Na última semana, mais um capítulo da carreira de Luccas Carlos foi escrito. Na terça, 21, o carioca lançou o deluxe de Busco Romance Love Show (2024), uma extensão do projeto original que facilmente se sustentaria sozinho. Para destrinchar o novo álbum, a Rolling Stone Brasil conversou com o cantor em um papo descontraído e cheio de revelações.
Na conversa, Luccas revelou que a ideia de lançar um deluxe não é exatamente nova — ele já pensava nisso há anos, mas os planos anteriores não se concretizaram. “O jovemCARLOS (2022) quase teve um deluxe, o Dois (2023) também. Eu sempre quis fazer isso, mas nunca rolava de verdade,” contou. “Esse foi o primeiro em que consegui executar do jeito que imaginei desde o início.”
Segundo o cantor, Busco Romance Love Show (Deluxe) nasceu como uma extensão natural do álbum de 2024, mas com identidade própria. A intenção de lançar um deluxe sempre fez parte do planejamento artístico, mas desta vez o projeto ganhou contornos mais definidos. Ele percebeu que o disco original poderia não agradar a todos os públicos que o acompanham, especialmente os fãs de fases anteriores, marcadas por sonoridades distintas. Por isso, decidiu criar uma extensão que mantivesse o mesmo universo temático, mas explorasse novas atmosferas.
Seu novo projeto surge como um complemento emocional do álbum anterior, ampliando sua narrativa e revelando outras perspectivas do mesmo personagem. A diferença, segundo Luccas, está no olhar do eu lírico: se no disco de 2024 ele cantava com certo conformismo, aqui existe um lampejo de esperança. É o momento no qual o amor ainda parece possível, antes das desilusões que o levariam à fase seguinte da história.
Novas sonoridades
O projeto marca uma guinada não apenas lírica, mas também sonora. Em Busco Romance Love Show (Deluxe), Luccas aprofunda a relação entre R&B, pagode, trap e música eletrônica, experimentando com sintetizadores, batidas garage e texturas que dialogam com o pop contemporâneo e o funk brasileiro. Ele explica que, ao contrário do álbum original — que tinha uma pegada mais introspectiva —, a extensão busca fluidez e contraste. Cada faixa representa um estágio da história e uma faceta de sua identidade musical.
A fusão de estilos é um dos pontos centrais do novo trabalho. Luccas explica como encontra equilíbrio entre gêneros sem perder a própria essência. “Eu sinto que consigo entrar nesses lugares novos e ainda assim manter a minha arte do jeito que eu gosto de fazer,” disse. Essa versatilidade aparece em faixas como “Neon” e “Feitiço”, nas quais ele se arrisca em timbres eletrônicos e sintetizadores sem abandonar a musicalidade emocional que sempre marcou sua trajetória.
E apesar de ter uma carreira marcada por abraçar vários gêneros, o cantor diz que ainda tem caminhos que ele quer explorar: “Tem uma música do Drake com o PARTYNEXTDOOR que é meio country. Eu acho maneiro. Eu tinha até uma guia que eu ia mandar para a Marília Mendonça, de trap com sertanejo. Isso foi antes dela falecer,” revelou.
Um novo (antigo) processo criativo
Durante a produção do novo disco, Luccas Carlos passou por uma mudança que foi menos técnica e mais comportamental. Depois de anos acostumado a criar no improviso, o artista decidiu desacelerar. “Durante muito tempo eu fazia música muito assim: você tá ouvindo o beat, pensa e faz”, contou. “No Busco Romance original tem muita música assim, mas nesse agora, por exemplo, ‘Só Mais Uma Vez’ foi mais pensada. Se eu termino uma frase, tenho um espacinho pra respirar”. Esse respiro é literal e simbólico: representa o retorno de Luccas à escrita paciente que marcava o início de sua carreira.
Parte dessa virada veio da convivência com Delacruz, outro nome da cena do R&B brasileiro. “Eu converso muito com Delacruz sobre isso. Ele é um cara que é bem meticuloso mesmo com a música dele”, disse. “Ele não é um cara que vai chegar hoje com a gente no estúdio, fazer um verso e amanhã a música tá pronta. E ele abriu meus olhos para isso”. A troca entre os dois fez Luccas repensar o tempo da criação — algo que, segundo ele, o ajudou a se reconectar com o prazer de compor sem pressa.
Essa reconstrução também afetou a sonoridade do deluxe. O cantor revisitou faixas, reescreveu versos e até regravou partes inteiras, buscando um resultado mais orgânico. “‘Neon’ era uma música que já tava meio que pronta, eu refiz o verso dela inteiro”, explicou. “A voz mais recente do disco é a de ‘Todo Lugar’. Eu ouvia a antiga e não gostava, era muito overdub. Aí eu fiquei aqui no estúdio de casa e regravei tudo”. O processo foi quase artesanal, com atenção ao detalhe e um olhar crítico que mostra o amadurecimento de quem aprendeu a se ouvir.
