, venceram o Primeiro Prêmio do Concurso de Carnaval na categoria murgas com o espetáculo Los sueños, que incluía um inesquecível cuplé no qual Martín Cardozo interpretava Pepe.

O carinho entre Pepe e Rada era mútuo — assim como a admiração. Em junho do ano passado, já doente, Pepe foi visto dançando ao som do cantor e percussionista durante um ato partidário. “Obrigado por tanto, querido Pepe!”, escreveu Rada no Instagram. “Você não se vai, ficamos com todos os seus ensinamentos. Vou sempre lembrar de você assim, rindo nos nossos encontros. Um forte abraço, querida Lucía”, disse o cantor, em referência a Lucía Topolansky, companheira de Mujica.

León Gieco, além de compartilhar conversas com Mujica e participar da campanha “Uma canção para Pepe” — em que artistas de diversas partes do mundo lhe enviaram músicas e poemas como apoio emocional durante a doença —, também o visitou em sua chácara. De lá, levou um souvenir emblemático para seu museu: as botas que Pepe usava para trabalhar na terra. Hoje, elas fazem parte do acervo do museu do artista em Cañada Rosquín, sua cidade natal, na província de Santa Fé, na Argentina.

Foi durante seu mandato, em 2013, que foi aprovada a lei que regulava o mercado da cannabis no Uruguai — incluindo a produção e comercialização (ambas controladas pelo Estado), a posse e os usos recreativos, medicinais e industriais da planta. Assim explicava Pepe Mujica:

Dizia Einstein: ‘Se você pode mudar, não pode continuar fazendo as mesmas coisas’. Em 1985, estimava-se que havia cerca de 1.500 consumidores de maconha no meu país. Agora, são 150 mil. Mas prendemos muita gente, gastamos muito dinheiro com repressão, conseguimos confiscar vários carregamentos de maconha. Só que isso não aconteceu só no Uruguai, está acontecendo no mundo todo. Com essa lei, pretendo roubar parte do mercado, atacar a fonte dos recursos. Pior do que a drogadição é o narcotráfico, porque o narcotráfico introduz usos e costumes do mundo do crime que multiplicam os problemas da violência e da convivência social”.

Este texto foi originalmente publicado pela Rolling Stone Argentina no dia 13 de maio de 2025 e pode ser conferido aqui.

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Fonte: rollingstone.com.br

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