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Glenn Hughes desafia a lógica e sua própria idade com show no Bangers Open Air


Glenn Hughes é daqueles artistas dignos do apelo “traz o CPF”. Desde sua primeira viagem ao Brasil, em 1998, o lendário músico inglês sempre incluiu o país em sua rota. Não à toa chega à sua décima primeira visita, como uma das principais atrações do festival paulistano Bangers Open Air na sexta-feira, 2, com data para voltar: em novembro, realiza uma sequência de apresentações em Porto Alegre (11/11), Belo Horizonte (13/11), Rio de Janeiro (14/11), novamente em São Paulo (16/11) e Curitiba (18/11).

E há motivo para o público seguir comparecendo, o que justifica a série de retornos: Hughes dá um verdadeiro show diante do microfone. Mesmo no alto de seus 73 anos, ainda canta muito. Conserva um alcance surpreendente e não perde o fôlego ou a concentração mesmo caprichando no groove de seu baixo. Desafia sua própria idade e a lógica do envelhecimento humano.

A força do repertório de um cara que já integrou Deep Purple, Trapeze e Black Sabbath e ainda faz parte do Black Country Communion é indiscutível e colabora bastante para o espetáculo. Ainda assim, nada adiantaria se sua performance não tivesse qualidade satisfatória.

O show de sexta-feira, 2, fechando o primeiro dos três dias de Bangers Open Air no Memorial da América Latina, meio que marca o início de uma nova fase. Glenn está de cabelos mais curtos e visual menos extravagante que o adotado nos últimos anos, quando revisitou um período muito específico de sua carreira: os tempos de Deep Purple, quando, entre 1973 e 1976, fez história com os álbuns Burn, Stormbringer e Come Taste the Band. Este período tem sido homenageado pelo inglês há quase uma década, mas agora ele quer celebrar mais fases e, especialmente, lançar um álbum solo, supostamente já gravado e aguardado para algum momento deste ano.

Surpreende, portanto, que sua turnê em novembro tenha sido divulgada como uma despedida. O próprio sequer comentou sobre o tema — o anúncio foi feito apenas pela produtora local. Um artista que ainda tem lenha para queimar e até mesmo entra em uma “nova fase” a esta altura do campeonato não parece disposto a se aposentar.

Ao longo de seu set de 80 minutos, Hughes deixa claro que, ao menos, não soa como se estivesse em “fim de carreira”. Já se nota logo nos primeiros momentos de “Stormbringer”, música que dá nome ao segundo de seus álbuns com o Purple: se os agudos ainda demoram um pouco para vir, o artista demonstra fôlego raro com os fraseados esticados. Ao menos em frente ao palco, seu baixo soava mais alto até mesmo do que a guitarra de Søren Andersen, que, junto a Ash Sheehan (bateria) e Bob Fridzema (teclados), compõe um poderoso power trio de apoio.

Dos três, Sheehan é quem mais foge de reproduzir timbres e linhas das gravações originais e dá mais a sua própria cara, seja pelo timbre de caixa aberto ou pelo peso extra na execução. Só vacila quando, provavelmente sob ordem de Hughes, toca “Sail Away”, terceira do set, em ritmo consideravelmente mais lento que o conhecido pelo público. A velocidade convencional, porém, volta em “You Fool No One”, executada em formato alongado a ponto de ter solos de guitarra e bateria, um blues não tão improvisado e um trecho de “High Ball Shooter”.

O público se anima, mesmo, com “Mistreated” e “Burn”. Na primeira citada, quinta do setlist, Glenn capricha nos agudos sem fazer perder a melancolia da composição original, interpretada somente por David Coverdale. Já na segunda, oitava e última do repertório, faz o público se dividir entre cantar a plenos pulmões e tocar air drums enquanto ouve uma das linhas de bateria mais icônicas da história do rock pesado.

Se há como reclamar de algo, talvez o show não pareceu ter sido preparado para encerrar um festival — oito músicas distribuídas em 80 minutos e várias extensões instrumentais para, sabiamente, poupar a voz da atração principal. Mas é muito pouco para tirar o brilho de uma apresentação tecnicamente formidável e de certo modo até histórica, pois sabe-se lá se Glenn Hughes irá revisitar novamente seu repertório de Deep Purple com tamanho afinco como nos últimos oito anos.

