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Jack Osbourne relembra a dor e a alegria dos últimos anos de Ozzy


Crescendo, Jack Osbourne sentia que precisava compartilhar o pai com o mundo. “Ele estava sempre em turnê”, conta o filho mais novo de Ozzy, de 39 anos, à Rolling Stone por Zoom, direto de sua casa em Los Angeles, na terça, 7. “Sinto que foi só na vida adulta que realmente nos conhecemos, fazendo [a série de viagens] World Detour.”

Embora o reality show da MTV The Osbournes mostrasse uma forte ligação entre pai e filho, foi com World Detour — exibido por três temporadas, entre 2016 e 2018 — que Jack teve a chance de passar um tempo de qualidade real com o homem que ajudou a inventar o heavy metal com o Black Sabbath e depois conquistou ainda mais fama como artista solo.

“Lembro de pensar, enquanto fazíamos o programa: ‘Sou tão sortudo por poder fazer isso com ele’”, diz Jack sobre a atração, que mostrava a dupla visitando marcos e curiosidades dos Estados Unidos. “Tive muita sorte, no sentido de tê-lo nos seus últimos bons anos.”

Ozzy sofreu uma grave lesão no pescoço após uma queda em casa, em 2019. O acidente, somado às complicações do Mal de Parkinson e outros problemas de saúde, marcou o restante de sua vida, obrigando-o a adiar e cancelar turnês enquanto tentava se recuperar. Seu último show, tanto como artista solo quanto como vocalista do Black Sabbath, aconteceu em 5 de julho de 2025, no evento beneficente Back to the Beginning, em sua cidade natal, Birmingham, na Inglaterra — uma celebração que reuniu bandas como Metallica, Guns N’ Roses e Slayer, todas influenciadas por sua música. Ozzy morreu semanas depois, em 22 de julho, gerando homenagens em todo o mundo.

Um novo livro, escrito por Ozzy e intitulado Last Rites, e o documentário da Paramount+, Ozzy: No Escape From Now, registram o grande esforço do cantor para se recuperar das lesões e conseguir subir ao palco novamente no Back to the Beginning.

O artista concluiu Last Rites poucos dias antes de morrer. No livro, com sua linguagem inconfundível, ele relata as dores que enfrentou e o amor que recebeu da família e dos fãs em seus últimos anos — enquanto reflete sobre as muitas vezes em que encarou a morte de perto, desde a perda devastadora do guitarrista Randy Rhoads até as despedidas de amigos como John Bonham, do Led Zeppelin. Ozzy também comenta como o show Back to the Beginning e o carinho que veio depois aquecem seu coração.

“Quando [meu pai] faleceu, pensamos: ‘E agora, lançamos o livro ou não?’”, lembra Jack. “Acho que todos nós sentimos que sim — ele queria que o livro fosse publicado. Foi algo em que ele trabalhou até dois dias antes de morrer, então parecia errado segurá-lo.”

Os produtores de Ozzy: No Escape From Now começaram a trabalhar no documentário durante a produção do último álbum de Ozzy, Patient Number 9 (2022), filmando-o enquanto gravava as faixas e fazia aparições marcantes — desde os Jogos da Commonwealth de 2022, na Inglaterra, até o Back to the Beginning. “O documentário é tipo Rocky III – O desafio supremo, quando ele perde tudo e tenta lutar para reconquistar”, diz Jack. “É um ótimo retrato de tudo o que levou até aquele último show.”

Ao longo de uma entrevista franca e emocional, Jack reflete sobre o impacto que Ozzy teve em sua vida, e como ele, sua mãe Sharon e as irmãs Aimée e Kelly vêm lidando com a perda trágica do lendário vocalista.

Ozzy Osbourne (Foto: Scott Dudelson/Getty Images)

Como você tem se mantido ultimamente?
É estranho. Acho que essa é uma reação comum quando se perde um dos pais, mas acredito que estou indo bem. Ter filhos e voltar à rotina escolar me força a focar em: “Ok, vamos seguir em frente.”

Tenho certeza de que é isso que o Ozzy também queria.
Ah, sim. Cem por cento. Quantas vezes eu podia ouvi-lo dizendo: “Por que vocês estão chorando?” é incontável. Ele acharia tudo isso tão ridículo.

Como a família tem se apoiado?
Fiquei na Inglaterra por três ou quatro semanas e voltei para Los Angeles cerca de um mês depois que ele faleceu. Minha mãe e a Kelly estão na Inglaterra; Aimée e eu estamos aqui em L.A. Então é muito sobre checar uns aos outros diariamente e lidar com as emoções de tudo isso. Só saber que alguém sente algo parecido com o que eu sinto — minhas irmãs ou minha mãe — já ajuda muito.

