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F1, filme de Fórmula 1 com Brad Pitt, é um blockbuster old school


A média de velocidade de um carro de Fórmula 1 gira em torno de 210 km/h, mas, com a pessoa certa ao volante, dá para chegar aos 400 km/h. (Não tentem isso em casa, crianças.) É claro que você também precisa de uma máquina impecável e de uma equipe profissional garantindo que tudo funcione de forma suave e eficiente. Dominar o circuito exige praticamente uma vila inteira. Mas a diferença entre uma equipe competitiva e uma campeã geralmente está em quem está no cockpit.

“Temos o carro?”, alguém pergunta mais para o fim de F1, o drama sobre Fórmula 1 que tenta tanto vender o esporte a quem não sabe a diferença entre uma McLaren e um McRib quanto surfar na onda desse fenômeno bilionário de popularidade global. “TEMOS O PILOTO!”, brada Javier Bardem com uma solenidade digna de fazer Moisés largar os Dez Mandamentos e começar a bater palmas devagar. E a gente assina embaixo da afirmação do vencedor do Oscar.

Uma história sobre um veterano tentando uma última chance na linha de chegada, um jovem impulsivo que precisa de um mentor, e uma equipe azarona buscando a glória em uma narrativa esportiva que não poderia ser mais formulaica — deixem gorjeta aos garçons! — esse retorno aos blockbusters old school é mesmo uma operação afinada e bem lubrificada. Mas, acima de tudo, tem o piloto. Esqueça a potência do motor. O combustível que move esse bólido aerodinâmico e elegante é poder de estrela 100% puro.

Chamam ele de Sr. Pitt — e mesmo antes de conhecer oficialmente o personagem de Brad Pitt, Sonny Hayes, também conhecido como “o melhor que nunca foi”, o filme já prepara o terreno para apresentá-lo como um gênio rebelde, lendário e fora do sistema. Imagens serenas da natureza se intercalam com cenas de corrida em primeira pessoa, carros cortando o vento em velocidade. É isso que passa pela mente de Hayes antes de sair da van onde vive, seu espaço sagrado, e seguir a passos lentos para a pista. Neste caso, para a 24 Horas de Daytona, que abre oficialmente a temporada. Ele entra no carro, corre seu trecho do jeito dele e, graças à liderança de Hayes, a equipe sai com o troféu. (Nosso herói não toca na taça — diz que dá azar.) E o fato de que tudo isso acontece ao som de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin, só torna tudo, sei lá, cem vezes mais legal. Depois disso, Sonny se manda — “uma e pronto”, pronto para deixar o vento decidir seu próximo destino. O Baja 500 está chegando. Quem sabe ele não consegue uma vaga.

Mas quem entra na lavanderia em Orlando onde Hayes está matando tempo? Seu velho amigo Ruben (Bardem). No passado, os dois eram promessas da Fórmula 1, disputando posição para se tornarem as próximas grandes estrelas do esporte. Até que Hayes sofreu um acidente em uma corrida contra Ayrton Senna e passou os 30 anos seguintes à deriva, na obscuridade. Ruben, por outro lado, virou dono da APXGP, uma equipe eternamente afundada no último lugar. Agora, ele está US$ 350 milhões no vermelho, prestes a perder tudo. E precisa de alguém para virar o jogo. Por que não Sonny? A resposta é um não sólido. Até que, de repente, não é mais. E Hayes aparece na pista de treinos da equipe, chegando com aquele andar de quem já venceu.

Porque ele já venceu — quando você é um piloto fodão interpretado por Brad Pitt, andando por um filme que cuidadosamente te pinta como o equivalente humano de um carro de corrida que roda no limite, mas ignora alegremente qualquer “regra”, já está tudo ganho, certo? Bem, nem tanto. Hayes ainda precisa conquistar Joshua Pearce (Damson Idris, da série Snowfall, em ascensão), o novato promissor que precisa aprender os caminhos, etc., e vê o veterano como uma ameaça. O mesmo vale para Kasper (Kim Bodnia), o chefe de equipe dinamarquês, e Kate (Kerry Condon), a diretora técnica irlandesa — ambos desconfiados de que esse novato geriátrico vá conseguir operar um milagre. A partir da coletiva de imprensa que anuncia Hayes como novo piloto da APXGP, todo mundo — de jornalistas até a mãe de Pearce (Sarah Niles) e seu empresário (Samson Kayo) — começa a fazer piada com a idade dele. Pouco depois, o filme já mostra Hayes mergulhando sem camisa numa banheira de gelo, como quem diz: “Sim, o cara é velho — mas é o velho gostoso Brad Pitt de sessenta e poucos anos.”