Outros destaques do 1º dia de Bangers Open Air

Organização

Quando ainda se chamava Summer Breeze Brasil, havia alguns pequenos problemas na experiência do público a serem solucionados pelos organizadores. Praticamente todos eles pareceram resolvidos na terceira edição do festival hoje nomeado Bangers Open Air. A saber:

  • A área “Front Row”, uma espécie de mini pista premium, está mais confortável: além de ampliado, o espaço ganhou uma saída pela esquerda que fez bastante falta nas outras edições;
  • Há catracas e entrada/saída controlada por QR code, o que dá mais dinamismo e segurança ao trânsito do público no Memorial da América Latina;
  • Também mais confortável, a seção destinada à compra de merchandise agora está dentro do Auditório Simón Bolívar — para onde os shows do Waves Stage retornaram, dispensando o palco externo reduzido que não deu tão certo na edição 2024.

A se lamentar, apenas o som pouco satisfatório de alguns shows. Durante o Armored Saint, por exemplo, mal se ouvia a voz de John Bush — problema que se repetiu no Pretty Maids ao menos na pista premium “Front Row”, já que na pista comum o microfone de Ronnie Atkins soava bem melhor.

Doro

Não é à toa que Doro Pesch tem o apelido de “metal queen”. A alemã, que desenvolveu longeva carreira solo após o fim do Warlock ainda na década de 1980, ofereceu em seu show tudo o que se espera de uma boa performance de heavy metal: vocais no ponto certo, presença de palco envolvente, instrumental afiado (sob nítido comando do talentoso guitarrista brasileiro Bill Hudson) e repertório sem pontos baixos e tocado praticamente inteiro sob alta velocidade (a única balada, “Für Immer”, é indispensável).

Doro Pesch no Bangers Open Air 2025 – Foto: Diego Padilha / MHermes Arts

Há clássicos espalhados por todo o set, ainda que o final com “Breaking the Law” (cover de Judas Priest começando lentinho para depois ganhar peso) e “All We Are”. Muito carismática, Doro estendeu bandeira do Brasil, arriscou palavras em português e continuou a cantar até quando a música pré-gravada de encerramento, “Living After Midnight” (Judas Priest), começou a tocar nas caixas de som — por cima da voz do “metal god”, ouvimos “metal queen”.

Pretty Maids

O destino poderia ter impedido este que foi o primeiro show do Pretty Maids, banda dinamarquesa fundada em 1981, no Brasil. O vocalista Ronnie Atkins foi diagnosticado com câncer de pulmão em estágio terminal entre 2019 e 2020. De que forma este homem, hoje com 60 anos, está vivo e cantando? Ninguém sabe. Ao site Onde o Rock Acontece, ele conta que o tumor segue lá. “Ele não desapareceu completamente, apenas está sob controle […], então aprendi a conviver com isso”, diz.

Ronnie Atkins, do Pretty Maids, no Bangers Open Air 2025
Ronnie Atkins, do Pretty Maids, no Bangers Open Air 2025 – Foto: Rogério von Krüger / MHermes Arts

É incrível não apenas que Atkins esteja vivo, como também que fãs tenham tido a oportunidade de conferir a enérgica performance oferecida por ele, Ken Hammer (guitarra), Chris Laney (teclado/guitarra), Allan Tschicaja (bateria) e René Shades (baixo). Com repertório fortemente baseado nos álbuns Future World (1987) e Pandemonium (2010), o quinteto presenteou o público com seu som mais inclinado ao heavy metal do que ao hard rock, mas com ganchos melódicos fortes o suficiente para estabelecer a proximidade com o segundo subgênero citado. Canções como “Kingmaker”, “Little Drops of Heaven” e “Love Games” são uma delícia de se ouvir. Para além da voz ainda inteira de Ronnie, há de se destacar o timbre certeiro das seis cordas de Hammer e, especialmente, a potência que é Tschicaja com baquetas em mãos e pedais sob os pés — toca muito.

Também se apresentaram Armored Saint, Dogma e Kissin’ Dynamite. Devido ao horário anterior às 18h, não foi possível acompanhar tais shows, mas vídeos podem ser conferidos abaixo.

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Fonte: rollingstone.com.br

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