Quando Donald Trump lançou sua repressão militarizada em Los Angeles, o presidente dos Estados Unidos e muitos de seus assessores estavam convencidos de que enviar tropas às ruas de uma grande cidade americana seria uma boa decisão política para eles. Eles sustentam, segundo três pessoas familiarizadas com o assunto, que a imigração foi uma das questões mais fortes de Trump, que ajudou a levá-lo de volta à Casa Branca e que seu programa de deportação em massa tem apresentado bons resultados nas pesquisas desde a campanha de 2024.
Independentemente da resistência ao envio de tropas (provavelmente ilegal) por parte de democratas, da mídia ou de manifestantes, a equipe de especialistas do governo viu isso como uma vitória para eles — e algo que desejam replicar. “Se der certo em Los Angeles, espere que dê certo em todos os lugares”, disse um funcionário do governo Trump sobre o desejo do presidente de realizar operações militares do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em todo o país (este funcionário e as outras três fontes falaram sob condição de anonimato para discutir as deliberações internas).
Mas poucos dias após direcionar tropas da Guarda Nacional e fuzileiros navais para reprimir os protestos anti-ICE em Los Angeles, novas pesquisas públicas sugerem que as recentes operações de deportação de Trump e sua decisão de usar o exército contra seus “inimigos” domésticos não estão aumentando seus índices de aprovação.
Na verdade, a mais recente tomada de poder por Trump está prejudicando seus últimos números.
A plataforma geral criada pelo republicano para comandar a repressão federal à imigração teve bons resultados nas pesquisas eleitorais antes de sua vitória e segundo mandato; pesquisas de 2024 mostraram que os apelos de Trump por deportações em larga escala de imigrantes indocumentados contavam com apoio majoritário. No entanto, esse apoio majoritário diminuiu quando os eleitores foram pressionados sobre políticas e métodos específicos. Em abril do ano passado — para o alerta de agentes do Partido Democrata e autoridades de Joe Biden — uma pesquisa da Harris Poll mostrou que 42% dos democratas estavam entusiasmados com a ideia.
De acordo com uma análise de pesquisa do jornalista de dados G. Elliott Morris, Trump assumiu o cargo com um forte índice de aprovação positiva em relação à imigração. Mas esses índices atingiram o pico em fevereiro, com +11,3%. Agora, pela segunda vez desde abril, a média das pesquisas de Morris mostra que o índice de aprovação de Trump em relação à imigração está negativo.
Parece que a incursão militarizada em Los Angeles não está sendo bem recebida pelo público em geral. Uma pesquisa recente da YouGov mostra que 47% dos adultos americanos desaprovam a ordem de Trump para enviar os fuzileiros navais a Los Angeles, em comparação com 34% que a apoiam. Na mesma pesquisa, 45% desaprovam o uso de tropas da Guarda Nacional pelo presidente, com 38% dos entrevistados apoiando a medida.
Isso se alinha com uma pesquisa da Quinnipiac realizada na quarta-feira, 11, que constatou que 54% dos entrevistados desaprovam a forma como Trump lida com a imigração e 56% desaprovam sua gestão das deportações. Esta é uma reviravolta marcadamente negativa em relação à pesquisa de abril, que constatou que apenas 50% dos entrevistados desaprovavam sua gestão das questões imigratórias.
Da mesma forma, uma pesquisa da AP/NORC realizada na quinta-feira, 12, revelou que 53% desaprovavam a gestão de Trump com a imigração, em comparação com 46% que a aprovavam. Uma pesquisa de texto conduzida pelo The Washington Poste pela Universidade George Mason constatou que o público avaliou as políticas de imigração e deportação de Trump “negativamente por uma margem de 15 pontos percentuais, 52% a 37%”.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na quinta-feira mostra uma nítida discrepância entre a aprovação geral do público por medidas truculentas para restaurar a ordem e a desaprovação do que Trump está fazendo no sul da Califórnia. A pesquisa revelou que 48% dos entrevistados concordam teoricamente com a afirmação de que o presidente deveria “enviar as forças armadas para trazer ordem às ruas”. Mas apenas 38% dos entrevistados aprovaram de fato a forma como o presidente está respondendo aos protestos em Los Angeles.