Hayes também precisa aprender que Fórmula 1 é um esporte coletivo, mesmo levando em conta o que dissemos sobre o piloto ser o elemento decisivo. Ele terá que equilibrar humildade com experiência e talento, perceber que mesmo suas ações táticas geniais e excêntricas têm consequências no mundo real, e enfrentar não só obstáculos profissionais, mas também seus demônios pessoais. Por mais que “reuniões” envolvendo drinques e jogos de pôquer improvisados entre Sonny e Joshua sejam organizadas pela diretora técnica que tenta mediar os dois, a confiança entre esses dois ases precisa ser conquistada, volta a volta.

Se você acha que o flerte cheio de farpas entre Sonny e Kate indica que ela será o interesse romântico irlandês com atitude — felizmente, Condon é talentosa demais para cair no clichê —, então confie no seu instinto. (Ela sai bem melhor do que a personagem feminina que só atrapalha no começo, aparentemente existindo só para que Hayes pareça mais generoso quando ela se revela essencial mais tarde.) E se Tobias Menzies, como o executivo sorridente da equipe, imediatamente te parece um grande Judas, parabéns: você entende como os filmes funcionam.

Joseph Kosinski, ex-engenheiro e diretor de Top Gun: Maverick, sabe exatamente como fazer tudo isso funcionar — outro épico que girava em torno de uma grande estrela, muito espetáculo e a ideia de que só um indivíduo excepcional, que ignora protocolos, pode salvar o dia. F1 poderia tranquilamente se chamar “Form’ One: Maverick” que ninguém acharia estranho.

Assim como aquele filme com Tom Cruise, F1 aposta que autenticidade, verossimilhança e uma sensação de “você está lá” podem transformar uma boa sessão de cinema numa experiência visceral. O marketing vem destacando que a produção foi realmente incorporada ao circuito da Fórmula 1 por uma temporada, que a equipe de Pitt interagiu com mecânicos reais, que os atores dirigem de verdade em várias cenas e que figuras reais da F1 aparecem no filme — tudo para deixar tudo o mais real possível.

Ter Lewis Hamilton interpretando Lewis Hamilton ajuda bastante — sim, aquele momento de “Through goes Hamilton!” está aqui, com direito a narração ofegante — ainda mais considerando que Hamilton é produtor do filme. Kosinski e o diretor de fotografia Claudio Miranda usam o que há de mais avançado tecnicamente, com câmeras de última geração e planos de câmera que deslizam do ponto de vista do piloto para o perfil lateral, de forma tão fluida que ainda consegue impressionar na centésima vez. A maioria de nós nunca pilotou um Boeing Super Hornet, muito menos um carro de F1 em Abu Dhabi. A aposta é que esses prazeres de segunda mão, mas de primeira classe, vão compensar o fato de estarmos correndo a 400 km/h por um caminho bastante conhecido.

E, de certa forma, compensa — o suficiente para fazer com que F1 não se torne apenas o Dias de Trovão (1990) da nova geração. Ambos os filmes têm o toque do superprodutor Jerry Bruckheimer, mestre em entregar ao público o que ele quer — mais alto, mais rápido e ao som de rock para pais fãs de NASCAR. A assinatura dele está lá, mas o que realmente dá esse ar de nostalgia gostosa é o fato de que esse filme, claramente feito para ser um veículo de estrela, entende que a ênfase está em “estrela”.

Ainda surgem astros no século XXI, mas poucos conseguem carregar um filme desse porte e não parecerem figurantes diante do som e da fúria. A maneira como Pitt injeta sua presença, físico, carisma, persona, disciplina misturada com despreocupação e um jeitão de canalizar um charme roqueiro da Era de Ouro de Hollywood sem parecer datado é o que faz esse filme vencer. Ele até consegue ofuscar os carros. É uma atuação que lembra Clark Gable, Gary Cooper, Burt Lancaster, William Holden e, especialmente, Steve McQueen, outro amante de filmes de corrida. (Não é coincidência que um dos hobbies zen de Hayes seja jogar uma bola contra a parede — igual McQueen em Fugindo do Inferno.)

F1 não poderia ser mais atual, ao focar num esporte que virou obsessão mundial, e ao mesmo tempo não poderia ser mais nostálgico — um aceno ao tempo em que um astro maior que a vida era o único IP necessário. Era isso que os blockbusters costumavam ser. Você vai pelo carro mais bonito que um orçamento de bilhões pode bancar. Mas fica pelo piloto.

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Fonte: rollingstone.com.br

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