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Feminicídio: com protestos, reconstituição acontece em Santos


Protestos, clamor por justiça e questionamentos aos policiais militares que atenderam o caso. A manhã desta quinta-feira (22) foi de muita movimentação na Vila Belmiro, mais especificamente na frente da clínica onde Amanda Fernandes Carvalho, de 42 anos, foi morta com três tiros e 51 facadas pelo ex-marido e ex-policial militar Samir Carvalho, no último dia 7. Durante o ataque, a filha do casal, de apenas 10 anos, também foi baleada e permaneceu internada durante seis dias. A reconstituição, que interditou a Avenida Senador Pinheiro Machado, próximo à Carvalho de Mendonça, no sentido Centro, atraiu dezenas de populares.

Samir Carvalho, que participou da ação, chegou pontualmente às 10 horas, em uma viatura da Polícia Militar. Detido no Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo, desde o dia do crime, o ex-policial permaneceu a maior parte do tempo na viatura, de cabeça baixa, vestindo um casaco branco com capuz. Ele só deixou o veículo por breves momentos, segundo informações, para usar o banheiro.

A indignação popular não se restringiu a Samir. Muitos demonstraram revolta com a atuação dos policiais militares que atenderam à ocorrência no dia do crime. Rosângela Afonso, moradora do bairro, relembrou: “Quando cheguei, vi a filha do casal saindo de maca, baleada. É triste ver como as mulheres ainda estão vulneráveis, mesmo com as leis. Parece que a impunidade para os homens que agridem as mulheres sempre prevalece”.

A artesã Débora Flori de Azevedo também compartilhou seu descontentamento: “Hoje sabemos o que aconteceu e é revoltante perceber que policiais estavam presentes e nada fizeram. Como mulher e mãe, isso me faz questionar em quem podemos confiar hoje em dia”.

Outra testemunha, que preferiu não se identificar, foi mais contundente: “Os policiais são cúmplices. Eu estava aqui no dia do ocorrido e eu vi Samir trocar de roupa dentro da clínica sem qualquer intervenção. Quando tudo aconteceu ele estava de camisa branca e depois, quando saiu para ser preso, estava de camisa preta, Ele saiu do local sem algemas, e hoje está na viatura como se nada tivesse acontecido”.

O advogado da família de Amanda, Claudino Vicente dos Santos, também criticou o tratamento dado ao acusado: “Nada do que vemos aqui é normal e nós vamos cobrar respostas. Samir saiu da cena do crime sem algemas e continua recebendo tratamento diferenciado. A lei não é igual para todos? Então, por que essa diferenciação? Vale lembrar que ele não é mais policial”.

O advogado da família participou da reconstituição e confirmou as versões dadas pelo médico e pela secretária. “A Amanda estava trancada na sala, pediu ajuda da Polícia Militar, chegaram dois oficiais e pediram para abrir a porta, a porta foi aberta e os dois policiais entraram e permaneceram no corredor a um passo da porta. Nisso o Samir entra armado e comete o crime com vários disparos, mais de 50 apunhaladas, com dois policiais em pé, ao lado da porta, perto do ocorrido e nenhum dos dois fazem nada para ajudar a salvar a vida da Amanda?”

Vicente dos Santos admitiu ainda que a versão dada pelos policiais, de que não atiraram porque a secretaria estava na linha de tiro, já foi desmentida. “Quando a porta foi aberta, o movimento natural da assistente foi sair da frente dos policias. Então ela já tinha passado pelos policiais, não tem essa de linha de tiro”.

Claudino disse ainda que a família não busca vingança, e sim justiça. “A nossa função agora, além de justiça, é cuidar dos filhos da Amanda. Ela supria as necessidades financeiras da mãe e dos filhos”.

Por fim, o advogado reiterou que, mais do que profissional, ele era amigo da Amanda há mais de dez anos, e que o sentimento ao entrar dentro do local do crime é de desilusão. “Foi um triste fim para uma menina que trabalhou tanto na vida “.

Nenhum dos policiais envolvidos na ocorrência concedeu entrevistas, sob a alegação de segredo de justiça. A reconstituição do crime agora será analisada pela perícia técnica, e o Ministério Público deve decidir se apresentará denúncia contra os agentes por possível omissão.

 



Fonte: Jornal Da Orla

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