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Helloween fala à RS sobre ‘Giants & Monsters’, Brasil, Roland Grapow e Ingo Schwichtenberg


O segundo álbum da formação septeto do Helloween chega nesta sexta-feira, 29. Giants & Monsters (pré-save aqui) volta a trazer uma combinação de três vocalistas (Michael Kiske, Andi Deris e Kai Hansen) e três guitarristas (Michael Weikath, Sascha Gerstner e o próprio Hansen), além de Markus Grosskopf (baixo) e Daniel Löble (bateria).

Para contexto: a banda alemã de power metal, seminal no desenvolvimento do subgênero citado, conta com sete integrantes porque Kiske e Hansen retornaram à banda em 2016 após décadas de afastamento, mas os remanescentes não demitiram Deris e Gerstner, que ocupavam suas vagas. Criou-se, assim, um “megazord” da música pesada — algo incomum, pois quando ocorrem reconciliações desse tipo, os “substitutos” tendem a ser dispensados.

Grosskopf, único músico ao lado de Weikath a participar de todas as formações do Helloween, sente-se realizado com o novo disco, décimo sétimo da carreira do grupo alemão de power metal. “Ouvir essas músicas me faz um homem feliz, fico feliz por ter feito isso”, reflete à Rolling Stone Brasil. “Sempre precisamos de muito tempo para compor, mas tudo vale a pena.”

Precisou, mesmo, de bastante tempo. Ainda em março de 2023, Kiske contou que o trabalho em torno do novo disco havia se iniciado. Markus calcula aproximadamente um ano e meio de esforços entre composição e gravação. O resultado é um disco que tem a cara do Helloween, mas soa ligeiramente diverso: há menos composições aceleradas tipicamente power e mais faixas cadenciadas, a exemplo do AOR melódico “A Little is a Little Too Much”, a baladaça “Into the Sun” (com direito a uso de piano) e a quase pop “Hand of God”. Três composições chegam a mais de seis minutos de duração — “Giants on the Run”, “Universe (Gravity for Gods)” e “Majestic” —, mas as outras são mais curtinhas, girando em torno de três e quatro minutos.

Capa de Giants & Monsters, novo álbum do Helloween

Grosskopf define Giants & Monsters como “um ótimo álbum de heavy rock”, com certo receio de utilizar o termo “metal”. “É muito aberto e tem muita variedade: heavy rock, mas tem uma atitude pop rock e algumas canções longas, épicas ou progressivas”, elabora.

Sua favorita é justamente a mais longa: “Universe (Gravity for Gods)”, com quase oito minutos e meio. “Quando gravo o baixo, nunca sei quem dos três vai cantar, pois decidem quando o instrumental está feito”, explica, antes de emendar: “Mas quando ouvi essa música, desde o primeiro momento em que começaram a cantar, fiquei arrepiado imediatamente. Quase chorei.”

Não houve, segundo o baixista, uma discussão a respeito da sonoridade de Giants & Monsters. O primeiro álbum da formação septeto, homônimo e lançado em 2021, não empolgou uma parcela do público que esperava uma paleta sonora mais variada: é um disco acelerado, carregado e denso. O trabalho sucessor tem outra abordagem, mas Grosskopf garante: foi tudo natural. “Apenas reunimos as ideias e discutimos quais vamos manter. Temos cinco ou seis compositores, então é muito material”, destaca.

São sete integrantes, contudo. Michael Kiske segue sem oferecer composições? Markus confirma. “Falamos que se ele tivesse algumas ideias, poderia apresentá-las, mas ele não as tinha. Disse que preferiu concentrar na performance das músicas que já existem. Um grande gesto de sua parte”, explicou o baixista, talvez ciente de que na época de sua saída em 1993, Kiske tinha fortes divergências criativas com os colegas.

Helloween
Helloween – Foto: Mathias Bothor

Come to Brazil? Sure

Há bandas que fazem mistério sobre quando retornarão ao Brasil. Com o Helloween, isso não existe. Como é certo que toda turnê passará por aqui, os alemães já adiantaram, ainda em novembro do ano passado, que a próxima visita aconteceria em 2026.

Markus Grosskopf diz que não pode revelar as cidades, pois “os empresários vão definir onde me colocarão para beber cerveja com vocês”. Mas ao menos garante que acontecerá entre março e abril. Os ensaios para a turnê já começaram e o repertório deve ter aproximadamente duas horas e 15 minutos.

Será a 13ª excursão nacional do Helloween, que segue tendo forte demanda por aqui — não à toa, nosso país é o quinto que mais recebeu seus shows, atrás somente da terra natal Alemanha, Estados Unidos, Japão e Espanha. “Os brasileiros sabem como mostrar suas emoções”, reflete o baixista. “Às vezes, os fãs daí cantam nossas músicas todos juntos no local do show antes mesmo de estarmos no palco! Ficamos arrepiados nos bastidores. Quando entramos no palco, alguns na plateia chegam a chorar. Então, se você tem tanta energia, você dá muita energia de volta, é claro.”