Esses números provavelmente continuarão caindo à medida que o governo Trump continua a se comportar mal na cidade. Na quinta-feira — durante uma coletiva de imprensa na qual a secretária do Departamento de Segurança Interna (DHS), Kristi Noem, declarou que seu departamento ficaria em Los Angeles para “libertar esta cidade da liderança socialista e onerosa” dos democratas — o senador democrata Alex Padilla foi derrubado no chão e algemado por agentes do FBI quando tentou fazer uma pergunta a Noem.
O vídeo da detenção de Padilla viralizou rapidamente nas redes sociais. Após ser libertado sem acusações, o senador disse aos repórteres que “se é assim que o DHS responde a uma pergunta de um senador, imaginem o que eles estão fazendo com os trabalhadores rurais, cozinheiros e diaristas da comunidade de Los Angeles e de toda a Califórnia”.
Sem dúvida, os vídeos e histórias de adolescentes , mulheres grávidas e trabalhadores comuns sendo perseguidos e detidos pelo ICE estão reafirmando o que pesquisas há muito tempo mostram ser verdade: os americanos geralmente acreditam que migrantes indocumentados com antecedentes criminais devem ser deportados, mas são geralmente desencorajados por batidas indiscriminadas de imigração e deportações que desconsideram as circunstâncias do indivíduo.
Talvez haja um lado positivo para Trump e seu partido em alguns desses dados. Os democratas no Congresso também são extremamente impopulares, motivados pela insatisfação de seus próprios eleitores liberais.
“O público apoia a manutenção da segurança e da proteção dos Estados Unidos, e não gosta da ideia de pessoas aqui ilegalmente — a questão é como isso é administrado”, diz Frank Luntz, pesquisador de opinião veterano e crítico conservador de Trump. “Eles têm uma agenda que o povo americano apoia; o problema deles é a maneira como a executam e a articulam.” Os eleitores querem que as leis de imigração sejam aplicadas, diz ele, mas “não querem senadores agredidos em coletivas de imprensa. Este tem sido o desafio do governo Trump desde o início”, acrescenta Luntz, “porque eles acham que estão no caminho certo, mas, da forma como a situação está sendo administrada agora, não estão”.
Até o próprio presidente — que escreveu na quinta-feira que “todos” os indocumentados “precisam voltar para casa” — parece estar oscilando sobre o assunto, pelo menos do ponto de vista de relações-públicas. Mais cedo naquele dia, Trump postou nas redes sociais que “fazendeiros e pessoas do setor de hotelaria e lazer têm afirmado que nossa política agressiva de imigração está tirando deles trabalhadores muito bons e antigos. Isso não é bom. Devemos proteger nossos fazendeiros, mas tirar os CRIMINOSOS DOS EUA. As mudanças estão chegando!”
Por enquanto, porém, o governo Trump segue a todo vapor com sua visão de um estado policial tipicamente americano. “Em novembro, o povo americano rejeitou veementemente a visão democrata para a imigração — fronteiras abertas e milhões de imigrantes ilegais sem controle — e endossou a visão do presidente Trump para a imigração — deportações e lei de imigração aplicada”, disse a porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, em um comunicado à Rolling Stone. “O presidente está cumprindo sua promessa ao povo americano, e manifestantes violentos de esquerda não vão impedir isso.”
Questionado sobre a recente série de pesquisas negativas para Trump sobre imigração, John McLaughlin, um dos principais pesquisadores do presidente, simplesmente responde: “Você quer dizer as pesquisas falsas?”
Fonte: rollingstone.com.br
