PUBLICIDADE

O garoto que exagerou no swag


Às vezes, na vida, todos nós exageramos no swag. Dois meses atrás, Justin Bieber chocou o mundo com o excelente Swag, seu primeiro álbum em quatro anos. Foi o retorno artístico que ele precisava — uma doce validação depois de todos os seus colapsos públicos, manchetes problemáticas, brigas com paparazzi e desastres nas redes sociais. Por isso, há algo de perfeito em Swag II — após surpreender todo mundo antes, ele volta agora com o álbum sem graça que todos esperavam da última vez. Ele poderia ter chamado o disco de Swag e É Completamente Diferente e Não Muito Bom, Mas Ainda Assim Swag.

O primeiro álbum era uma declaração pessoal profundamente estranha, de um artista passando por seis tipos diferentes de crises. Mas Swag II é tudo o que o original não foi: polido, anônimo, preguiçoso e, depressivamente, seguro. Das 23 faixas, talvez apenas cinco ou seis valham a pena, enterradas em meio a várias músicas fracas que se arrastam por três minutos. Vai saber — talvez Swag III seja o álbum de remixes em que Deus se junta a ele para um dueto surpresa no estilo Lorde em “Story of God”. (“Não, não, Justin — A SUA voz é a base de tudo!”)

Bieber anunciou Swag II ontem, prometendo que sairia à meia-noite. Mas acabou atrasando quatro horas — o que nos faz imaginar quais detalhes de última hora ele ainda estava ajustando. Talvez tenha passado esse tempo tentando encontrar rimas para “You look so good”? Se sim, o resultado foi: “If you gave me the rights, you know I would.” (Provavelmente não foi isso.)

Swag II é o tipo de sequência que só serve para lembrar o quão bom foi o primeiro disco. Superficialmente, parece seguir a mesma fórmula, com um groove solto entre R&B e indie rock. Ele traz de volta os mesmos colaboradores — Carter Lang, Dijon, Mk.gee — e até dois dos mesmos parceiros de dueto, Lil B e Eddie Benjamin. Entre os convidados, estão a estrela nigeriana de afrobeats Tems, o compositor indie londrino Bakar e o rapper da Louisiana dos anos 2000 Hurricane Chris. Mas é tudo uma versão reduzida do que veio antes. Nem há sessões de terapia com Druski — você fica esperando que ele apareça oferecendo a Justin um dos seus Black & Mild.

Swag II mergulha fundo no R&B dos anos 1990, mas sofre com uma ausência fatal de melodias, deixando a voz de Bieber sem espaço para brilhar. Os produtores não entregam como da última vez, então tudo soa genérico. Quando fica ruim, Swag II cai na autoparódia, como em “Need It”, “Speed Demon” ou “I Think You’re Special”, em que Tems é completamente desperdiçada. Assim como no primeiro álbum, Lil B aparece em um momento positivo, “Safe Space”. Só que desta vez, Bieber não dá espaço para o Based God dizer quase nada, além de alguns gritos animados. O ocasional rangido de cordas de violão tenta passar uma falsa sensação de autenticidade folk, mas, em músicas como “Mother In You”, soa como se o violão estivesse ali apenas para enfiar o máximo possível de rangidos intencionais, o que acaba soando artificial.

Ainda assim, há algumas músicas dignas que mantêm o espírito aventureiro do original. “Love Song” é claramente o ponto alto, com um loop de piano distorcido — o único momento em que Mk.gee realmente brilha. Bieber entra no clima e canta: “I wanna write you a love song, baby / I wanna write a good one you can’t stop singing to me.” Ele passeia de carro com a capota abaixada, enquanto o vento bagunça o cabelo da amada, e a serenata vem com imagens poéticas como: “An aesthetic happening on the radio station / Your eyebrows down in contemplation.”

Witchya” flui em outro groove suave, com um toque de guitarra country hippie. Em “Moving Fast”, Bieber testemunha suas dificuldades sobre uma base de blues (“I was speeding towards the fall, I was 25”), até que uma batida de bateria disco entra de surpresa. “Everything Hallelujah” segue o caminho oposto — um gospel-soul minimalista, com Bieber celebrando sua esposa Hailey, seu filho Jack, seus pais e até seus cachorros. (“Oscar, Piggy, hallelujah!”)

Ear Candy” mistura de forma criativa o brilho do britpop dos anos 1990 com o rap beatbox dos anos 1980. Mas também carrega o momento mais constrangedor do disco, quando Bieber canta: “You could spread your wings and open up”, um verso que parece saído diretamente da escola de metáforas ornitológicas de Rod Stewart.

O ponto mais baixo talvez seja “Petting Zoo”, construída sobre um loop de guitarra sem graça, onde Bieber desabafa sobre conflitos conjugais sem transmitir nada da carga emocional real que ele já expôs publicamente. Soa como uma das suas postagens mais desastradas nas redes sociais. “I told you that you fighting with a man!”, Bieber dispara para a sortuda. “I told you I don’t play that shit, no cap / Bitch, I told you I ain’t doing tit-for-tat.” (Seria até engraçado se o próximo verso rimasse com “Mother’s Day sucks ass.”)

Mas então vem “Story of God”, facilmente o momento mais bizarro de uma discografia já cheia de bizarrices. Bieber se joga de cabeça em um sermão falado de oito minutos sobre a história bíblica de Adão e Eva no Jardim do Éden. Ele sempre gostou de encerrar seus álbuns com mensagens religiosas um tanto exageradas, mas aqui passa dos limites. Sobre o som de um órgão de igreja, Bieber explica como era incrível viver no Éden. “Não havia medo aqui — o medo nem tinha sido INVENTADO ainda!” E não para por aí: “É um banquete, entende? Por onde quer que você olhe, sinta a explosão no seu paladar!”

Spoiler: Tem uma cobra, então as coisas não terminam bem para Adão e Eva. “Perdemos o paraíso”, lamenta Bieber no final. “Perdemos uma conexão inquebrável. Quebramos o mundo.” É de arrepiar, por assim dizer. Se você ouvir “Story of God” neste fim de semana, significa que ficou tempo demais na festa e o anfitrião está apelando para táticas nucleares para expulsar os convidados da casa. Mas, quer saber? É preciso admirar a ousadia da faixa. Em um álbum em que Bieber joga tão no seguro, é bem melhor vê-lo lançar uma monstruosidade completamente insana nessa escala. Teria sido ainda mais legal se ele tivesse chamado Druski para interpretar o papel de Deus.

Mas uma coisa é certa: não dá para acusá-lo de ter feito isso pela metade, e há emoção real na voz dele — bem mais do que se pode dizer de “Forgiveness” ou “Pray.” Remixers, preparem-se para trabalhar nessa.

Swag II não estraga o impacto do original, que ainda soa incrível. Na verdade, os fracassos aqui só servem para destacar tudo o que torna Swag tão fresco e fora da curva. Será que Bieber vai transformar isso em uma trilogia com Swag III: I’m Still Standing on Business, Yeah Yeah Yeah? Não duvide. Mas, de qualquer forma, Swag II já soa como uma nota de rodapé.

+++LEIA MAIS: O guitarrista aclamado por Eric Clapton que toca com Justin Bieber em novo álbum



Fonte: rollingstone.com.br

Leia mais

PUBLICIDADE