Helloween
Helloween – Foto: Mathias Bothor

A visita mais recente ocorreu há dois anos, durante o festival Monsters of Rock, em São Paulo. Eles também tocaram em Ribeirão Preto (pela primeira vez na carreira) e Curitiba, mas as lembranças mais vívidas são do evento paulistano, que contou ainda com Kiss, Scorpions, Deep Purple, entre outros. Markus se recorda de um acontecimento daquele dia 22 de abril de 2023:

Roger Glover [baixista do Deep Purple] estava do lado do palco me assistindo tocar baixo. Fiquei impressionado. Pensava: ‘meu Deus, não coloque uma nota errada no meu baixo, pois o mestre está assistindo!’. Na vez do Deep Purple, eu fiquei do lado do palco. Durante o solo de teclado de Don Airey, Roger veio a mim. Falei que assistir a eles era a essência da música rock. E nós tínhamos algumas similaridades. Como eu, ele deixa no palco uma caixa de gelo com cerveja. Ele me ofereceu uma cerveja e é claro que aceitei. Depois de todos esses anos o assistindo, de repente o cara me traz uma cerveja gelada.”

Excluído da festa?

Festa boa é aquela em que sempre cabe mais um. Por isso, desde os anúncios das voltas de Michael Kiske e Kai Hansen, uma parcela de fãs de Helloween pede, também, a reconciliação e reintegração de outro ex-integrante: Roland Grapow, guitarrista entre 1989 e 2001 e importante membro da reconstrução após as saídas de Kai Hansen (a quem substituiu) e Michael Kiske.

Roland Grapow em show com o Helloween em 1989
Roland Grapow em show com o Helloween em 1989 – Foto: Michael Uhll / Redferns

A relação entre Grapow e os ex-colegas, contudo, não se mostrou das melhores nos últimos anos. Chegou ao ponto de Andi Deris ter acusado o guitarrista de traição e roubo financeiro antes do rompimento na virada do século. Em 2023, Roland rebateu diretamente as declarações negando ter cometido qualquer ato ilegal ou imoral.

No início deste mês de agosto, a situação teve uma reviravolta. Do nada, a página oficial do Helloween no Instagram publicou um comunicado em que diz:

“Recentemente, Roland Grapow foi mencionado em algumas entrevistas em um contexto incorreto. Gostaríamos de esclarecer: a banda Helloween não tem nenhuma acusação contra Roland. Roland foi demitido da banda em 2001 devido a diferenças musicais e pessoais, embora a separação tenha sido amigável.”

As entrevistas em questão não foram citadas no post. Perguntado sobre o assunto, Markus Grosskopf disse não fazer ideia do que se tratava, mas reconheceu a existência de “alguma incompreensão aqui e ali”.

“Estive conversando com Roland e ele falou com os empresários. Espero que esteja tudo claro agora. Não queremos fazer mal a ele ou a qualquer outra pessoa. Acho que vai ficar tudo bem. Esclarecemos essa incompreensão apenas conversando um com o outro. Não nos encontramos pessoalmente porque estávamos ensaiando, mas converso com ele. Desejo a ele toda a sorte com seus trabalhos — ele ainda é um ótimo guitarrista e compositor.”

Se está tudo na boa, agora sim há chances de pelo menos uma participação de Roland em estúdio ou em show, correto? Markus desconversa:

“Não há nada planejado assim, mas não sei o que o futuro traz. O que for, não sei ainda. Não há planos agora, mas o futuro está em frente e qualquer coisa pode acontecer.”

Helloween, 40 anos

Neste momento, o Helloween celebra quatro décadas de história. A banda foi fundada em 1984 na cidade alemã de Hamburgo e lançou seu primeiro trabalho, Walls of Jericho, em 1985. “Nunca pensei que isso iria governar minha vida até o momento em que eu estivesse no caixão”, admite Markus Grosskopf. “Mas tornou-se minha vida, minha mente, minha alma. E isso é ótimo. Somos privilegiados e gratos pelos fãs.”

Foi, sem dúvidas, uma trajetória de altos e baixos. E a pior época, segundo o baixista, foi descobrir que o baterista original, Ingo Schwichtenberg, havia tirado a própria vida em 8 de março de 1995, dois anos após sua demissão do grupo e um mês depois de perder o pai. Ingo sofria de esquizofrenia e enfrentava a dependência química. Grosskopf lamenta:

“Foi realmente pesado, porque éramos muito jovens e nunca tivemos isso antes. Não sabíamos como reagir, se iríamos fazer as coisas certo ou não. Fomos aos psicólogos e os trouxemos para os médicos e tudo isso, porque ele precisava de ajuda profissional. Ouvir sobre seu falecimento foi a época mais difícil até hoje.”

Helloween em 1987; Ingo Schwichtenberg é o 4º da esquerda para a direita
Helloween em 1987; Ingo Schwichtenberg, de regata azul, é o 4º da esquerda para a direita – Foto: Paul Natkin / Getty Images

E o melhor momento? Numa carreira de vários trunfos, fica difícil destacar apenas um período de destaque. Se o baixista não escolhe, o jornalista indica: os retornos de Michael Kiske e Kai Hansen — sem demitir Andi Deris e Sascha Gerstner —, sacramentados há quase 10 anos. Sobre isso, Markus comenta:

“Acho que o círculo se fechou com as voltas deles, sabe? É onde tudo começou. Mas você tem a progressão de Helloween sem os dois, com Sascha e Andi. Tivemos a ideia de trazer os caras antigos de volta, mas pensamos: por que mudar um time tão bom? Andi e Sascha criaram músicas incríveis. Eles continuaram com a gente, passaram muito tempo de vida conosco. Por que tirar duas pessoas incríveis só para trazer mais duas pessoas incríveis? Então, pensamos: por que não manter todos os craques e criar um grande círculo de Helloween? Está indo muito bem. Poucas bandas fazem desse jeito.”

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Fonte: rollingstone.com.br

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