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Entre crimes e trapaças, ‘Os Enforcados’ diverte com casal no fio da navalha


Fernando Coimbra, que já havia mostrado talento para explorar o lado sombrio das relações humanas em O Lobo Atrás da Porta (2014), retorna aos cinemas a partir desta quinta-feira, dia 14 de agosto, com Os Enforcados, um filme que troca o suspense psicológico por uma comédia de erros repleta de tensão.

Seu novo longa mergulha em um Rio de Janeiro explorado não como cenário turístico, mas como terreno para intrigas, crimes, trapaças e relações de poder permeadas por interesses e traições. O resultado é uma narrativa que oscila entre o humor corrosivo e a violência iminente, sustentada por um elenco afinado e pela segurança do diretor em manipular ritmos e expectativas.

Na história, Regina (Leandra Leal, O Homem que Copiava) e Valério (Irandhir Santos, Tatuagem) vivem confortavelmente graças ao império do jogo do bicho herdado pela família dele. Enquanto Valério se agarra à ilusão de manter as mãos limpas, Regina enxerga no crime a chance de concretizar seus sonhos. O plano do “último golpe” que selaria o futuro do casal, porém, rapidamente se transforma em um mergulho descontrolado numa espiral de violência, expondo a distância entre expectativa e realidade — e entre os papéis que cada um acredita desempenhar.

A trama se desenvolve como uma engrenagem que nunca para, impulsionada por encontros e desencontros que rapidamente se transformam em uma cadeia de reações imprevisíveis. Milícia, jogo do bicho, práticas esotéricas e situações de improviso se entrelaçam de forma quase natural, compondo um mosaico que reflete a complexidade caótica da cidade. Ainda que a abordagem não se proponha a examinar em profundidade a dimensão política ou social do Rio, Coimbra utiliza esses elementos para colorir e potencializar o drama, deixando claro que o pano de fundo importa tanto quanto os personagens que o habitam.

O filme avança fazendo com que cada decisão mal calculada pelo casal os coloque no fio da navalha e abra espaço para a próxima catástrofe. Há algo dos irmãos Coen (Fargo – Uma Comédia de Erros) na estrutura — a sensação de que todos os envolvidos acreditam estar no controle, quando, na verdade, são arrastados por um fluxo maior que eles. A diferença é que Coimbra injeta nessa fórmula um tempero tipicamente brasileiro, extraindo humor das contradições e da falta de filtros, sem nunca transformar seus personagens em caricaturas vazias.

Leandra Leal se destaca como uma figura tão carismática quanto perigosa, encarnando uma mulher que manipula situações com inteligência e malícia, ao mesmo tempo em que mantém uma camada de imprevisibilidade. Seu desempenho contrasta com o do marido, interpretado por Irandhir Santos com sutileza e ingenuidade calculada, compondo uma dinâmica que sustenta boa parte da tensão dramática. A química entre o elenco e a maneira como os personagens se alternam entre aliados e inimigos reforçam a fluidez narrativa.

O maior mérito de Os Enforcados está no modo como ele se recusa a impor julgamentos ou moralizar suas situações, fazendo o público se divertir com elas. Não há lições de vida ou mensagens edificantes; a história se constrói sobre a lógica interna de um mundo onde as regras são maleáveis e as consequências raramente seguem um padrão justo. Essa ausência de “moral da história” é, paradoxalmente, o que dá mais liberdade ao filme para se mover, explorando a violência e a trapaça sem se prender a um discurso fechado.

No fim, o que fica é a sensação de ter acompanhado um jogo perigoso, conduzido com precisão e humor seco, onde cada peça deslocada altera o tabuleiro de forma irreversível. Coimbra constrói um retrato de um Rio de Janeiro onde o absurdo e a brutalidade coexistem de forma quase banal, e faz isso sem se render ao cinismo gratuito ou ao retrato folclórico. Os Enforcados é, acima de tudo, um exercício de narrativa afiada — tal qual a navalha em que o casal protagonista se (des)equilibra —, que entende que, às vezes, o caos não precisa ser explicado — apenas vivido.

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Fonte: rollingstone.com.br

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