Lady Gaga nunca foi só uma cantora pop. Ela foi, desde o começo, um acontecimento. Uma revolução que chegou de salto alto, peruca e discurso afiado, transformando tudo ao redor — inclusive o que se
esperava de uma estrela.
Stefani Joanne Angelina Germanotta surgiu no fim dos anos 2000 como uma outsider nos moldes da indústria. Com “Just Dance” e “Poker Face”, ela parecia apenas mais uma promessa das pistas. Mas, rapidamente, ficou claro: Gaga não estava ali para repetir fórmulas, mas para explodir qualquer molde. Desde The Fame (2008) — que um ano mais tarde seria relançado como The Fame Monster —, ela fez da fama um conceito a ser dissecado, como uma verdadeira discípula de Andy Warhol.
Entre conceitos visuais grandiosos, figurinos que pareciam saídos de um pesadelo fashion (ou de uma passarela futurista) e personagens meticulosamente construídos, Gaga comprovou: sua vida era performance. E não mentiu. Entrou em um ovo no Grammy, vestiu carne crua, incorporou o barroco, o futurismo, o kitsch. Mais do que causar, ela comunicava. Cada look era um manifesto, uma estética com mensagem.
A partir dela, ter “eras” virou norma no pop; cada álbum com sua identidade visual, sua paleta, sua narrativa estética. Bowie e Madonna já haviam percorrido esse caminho, mas Gaga elevou o jogo e transformou a reinvenção em espetáculo fashion ininterrupto. Ela fundiu moda, música e ativismo como poucas — e fez da imagem uma arma de expressão.
E foi. Lady Gaga se tornou porta-voz dos que não tinham espaço, especialmente mulheres, pessoas LGBTQIAPN+ e qualquer um que já se sentiu deslocado, esquisito, diferente. Com Born This Way (2011), ela fez um hino de autoaceitação para uma geração inteira de jovens queers. Suas letras sempre falaram de identidade, dor, superação e liberdade. Seus discursos, premiações e aparições públicas eram tão politizados quanto emocionantes. A cantora ergueu uma comunidade global de Little Monsters, muito antes de “fandom” ser um termo comum — e deu a eles não só um nome, mas um lar, a House Of Gaga.
Na indústria musical, sempre guiada por padrões cis-heteronormativos e misóginos, a diva pop bateu de frente. Foi desacreditada, ridicularizada, subestimada, mas nunca se calou. Pelo contrário: com cada disco, ela se reinventava. Do jazz clássico em Cheek to Cheek ao pop futurista de Chromatica, da introspecção country de Joanne ao novo e caótico Mayhem (2025), Gaga sempre abraçou o imprevisível. E manteve consistência sendo inconsistente — o que, no mundo do pop, é genial.
Sua influência transcende o som. Gaga redesenhou o que significa ser uma popstar. Sem medo de parecer “demais”, abriu espaço para que outras artistas, como Rihanna, Rosalía e Taylor Swift, quisessem também ser múltiplas. Ela normalizou a extravagância, o desconforto, a arte como provocação. E criou tendência, meme, inspiração.
No Brasil, virou lenda: do icônico “Brazil, I’m devastated” aos looks das filas de shows, dos memes eternos às histórias surrealistas (como a da Bíblia jogada no palco). O show no Rio de Janeiro não é só histórico, mas um reencontro com um país que a entende no exagero, na intensidade, no afeto.
Lady Gaga é mais do que pop. Ela é ruptura. Ela é abrigo. É performance, política, arte e vulnerabilidade — tudo junto. E é exatamente por isso que continua, até hoje, fascinante.
*Matéria publicada originalmente na edição especial impressa da Rolling Stone Brasil sobre Lady Gaga. Veja mais informações abaixo.
Lady Gaga na capa da Rolling Stone Brasil
Para celebrar a vinda da Mother Monster para show gratuito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio como parte do programa Todo Mundo no Rio, a Rolling Stone Brasil produziu um especial impresso, que traz dossiê sobre a carreira de Lady Gaga, discografia comentada, manifesto sobre a nova era – de resiliência e caos – musical. Adquira no site da Loja Perfil.
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Fonte: rollingstone.com.br