No programa Última Análise desta quinta-feira (15), o tema foi o novo arranjo geopolítico mundial conhecido como Sul Global. O termo vem a substituir a ideia de terceiro mundo e se relaciona mais com os países em desenvolvimento. As viagens do presidente Lula à Rússia e China, além do polêmico mapa-múndi invertido do IBGE indicam que o Brasil é simpático à ideia, podendo assumir protagonismo no grupo.
Convidado especial do programa, o professor de Economia e Direito da FGV, Daniel Vargas, afirma que estamos vivendo uma “transição análoga àquela que o mundo passou em 1945”. Ele se refere ao período no qual vários países ganharam a independência, muitos deles impulsionados por Estados Unidos e Rússia. Os mesmos países tentam se colocar hoje como protagonistas geopolíticos, porém, “sem um projeto alternativo de construção”, exemplificando também o caso brasileiro.
“Neste projeto de resistência difuso, os países abriram mão de seus valores em nome de decisões pontuais”, afirma Vargas. O que leva à percepção de que o Sul Global não necessariamente reflete um conjunto de ideais de liberdade, de direitos humanos, ou de democracia – a exemplo de países autoritários como China e Rússia, dos quais o Brasil cada vez mais se aproxima.
Mapa invertido e a problemática postura brasileira
Em recente gesto simbólico, o IBGE inverteu o mapa-múndi, colocando o Brasil no centro e a Argentina no topo. O colunista da Gazeta do Povo Francisco Escorsim critica a falta de dados técnicos para tal elaboração e aponta para a verdadeira intenção do órgão: “Não teria problema apresentar uma alternativa ao mapa-múndi, desde que isso viesse baseado em algum dado técnico. O que o IBGE fez foi uma ‘lacração'”, classifica
O advogado André Marsiglia completa dizendo que o Brasil muitas vezes pratica uma “simplificação do mundo complexo”, como por exemplo através da dicotomia do “nós contra eles”. O mapa invertido faz jus a essa máxima. “O Brasil faz isso: vira de cabeça para baixo ao invés de melhorar a economia. É um jeito fácil de resolver a questão, quase infantil”, considera.
Já sobre a postura da diplomacia brasileira, a comentarista Anne Dias condena a aproximação ao “eixo ditatorial”, mencionando os acordos brasileiros com Irã e Venezuela. Ainda, lembra do episódio da visita do presidente petista à ditadura chinesa: “Ainda mais crítico é ver Lula indo pra China e trazer um representante para averiguar a questão da regulamentação da rede social. Isso vindo de um país que não tem liberdade de expressão nenhuma”, reforça.
A comentarista se refere à consulta do presidente petista ao ditador chinês Xi Jinping, sobre a possibilidade de enviar um representante ao Brasil para auxiliar nas discussões sobre a regulação das mídias sociais, especialmente o TikTok.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.
Fonte: Revista Oeste