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‘Dookie’ ou ‘American Idiot’? O melhor disco do Green Day para crítico da Rolling Stone


Formado em 1987 nos Estados Unidos, o Green Day construiu um longo catálogo musical, com quatorze álbuns de estúdio lançados. Todavia, é praticamente consenso entre os fãs que seus dois melhores trabalhos são Dookie (1994) e American Idiot (2004).

Algum deles seria superior? Se sim, em que sentido? O jornalista e crítico Igor Miranda, da Rolling Stone Brasil, analisou ambas as obras para trazer um veredito — meramente opinativo e que, claro, muda conforme o gosto e a avaliação de cada pessoa.

Green Day – Foto: Matt Winkelmeyer / Getty Images

A opinião do crítico

Antes de tudo, é importante destacar que Dookie e American Idiot são registros bem distintos em estética, sonoridade e proposta. Mas há vários pontos em comum entre as duas obras-primas de Billie Joe Armstrong (voz e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria). A saber:

1) Os números avassaladores de vendas, com Dookie acumulando 20 milhões de cópias comercializadas (e se destacando mais nos Estados Unidos) e American Idiot, 23 milhões (com um impacto maior em âmbito global);

2) Uma concentração dos maiores hits de toda a trajetória do grupo, com “Basket Case”, “Longview”, “When I Come Around” e “Welcome to Paradise” entre as representantes do disco de 1994 e “American Idiot” (a música), “Boulevard of Broken Dreams”, “Holiday”, “Wake Me Up When September Ends” e “Jesus of Suburbia” presentes no álbum de 2004;

3) Ambições claras de romper com o status quo do chamado “pop punk” onde estão inseridos. Dookie agrega elementos de power pop (a paixão de Billie Joe por Beatles e Beach Boys é sentida em “She” e “Pulling Teeth”) e até jazz (vide a batida de “Longview”), enquanto American Idiot aproxima o Green Day do rock clássico e de conceitos ramificados, a exemplo de ópera rock. Chega ao ponto de ter duas canções com nove minutos de duração (quer algo mais “anti-punk” que lançar música longa?). E tudo isso com vestimentas emo e uma ligeira aproximação sonora com o subgênero que estourava no mainstream naqueles tempos;

4) Reações mistas de puristas, resultado direto do tópico anterior. O Green Day já era chamado de traidor do punk nos tempos de Dookie e esse perfil específico — e diminuto — de avaliação negativa só se intensificou com o desenrolar da carreira, chegando ao ápice em American Idiot, quando ficou claro de vez o quanto Armstrong, Dirnt e Cool não pertenciam a apenas um subgênero específico.

Estabelecidos os paralelos, o voto deste humilde relator recai sobre American Idiot. O álbum de 2004 soa ligeiramente superior a Dookie, na opinião de quem vos escreve, simplesmente por ter maior volume de músicas impactantes, soar mais completo enquanto obra e ter uma estética ainda mais resistente à passagem do tempo.

Dookie é fenomenal não apenas pelos hit singles, como também por faixas do porte de “Burnout”, “Chump”, “Pulling Teeth” e a sensacional “She”, que fez sucesso “à força” pois não saiu como compacto nem ganhou clipe, mas cativou o público. Todavia, o tracklist perde força em sua segunda metade, com canções não tão memoráveis a exemplo de “Sassafras Roots”, “In the End” e as lentinhas e derradeiras “F.O.D.” e “All by Myself”.

American Idiot não é 100% perfeito, obviamente, visto que também conta com algumas músicas menos inspiradas. Entretanto, elas estão em menor volume e por vezes até “passam” porque funcionam no contexto do álbum completo, que é conceitual e narra uma história não tão poética, mas interessante o bastante para manter o ouvinte atento. Lados B como a paulada “St. Jimmy”, a afável “Extraordinary Girl” e “Letterbomb”, talvez o ponto de conexão mais claro com o Green Day de Dookie, engrandecem a obra para além dos hits — e sem tantos pontos baixos.

A mencionada “passagem do tempo” também ajuda a desequilibrar a escolha. Dookie claramente soa como um disco da década de 1990 — o que nem de longe é um demérito e traz ótima sensação à fatia de público que viveu o período —, enquanto American Idiot poderia ter sido gravado ou lançado hoje mesmo. É atemporal em sonoridade, pois demonstra de modo efetivo a evolução artística de cada integrante, e mensagem, a ponto de Billie Joe Armstrong afirmar que a letra da faixa-título se encaixa perfeitamente para definir o atual presidente americano, Donald Trump. Difícil não concordar.

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Fonte: rollingstone.com.br

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