A Marinha do Brasil cancelou a Operação Formosa de 2025, treinamento conjunto realizado todos os anos em Formosa (GO), a cerca de 80 km de Brasília. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira (20) em meio à crise orçamentária das Forças Armadas e ao aumento de tensões com os Estados Unidos, que já havia sinalizado que não participaria do exercício militar marcado para o início de setembro.
A decisão foi tomada durante uma reunião entre os comandantes das Três Forças e o ministro da Defesa, José Múcio. Em nota, a Marinha atribuiu o cancelamento à falta de recursos. Segundo a Força Naval, os militares darão prioridade à Operação Atlas – Armas Combinadas, exercício que reúne a Marinha, o Exército e a Aeronáutica no território amazônico.
Além disso, as Forças Armadas serão responsáveis por parte da segurança dos chefes de Estado na Conferência do Clima (COP 30), que será realizada em Belém, entre os dias 10 e 21 de novembro.
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“Diante da amplitude operacional e dos recursos orçamentários necessários à Operação Atlas, a Marinha do Brasil cancelou a edição de 2025 da Operação Formosa, reafirmando seu compromisso com a integração das Forças Armadas e a preparação conjunta para a defesa dos interesses nacionais”, diz o comunicado.
A mobilização para o Planalto Central, que consiste na primeira fase da Operação Formosa, começou no dia 11 de agosto. Com o cancelamento, eles foram redirecionados para a Operação Atlas. A Marinha deslocou 2 mil militares, mais de 100 viaturas e oito helicópteros de diferentes regiões do Brasil.
A expectativa é que a restrição orçamentária também possa levar ao cancelamento da Operação Core deste ano, prevista para acontecer na Caatinga. O Combined Operation and Rotation Exercise (Core) é realizado em parceria com o Exército dos EUA.
No mês passado, o Comando Sul dos EUA (Southcom) cancelou a Conferência Espacial das Américas deste ano, que seria realizada em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB). O evento contaria com a participação de outros países e estava marcado para ocorrer entre 29 e 31 de julho, em Brasília. De acordo com a FAB, o Southcom informou sobre a decisão no dia 23 de julho.
Operação Formosa de 2024 uniu tropas dos EUA e da China
A Operação Formosa ocorre desde 1988 em Formosa (GO), a cerca de 80 km de Brasília. Em 2024, a Marinha uniu tropas dos Estados Unidos e da China para a realização de exercícios conjuntos. Esta foi a primeira vez que fuzileiros navais da Marinha do Exército de Libertação Popular participam do treinamento. Em 2023, os chineses acompanharam o evento como observadores.
Também foi a primeira vez que militares dos EUA e da China atuaram do mesmo lado em uma operação militar no Brasil. Também participaram da operação em 2025: África do Sul, Argentina, França, Itália, México, Nigéria, Paquistão e República do Congo.
Em nota, o Ministério da Defesa informou que participam do exercício cerca de 3 mil militares brasileiros. No exercício, as Forças Armadas brasileiras atuam de forma conjunta, simulando uma operação anfíbia, considerada a mais complexa das operações militares.
“Os militares utilizam veículos blindados do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), como o JLTV, o sistema ASTROS, o Piranha, o Carro Lagarta Anfíbio (CLAnf), o caminhão UNIMOG, o caça AF-1 Skyhawk e os helicópteros da Marinha. Os aviões KC-390 Millenium, A-29 Super Tucano e R-99, da FAB, bem como o ASTROS, Guarani e o Carro de Combate M60 do EB, dentre outros, também são empregados”, disse a Marinha, em nota divulgada após a operação, no ano passado.
Neste ano, a China informou à Marinha que não participaria do treinamento. Contudo, países como França, Bolívia, Paraguai, Equador e Namíbia já tinham confirmado presença, segundo apuração do Estadão.
Crise política pode afetar acordos da Defesa
O presidente dos EUA, Donald Trump, determinou a taxação de 50% sobre produtos brasileiros no início do mês passado. A medida entrou em vigor no último dia 6. O republicano também pressiona o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo encerramento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.
A Gazeta do Povo mostrou que compras importantes da área de Defesa para o Brasil, como a aquisição de helicópteros para operar na Amazônia e mísseis antiblindado Javelin, estão sob ameaça com a escalada das tensões entre o Brasil e os EUA.
Em julho de 2024, o Ministério da Defesa confirmou a compra de 12 helicópteros Black Hawk (estimados em US$ 451 milhões) e mais de 200 mísseis antitanque Javelin (cerca de US$ 74 milhões). Embora formalmente previstas no FMS (Foreign Military Sales, ou Vendas Militares Estrangeiras, na tradução literal), um contexto de conflito diplomático pode bloquear ou fazer com que a Casa Branca reavalie a venda.
Operação Core
A Operação Core 2024 foi realizada no Fort Johnson/Louisiana, no Centro de Treinamento e Preparação Conjunta dos Estados Unidos, o Joint Readiness Training Center (JRTC). Segundo o Exército brasileiro, o exercício envolveu uma série de atividades, incluindo assaltos aeromóveis e manobras táticas com aeronaves AH-64 Apache, UH-60 Black Hawk e CH-47 Chinook.
Operação Core
As operações fazem parte de um programa de cooperação assinado em 2021, que prevê exercícios bilaterais anuais até 2028. A origem desse acordo está na Operação Culminating, realizada em 2021, nos EUA. As edições do treinamento são intercaladas entre o Brasil e os EUA. Em 2025, o exercício deveria ocorrer na Caatinga.
“A continuidade desses exercícios fortalece os laços entre os dois exércitos e proporciona um ganho contínuo em termos de doutrina e capacidade operacional”, disse o Exército, em nota após os exercícios de 2024.
Operação Atlas
O exercício é coordenado pelo Ministério da Defesa e reúne Marinha, Exército e Aeronáutica em um “esforço integrado para aprimorar a atuação das Forças Armadas no território amazônico”. A primeira fase da edição deste ano foi concluída em julho com a participação de mais de 180 militares das Forças Armadas.
Nesta etapa, as Forças organizam o planejamento, definindo estratégias, integração de ações e ambientação dos participantes. As fases 2 e 3 devem ocorrer entre setembro e outubro com o deslocamento estratégico de meios e efetivo para a Amazônia e a execução de atividades táticas em ambientes terrestre, aquático e aéreo, respectivamente.
Fonte: Revista Oeste