Em algum momento da virada do século, o power metal começou a viver um período de saturação. Por vezes chamada por aqui de “metal melódico”, esta ramificação do heavy metal notória por suas músicas aceleradas, vocais agudos, uso de melodias mais palatáveis e (bem) menos obscuras, adoção frequente de teclados e letras fantasiosas surgiu nos anos 1980, com bases estabelecidas pelo alemão Helloween após grupos de origens distintas — do tradicional inglês Iron Maiden ao sofisticado americano Savatage — terem contribuído como influências, e vivenciou seu auge de popularidade na década seguinte, com a ascensão de Gamma Ray (formado por um ex-membro do Helloween), Rhapsody, Stratovarius, Blind Guardian, Sonata Arctica e por aí vai. Até o Brasil tinha um representante forte no exterior: o Angra, cujo vocalista, Andre Matos, teve seu nome aventado na imprensa para substituir Bruce Dickinson no Maiden, num suposto concurso que jamais existiu.
Excessivamente formulaico — e criticado por isso —, o power metal entrou em declínio, como citado, durante algum momento da virada do século. Nunca havia sido um subgênero aclamado nos Estados Unidos, principal mercado fonográfico mundial, o que colaborou para esta queda. Em seus principais mercados (Brasil/América do Sul, Itália, Alemanha, Escandinávia e Japão) encontrou dificuldades para se renovar — seja por conta das bandas que levassem a proposta além do que havia sido feito, seja devido ao público, visto que o apreço do subgênero residia especialmente entre fãs mais jovens, impressionados com o virtuosismo instrumental.
Tem quem considere o metal sinfônico, de nomes como Nightwish e Epica — e bem popular nos anos 2000 —, uma ramificação. Meio que é, mas até este segmento ficaria estagnado na década de 2010.
De um jeito quase imprevisível, contudo, o power metal pareceu ter respirado novos ares e chegado aos anos 2020 vivenciando certo tipo de renovação. Com um público ávido por novas atrações de arena, ascenderam nomes como o sueco Sabaton (fundado em 1999) e o alemão Powerwolf (criado em 2004). Ambos serviram como principais atrações do sábado, 3, segundo dia de Bangers Open Air 2025, festival que acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Em 2024, o evento ainda sob o nome Summer Breeze Brasil já havia surpreendido ao reunir seu maior público na data mais destinada ao power (e sinfônico), trazendo Within Temptation, Epica, Hammerfall, Angra e Gamma Ray, entre outros. Agora, os organizadores também capricharam em um dia mais dedicado ao “metal espadinha”, como muitos chamam de brincadeira esta ramificação. Além dos já citados Sabaton e Powerwolf — que, cada um a seu modo, fizeram shows dignos de atração principal —, apostaram em Kamelot e Sonata Arctica, duas atrações mais antigas. A primeira, americana, conseguiu furar a bolha do subgênero com uma sonoridade mais obscura que o habitual; a segunda, finlandesa, reproduz os clichês mais atraentes do ramo e não está nem aí, pois agrada.
De volta aos headliners, cada um deles traz uma característica diferente que é explorada por outros grupos em ascensão no segmento. O Sabaton aposta em uma curiosa temática de guerra (em figurinos e letras de músicas) e se aproxima do heavy metal tradicional, com canções mais cadenciadas. Por sua vez, o Powerwolf mescla elementos de rock de arena (com refrães pegajosos e muitos corinhos) e shock rock (os integrantes usam corpse paint típica de black metal e montam uma espécie de igreja pagã no palco). Ambos são, porém, power metal em essência e embora tenham vindo poucas vezes ao Brasil, têm aqui uma verdadeira legião de fãs.

De modos distintos e com referências que também podem vir do folk, sinfônico, prog, rock de arena, death metal e por aí vai, outros nomes mais jovens têm encontrado seu público no também chamado metal melódico. Battle Beast, Orden Ogan, Amaranthe, Beast in Black, o já encerrado Delain, Dynazty e Beyond the Black — com as duas também escaladas para o Bangers Open Air, mas no domingo, 4 — são alguns dos vários exemplos. Tem muita banda. E todas elas parecem se dar bem no Brasil.
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Fonte: rollingstone.com.br