Participações, referências e inspirações
Em relação a participações de outros cantores, Luccas escolheu adicionar somente uma: Trinidad Cardona em “Todo Lugar”. A música nasceu durante uma viagem ao México, em um estúdio compartilhado com Nave, Bugs Bunny (produtor de Don Toliver e Lil Uzi Vert) e o próprio Trinidad.
Após anos colaborando com outros artistas, ele sentiu que era hora de entregar um trabalho mais pessoal, centrado em sua própria voz. “Eu quis fazer mais músicas só minhas, para a galera ouvir mesmo o Luccas, tá ligado?”, disse. “Nos últimos discos, teve muita participação, e acho que o público tava sentindo falta disso também.”
Entretanto, questionado sobre participações dos sonhos — um brasileiro, um gringo e um que já faleceu —, para o deluxe, o artista respondeu: “Se fosse um brasileiro, seria o Yunk Vino, gringo, Destin Conrad e que já faleceu… [pensou] Eu vou falar dois, Tim Maia e o Michael Jackson, né? O maior de todos.”
O deluxe é também um reflexo de suas influências recentes e das referências que moldaram sua trajetória. Luccas cita The Weeknd e o álbum Dawn FM (2022) como uma das maiores inspirações para o conceito visual e sonoro do projeto, além de Alone at Prom (2021), de Tory Lanez, e dos dois últimos discos de Lil Tecca, que o ajudaram a encontrar um equilíbrio entre melodia e ritmo. “Esses discos têm muita melodia, muito new jazz, um trap mais limpo. Eu gosto desse tipo de som, acho que tá atual,” disse.
A bagagem musical também vem de casa. Luccas cresceu ouvindo os discos que seus irmãos mais velhos tocavam, descobrindo clássicos de Michael Jackson e Rick Astley e misturando referências de diferentes gerações. Essa combinação, segundo ele, moldou sua versatilidade — algo que se reflete em sua discografia. “Meus irmãos têm quase 50 anos, então eu tenho uma bagagem muito legal por causa deles. Eles me mostraram muita coisa antiga que até hoje eu escuto no carro,” contou.
O futuro
Com o deluxe, Luccas Carlos fecha um ciclo e, ao mesmo tempo, abre um novo. O cantor explica que o projeto é apenas a primeira parte de uma narrativa maior, pensada como uma sequência de quatro discos interligados. Essa estrutura faz com que o novo álbum funcione como um prólogo — o início de uma história que ainda vai se desenrolar nos próximos capítulos.
Além de continuar expandindo esse universo sonoro e emocional, Luccas também tem planos de explorar formatos diferentes de apresentação. Nos últimos meses, o artista tem intercalado shows acústicos com apresentações tradicionais. Para ele, o formato reduzido permite um reencontro com o público e com a própria essência da composição. “Eu gosto de fazer o acústico, mas acho que o acústico tem que ser uma coisa de temporada”, explicou. “É outro clima, é sobre estar mais perto da galera, conversar, errar, rir. Eu curto muito isso também”.
Essas duas versões — a intensa e a intimista — coexistem em sua carreira e refletem a mesma busca por autenticidade. Enquanto os shows elétricos apresentam o lado técnico e grandioso de Luccas, os acústicos revelam a voz, a palavra e o sentimento. Essa dualidade também se manifesta na forma como ele planeja suas turnês, alternando apresentações voltadas para grandes festivais com sets menores e mais pessoais, sempre mantendo a narrativa dos discos viva no palco.
Por fim, o cantor também confirmou que, entre os próximos passos, está um projeto em colaboração com BK’, com quem mantém uma amizade e uma conexão criativa de longa data, com músicas como “Músicas de amor nunca mais” e “Quadros”:
“Cara, não dá para ficar ansioso, mas eu acho que agora está mais certo do que antes. Agora a gente tá querendo fazer, mesmo. Mas desde a primeira vez que a gente falou já faz tanto tempo. Quando a gente começar a se movimentar, vocês vão perceber. Aí a brincadeira começa. Mas acho que ficar dando esperança também é foda, mas agora tá mais certo do que antes — está mais pro sim do que pro não.”
Mesmo com novos caminhos pela frente, Luccas parece mais centrado do que nunca. Entre o estúdio e os palcos, ele encontrou um ritmo próprio — o de um artista que aprendeu a respeitar o tempo das coisas. O futuro, para ele, não é uma pressa: é uma continuidade natural de quem segue construindo, passo a passo, um dos catálogos mais consistentes do R&B brasileiro contemporâneo.
+++LEIA MAIS: Luccas Carlos ainda busca ‘Romance Love Show’, mas mais maduro e seguro de suas escolhas no deluxe
Kadu Soares é formando em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, passa o dia consumindo música, esportes, filmes e séries. Possui um perfil no TikTok e um blog no Substack, onde faz reviews de projetos musicais.
Fonte: rollingstone.com.br
 
				
 


 
								 
								