Ozzy definitivamente não queria que as pessoas sentissem pena dele. Por que você acha que foi importante para ele escrever o livro e contar os desafios que enfrentou após o acidente?
Acho que ele escreveu, em parte, para acabar com algumas especulações sobre isso, aquilo e aquilo outro. Além disso, ele queria corrigir o registro: “Sim, fiquei doente, mas não sintam pena de mim, essa é a vida…”. Ele não tinha arrependimentos. Teve uma vida abençoada, uma jornada incrível, e acho que ele queria compartilhar isso com suas próprias palavras.

Eu sei que a família teve dúvidas sobre lançar o livro. Deve ter sido difícil para você revelar essa crônica dos últimos seis anos. Foi difícil reviver esse período lendo-o?
Foi interessante ver o que ele colocou no livro sobre os últimos seis ou sete anos. Todo mundo sempre se pergunta, ao ler a biografia de alguém: “Isso é preciso?” Posso dizer honestamente que, neste livro, realmente é o fluxo de consciência dele nesse período. Eu lia um capítulo e ele começava com uma história, se desviava, voltava, e era exatamente assim que funcionava o pensamento dele. Acho que isso dá um toque pessoal real ao livro.

O que mais te marcou ao ler sobre os problemas de saúde dele?
Algumas coisas eu gostaria que ele tivesse explorado mais a fundo, mas, para ser sincero, acho que ele não quis se aprofundar porque estava cansado demais. O que realmente fica claro é a importância que teve para ele fazer aquele último show.

Como foi a experiência do concerto Back to the Beginning para você?
Cheguei lá alguns dias antes. Vi o soundcheck. Foi poderoso de um jeito surpreendente. Sabia que seria um dia difícil para toda a família, especialmente para ele. Como eu disse no GMA, foi como um velório ao vivo. Havia uma perfeição quase divina em tudo. Foi um ponto final. Ele viu pessoas que não via há 30 anos, encontrou amigos e fãs, pôde estar em sua cidade natal — foi intenso e emocionante.

O que Ozzy te contou sobre a experiência?
Ele estava muito feliz. Desde que ficou doente, tornou-se um pouco viciado em redes sociais. Estava no Instagram, TikTok, YouTube, porque ficava relativamente parado, então passava muito tempo rolando feeds. Foi a primeira vez que fez um show e teve retorno direto nas redes sociais.

Então, todas as manhãs, ele acordava na Inglaterra e via jornais sensacionalistas, e todos os dias seguintes havia grandes matérias nos jornais britânicos. Ele adorava ver as críticas e postagens positivas. Ficava animadíssimo. Eu dizia: “Pai, todas essas críticas são incríveis.” E ele respondia: “De que adianta isso? Estou aposentado.”

No livro, ele explica quanto esforço e terapia dedicou para se preparar para o concerto. O show deve ter sido uma grande vitória para ele.
Foi enorme. Ele ficou frustrado por não conseguir sair da cadeira, mas considerando tudo, fez um trabalho incrível.

Ver ele cantar “Mama, I’m Coming Home” foi extremamente emocionante. Ele comentou algo sobre isso?
A única coisa que disse foi: “Ah, comecei a me emocionar em ‘Mama, I’m Coming Home’.” E eu respondi: “Bem, todo mundo estava.”

Como a família manteve o espírito dele desde o acidente?
Ele se sentia realizado quando trabalhava, gravando com Andrew [Watt], com o amigo e guitarrista Billy Morrison ou fazendo o podcast conosco. Os períodos em que não estava trabalhando ou estava entre projetos eram difíceis; ele ficava desanimado.

Ele amava trabalhar. Quando não estava trabalhando, não estava no seu melhor. Mas sempre havia alguém na casa — eu com as crianças, ou Kelly e Aimée. Visitávamos sempre que podíamos e tentávamos fazê-lo sair de vez em quando. Ele gostava da rotina. Ficava em casa, e isso era uma bênção e uma maldição; se você tentasse bagunçar a rotina, ele não gostava.

Acabei voltando a morar lá por um período. Estava entre casas, e era mais fácil ficar seis meses com eles. Ele estava bem, porque não podia ficar miserável — era só uma casa cheia de crianças.

Quando ele estava mais feliz?
Quando amigos próximos apareciam, ele ficava muito feliz. Durante grandes jantares em casa também. Nem sempre estava feliz, mas lembro dele rindo muito. Tenho memórias dele rindo alto de piadas bem inapropriadas, aquelas que realmente o faziam rir, como piadas escatológicas.

Como a personalidade dele mudou desde o acidente?
Só pelo ritmo de vida ter diminuído tanto, ele ficou bem mais quieto. Acho que desacelerar fez com que ele colocasse as coisas em perspectiva. De certa forma, ele estava mais presente. Mas mesmo sendo mais quieto, ainda tocava música em volume absurdamente alto, só que era uma versão diferente dele mesmo.

