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Luccas Carlos ainda busca ‘Romance Love Show’, mas mais maduro e seguro de suas escolhas no deluxe


Luccas Carlos já não busca um “Romance Love Show”, pelo menos não na vida pessoal. Mas seu eu lírico continua à procura — e é exatamente esse o tema do primeiro deluxe de sua carreira, lançado na última quinta, 22.

Este não é apenas um deluxe no sentido tradicional. É uma expansão do universo criado pelo cantor, que apresenta o encontro de dois Luccas — o melódico que conhecemos e o futurista que está nascendo — para contar um novo capítulo de sua vida.

Na primeira versão de BRLS (2024), ele expôs suas feridas com a crueza de quem precisava tirar aquilo de dentro do peito. Agora, no deluxe, ele conta como foram criadas as cicatrizes e mostra que havia esperança no começo de tudo. São 11 faixas que funcionam como um prólogo expandido, revelando o que aconteceu antes do disco original.

O fascinante aqui é, mais uma vez, a coragem de não escolher um único caminho. Enquanto a maioria dos artistas opta por uma direção sonora clara, Luccas sempre escolheu a variedade: do R&B ao pagode, do trap e, agora, à eletrônica.

Com apenas uma participação — Trinidad Cardona em “todo lugar” —, o disco prova que Luccas chegou naquele lugar que todo artista busca: não precisar de ninguém para validar sua arte. Ele carrega 11 faixas nas costas sozinho porque tem duas versões de si para dividir o peso. O resultado é um dos trabalhos mais coesos e cinematográficos de sua carreira.

Com produção assinada por nomes como Nave e Doom, o disco é mais ousado e disposto a explorar novas texturas, sem abandonar sua essência e convicto do que está fazendo.

Dois Luccas: acústico e sintetizado

Foto: Guido Dowsley

Os primeiros instantes de “NEON” começam no habitual: um R&B mais lento e melódico. Mas aos poucos ele vai se arriscando — timbres sintéticos no pré-refrão, camadas vocais, batidas eletrônicas — e, ao final da primeira música, já entendemos como vai ser daqui para frente.

Isso se repete em “FEITIÇO”, onde Luccas começa entregando um R&B com alma, até entrarem sintetizadores eletrônicos no refrão que dão outra cara à música e restauram o ânimo e a vontade de se mexer, nem que seja simulando teclados onde quer que você esteja. Já “MONSTRO” tem uma linha de baixo pesada, muito inspirada em Thriller (1982), que fecha os destaques desse novo Luccas.

Além do lendário álbum de Michael Jackson, ficam evidentes outras influências como Dawn FM (2022), de The Weeknd, Dopamine (2025), de Lil Tecca, e outros artistas internacionais. Todas as referências se misturam de forma orgânica, formando um trabalho que soa moderno, mas quente; experimental, mas na medida.

Há também canções para quem gosta do antigo Luccas. O único single lançado, “só (mais) uma vez”, é mais parado e soa como um retorno ao álbum Um (2017), aquele das madrugadas introspectivas, dos amores que deixaram marcas, mas também aprendizados. A faixa é guiada por um instrumental limpo e melancólico, onde cada pausa parece dizer tanto quanto a letra.

E tem também “canção que eu não consegui fazer”, que mostra o lado ainda mais sincero e emocional dele. A faixa é uma joia melódica, carregada de vulnerabilidade e honestidade na letra — o tipo de composição que só o Luccas antigo saberia escrever, mas que o novo Caslu interpreta com uma maturidade que emociona.

Entre esses dois extremos, o eletrônico pulsante e o sentimental quase acústico, o deluxe constrói uma narrativa sonora coesa. Embora outras faixas, como “água colorida” e “MÍNIMO”, não chamem tanta atenção — talvez pela falta do ineditismo já visto nas anteriores —, elas não estragam a experiência. Só ficam um pouco abaixo.

Por fim, Luccas Carlos colocou duas faixas bônus no projeto. A primeira, “todo lugar”, é um funk com Trinidad Cardona, que até se arrisca no português e dá mais espaço para a sensualidade do eu lírico. É uma faixa leve, de refrão pegajoso, que poderia facilmente tocar em rádios de Miami ou no Leblon. O encontro entre os dois artistas tem química e soa natural — como tudo neste disco.

“em paz” encerra o projeto com a simplicidade que só o pagode permite, como quem ri depois de chorar. É o fecho perfeito para um álbum que fala sobre se perder, se achar e continuar dançando — mesmo quando o amor já não é mais uma busca, mas um estado de espírito.

Toda uma história por vir

Luccas Carlos
Foto: Guido Dowsley

Entre sintetizadores, batidas garage e momentos de pura introspecção, Caslu consolida sua posição como uma das principais referências de R&B no país. Essa fusão entre o melódico e o dançante, o sintético e o violão, mostra a capacidade que ele tem de se reinventar e traduzir vulnerabilidade em groove e autoconfiança em melodia.

E se o deluxe é o prólogo, o futuro de Luccas Carlos promete ser o clímax. Depois do novo projeto, o cantor parece querer construir uma quadrilogia, um universo narrativo em expansão onde cada lançamento dialoga com o anterior — não apenas musicalmente, mas emocionalmente.

Por enquanto, só conhecemos os primeiros dois capítulos, mas já dá para ter certeza de que o Caslu tem muita história boa para contar.

 


Kadu Soares (@soareskaa)

Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.



Fonte: rollingstone.com.br

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