Uma força composta por funcionários públicos e policiais militares, conhecida como Força Delegada, tem sido alvo de denúncias por supostas ações violentas contra pessoas em situação de rua em Santos, no litoral de São Paulo. A operação ocorre de madrugada, quando agentes abordam essas pessoas e retiram papelões usados para proteção contra o frio e a umidade.
A reportagem teve acesso a um áudio, um documento enviado à Ouvidoria e ao depoimento de um morador de rua e funcionários públicos que confirmam a atuação do grupo. A Força Delegada é formada por diferentes secretarias municipais e, segundo informações, age com o apoio de informantes.
Denúncias e Polêmica
A Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS), comandada por Elias Júnior, já havia sido denunciada ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) por suposto racionamento de alimentos nos abrigos municipais. A Força Delegada também foi confirmada por funcionários da pasta, que alegam práticas higienistas e sem qualquer suporte social.
Em depoimento, um morador de rua, identificado ficticiamente como Alberto Ferreira por temer represálias, relatou que os agentes chegam entre 1h e 3h da madrugada e ordenam que os moradores deixem o local, enquanto um caminhão recolhe seus pertences, restando-lhes apenas documentos e roupas. “É pura maldade. A PM acompanha dando segurança. Isso acontece quase todos os dias nas ruas do Gonzaga”, contou.
Audiência Pública e Questionamentos
A atuação da Força Delegada será discutida em uma audiência pública nesta quarta-feira (2), na Câmara de Santos. O secretário Elias Júnior será sabatinado pelos vereadores, após polêmicas envolvendo racionamento de alimentos nos abrigos municipais e denúncias de abordagens violentas.
No áudio obtido pela reportagem, um suposto funcionário da Força Delegada desabafou em um grupo de WhatsApp, afirmando estar chateado com as críticas às abordagens realizadas na região central. Ele pediu apoio dos colegas para justificar o trabalho desenvolvido pela equipe.
Prefeitura de Santos Nega a Existência da Força Delegada
Procurada, a Prefeitura de Santos negou a existência formal de uma “Força Delegada” e afirmou que a Equipe Especializada em Abordagem Social da SEDS realiza um trabalho de apoio e encaminhamento socioassistencial, com abordagem qualificada e escuta ativa. A administração destacou que o atendimento é feito em carros adesivados e que a equipe atua em quatro períodos (manhã, tarde, noite e madrugada).
Segundo a Prefeitura, essas operações são conduzidas pela Secretaria das Prefeituras Regionais (Sepref) em parceria com a Polícia Militar, visando à fiscalização do Código de Posturas do Município. As ações incluem combate ao descarte irregular de resíduos e fiscalização de ferros-velhos clandestinos, além de medidas para preservar a zeladoria pública.
A Prefeitura enfatizou que objetos pessoais não são recolhidos e que a remoção de materiais se limita a resíduos e objetos descartados irregularmente.
A polêmica sobre a Força Delegada em Santos levanta questões sobre políticas públicas para pessoas em situação de rua e a eficácia das abordagens realizadas. A audiência pública promete acirrar o debate e exigir respostas das autoridades municipais.
Fonte: Diário do Litoral