Que tipo de música ele estava ouvindo?
Ele ouvia qualquer coisa. Passou por uma fase profunda de Michael Jackson em um período e depois por uma fase intensa dos anos 80. Ele sempre ouvia Peter Gabriel.

E o pior de tudo — uma das coisas que mais me deixa irritado sobre toda essa história do Roger Waters — é que ele sempre ouvia Pink Floyd. Esse cara é um idiota. Acho que é pura inveja. Tipo: “Cara, quando você morrer, eles talvez façam um brinde no pub local.”

Quando eu lia sobre todas as cirurgias que ele teve que fazer, especialmente como a primeira causou mais problemas, fiquei com raiva. Como a família se sente em relação a tudo isso agora?
É uma raiva que eu carrego há muito tempo. É a bênção e a maldição de um médico de L.A.: você encontra ótimos médicos na cidade, mas eles não querem ser os responsáveis por ferrar alguém, então nunca dizem a verdade de forma direta. Notei, com meu pai, que os médicos tinham medo de ser honestos sobre as cirurgias.

Houve alguns médicos realmente bons, mas tudo decaiu a partir da primeira cirurgia, e aquele médico nunca deveria ter feito o procedimento daquela forma. Isso desencadeou um período muito difícil para meu pai. E aí veio a Covid, e… bom…

Todo mundo ficava na esperança: “Essa cirurgia vai consertá-lo. Essa vai ser a que vai dar certo.” Mas havia tanto dano da primeira cirurgia que foi difícil sair do buraco.

Alguns anos atrás, sua mãe disse que queria processar aquele médico. Isso ainda está em andamento?
Desde o início eu dizia que deveríamos ter feito imediatamente, mas não sei. É uma daquelas coisas em que você pensa: “OK, sim, dá para processar esse médico ou quem quer que seja, mas isso não vai trazer meu pai de volta. Não vai consertá-lo.” Claro, isso mostra que o médico é um idiota, mas se eu tivesse uma varinha mágica, provavelmente teria feito há cinco anos.

Como sua mãe está lidando com tudo atualmente?
Ela está bem, mas não está bem. São altos e baixos. Ela está tentando descobrir como seguir em frente, qual é o novo normal, o novo ponto de referência: “O que faço sem meu parceiro?” Mas ela tem muito amor e apoio ao redor. Vou levá-la de volta para L.A. esta semana. Na verdade, vou voar para a Inglaterra amanhã, porque quinta-feira é o aniversário dela.

Então, sim, temos que continuar em frente. Você mesmo disse: ele odiava que as pessoas sentissem pena dele e sempre queria seguir em frente.

Depois do funeral, estávamos em casa e todos tivemos uma manhã difícil. Abri meu celular e apareceu um vídeo no feed: meu pai no programa do David Letterman, uma semana após a morte de Randy [Rhoads]. David perguntou: “Estou surpreso que você veio. Está passando por um momento difícil agora.” Meu pai respondeu: “Eu sou sobre rock & roll, e preciso seguir em frente, tenho um trabalho a fazer.” Eu mostrei o vídeo para todos e disse: “Viram? Ele está nos dizendo. Tem que continuar.”

Uma das coisas que me marcou no documentário foi ver o quanto seus pais eram unidos até o fim.
Sim. E é por isso que eu disse que a bênção e a maldição dele se machucar e desacelerar ajudou. Acho que isso reforçou o relacionamento deles. Não é segredo que eles tiveram problemas próprios, e isso ajudou a curar muitas coisas. O lado positivo, se é que houve algum nos últimos sete anos, é que passamos muito tempo com ele.

Como você vê o legado do seu pai?
Com muitos músicos, eles se tornam “rock star” — e ele certamente foi — mas acho que ele sempre teve a consciência de que tudo poderia acabar amanhã. Seu legado também é que ele não ficou preso a uma única coisa. Ele soube arriscar, se reinventar e crescer com o tempo. Não houve década em que ele não causou impacto. E não é só discurso, é fato.

No último capítulo do livro, seu pai escreveu: “Tive uma vida barulhenta. Agora estou pronto para um pouco de silêncio.” Você acha que ele realmente queria isso?
Cem por cento. Lembro de uma conversa em que ele se virou para mim e disse: “Acho que vou deixar crescer a barba. Vou cortar o cabelo.” Eu falei: “O quê?” E ele: “Sim, não sou mais um rock star.” Eu disse: “Ah, vai se ferrar.” Ele ficaria parecendo um hipster do Brooklyn.

Como você acha que ele via o próprio legado?
Acho que ele não via como legado. Isso seria quase grandioso demais para ele refletir: “Olhem meu legado.” Ele era uma pessoa muito do dia a dia. Mas após o show, que foi um momento enorme, quando sentiu todo aquele amor e viu tantos músicos prestando respeito, acho que ele se sentiu realizado com seu legado.

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Fonte: rollingstone.com.br

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