Dom Joaquim Mol mal desembarcou na região e já foi direto para a celebração eucarística que marcou o início da sua missão episcopal como novo bispo coadjutor da Diocese de Santos, na presença de cerca de quatro mil católicos, no Santos Convention Center, na manhã de sábado (10). Na bagagem, o salesiano trouxe a experiência de quase 19 anos na função de auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), onde revelou sua visão progressista, humanista e seu compromisso com os mais vulneráveis, preceitos de grande afinidade tanto com o Papa Francisco, falecido em abril, quanto com o recém-empossado papa Leão XIV.
Em conversa com o Jornal da Orla logo após a cerimônia, ele expôs sua emoção com a recepção dos fiéis das paróquias das nove cidades da Baixada Santista. “Que povo acolhedor, que povo de braços abertos, de coração à vista! Madres, bispos, homens, mulheres, pessoas do poder público, vocês da comunicação. Isso me impressionou e me emocionou muito”.
SENSAÇÕES
O bispo Dom Mol, como prefere ser chamado, também confessa que teve muito pouco contato com os assuntos da região. Ele agora divide a autoridade com Dom Tarcísio Scaramussa, bispo diocesano até 19 de setembro, quando completa 75 anos e fará sua renúncia canônica compulsória. “Antes, só estive em Santos por dois dias, pouco depois da minha nomeação. E cheguei na sexta-feira. Então ainda tenho muito o que conhecer. Preciso escutar as pessoas, ir onde elas estão para que eu possa entender a realidade daqui e assim atuar sempre a serviço da população, com o aspecto humanista, que é permanente na fé cristã. Vou programar minhas visitas às paróquias, aos poderes públicos, a todos os lugares e ir conhecendo devagarinho”.
Sobre a impressão que teve de Santos, ele aponta a generosidade. “Em todos lugares que fui, as pessoas se mostraram solidárias, acolhedoras e dispostas a novos projetos de trabalho dentro da Diocese”. Mas há um outro lado que também lhe chamou atenção. “Notei que há uma diferença grande nas realidades. É uma cidade que, numa face, tem muita riqueza, e noutra tem muita pobreza e miséria. E é um lado que a gente não pode aceitar, ao contrário, precisamos superar, pois todos são dignos, exatamente por serem pessoas”
ATUAÇÃO
Salesiano por formação e catequista por vocação, Dom Mol pretende aplicar as mesmas bases na sua missão episcopal a frente das nove cidades. “Primeiro, cuidar muito da juventude, sobretudo aos mais pobres. Segundo, cuidar da educação, preparar e levar para a escola, a universidade, e cuidar também da alfabetização de adultos, com o mesmo esmero que o das crianças. E terceiro, como salesiano, é preciso ser atento à comunicação. Não que eu seja, mas me esforço em deixar cada vez mais clara a mensagem de Cristo”
Como futuro bispo diocesano, Dom Joaquim Mol também assumirá as funções de chanceler da Universidade Católica de Santos (UniSantos), a autoridade máxima que também servirá de ponte entre a academia e a hierarquia eclesiástica. No currículo, ele carrega a experiência como reitor da PUC Minas, de 2007 a 2022, e membro do Pontifício Conselho da Cultura do Vaticano (2015-2022).
“Deixei a universidade com cerca de 92 mil alunos. E foi onde aprendi a fazer a gestão de uma universidade, priorizando a qualidade de ensino. Quanto a UniSantos, primeiro preciso conhecer as pessoas, os cursos e suas avaliações, saber de suas qualidades. Como chanceler, dentro da minha função, vou trabalhar para que seja garantida a excelência na qualidade de ensino. Tem que preparar os estudantes, para que quando formados se sintam firmes, competentes e dar conta no exercício de sua profissão. Também vou garantir que todas as pessoas que estejam dentro da universidade sejam humanistas. Tanto o professor que leciona quanto o corpo discente. O aluno que se formar na nossa universidade tem que sair bom no que aprendeu da profissão e, ao mesmo tempo, deve ser uma pessoa respeitosa das diversidades, das realidades, ser solidário e daí por diante. É o que vou tentar impregnar lá”, promete.
LEÃO XIV
Quis o destino que a posse de Dom Mol como bispo coadjutor acontecesse na mesma semana que o anúncio do novo papa, Leão XIV, no conclave encerrado quinta-feira (8). “O Papa Leão XIV esteve em Belo Horizonte varias vezes. Como agostiniano, ele é um homem simples, inteligente, meio tímido e de um jeito mais recolhido. Não tem a mesma exuberância e carisma que Francisco, mas tem a mesma perspectiva de Igreja. Ele quer continuar a reforma do catolicismo, reanimar a Igreja na sua missão e colocá-la em saída para as periferias. Leão XIV quer desenvolver a doutrina social da igreja. E a escolha do nome, tenho certeza, foi porque quem começou essa missão há 100 anos foi o papa Leão XIII. E com isso ele sinaliza que vai trabalhar no sentido para que essa doutrina seja ensinada e que as pessoas possam crescer no seu compromisso de transformação comum. Mas o que importa é que ele vai conduzir a igreja no rumo que o Papa Francisco desejou. Mas de uma forma diferente.”
COINCIDÊNCIAS
Dom Joaquim Mol assume suas funções episcopais em meio às celebrações do jubileu centenário da Diocese. Por coincidência, o bispo mineiro é natural de Ponte Nova, a mesma cidade onde Dom José Maria Parreira Lara, o primeiro bispo de Santos, iniciou suas atividades paroquiais.
Quando perguntado se estava pronto para trocar o pão de queijo pelo pão de cará, duas iguarias típicas regionais, com forte sotaque respondeu que ainda não foi apresentado à tradição da panificação santista. “Mas como é que ninguém nunca me ofereceu um pão de cará até hoje?” brincou. “Mas eu vou atrás, já que é a marca da cidade. Eu acho que uma mordida num pão de cará, na mão direita, e outra no pão de queijo, na mão esquerda, vai ser uma mistura extraordinária”, finaliza.
Fonte: Jornal Da Orla