Éinegável que as pistas de dança nunca mais foram as mesmas após 2008, quando Stefani Joanne Angelina Germanotta conquistou o mundo como Lady Gaga e lançou o disco de estúdio de estreia, The Fame (que um ano mais tarde seria relançado como The Fame Monster), e hipnotizou com sucessos como “Just Dance”, “Paparazzi” e “Poker Face”.
Após esse começo épico, a artista não demorou muito parar cravar o próprio nome na história do pop mundial e se tornou uma das principais estrelas do gênero, ao lado de Michael Jackson, Madonna, Beyoncé, Prince, Elton John, Mariah Carey e Rihanna. Pelo mundo, inspira uma legião de fãs que se autointitulam Little Monsters para acompanhar a Mother Monster nos palcos, plataformas de streaming e projetos paralelos nos cinemas e séries de televisão.
Porém, como você confere a seguir, a carreira de Germanotta não foi unânime. Com a aclamação de Born This Way, ela encontrou a primeira frustração em Artpop — apesar dos ótimos números. Nos anos seguintes, embarcou em projeto colaborativo com Tony Bennett, no diferentão Joanne e em trilhas sonoras antes de se reencontrar em Chromatica.
No estúdio, não existe tempo ruim. A artista explorou sem medo os mais diversos ritmos, que passam por pop, eletrônico, house, eurodance, shock pop, indie, country, pop, techno, grunge e synth-pop.
Lady Gaga virou alvo de piadas por não emplacar um hit solo por pouco mais de 10 anos (o meme acabou com o sucesso de “Abracadabra”), mas é inegável: o conjunto da obra supera qualquer tropeço.
Abaixo, relembre com a Rolling Stone Brasil todos os álbuns que Lady Gaga lançou até hoje:
The Fame (2008)
The Fame, o álbum de estreia de Lady Gaga lançado em 2008, era um prelúdio da trajetória que alçou Stefani Germanotta ao panteão das neodivas e consolidou seu protagonismo nas eras narrativas aceleradas (hoje ainda mais velozes). “Eu funciono a partir de um lugar de ilusão”, explicou a artista após esta incursão sobre fama e suas consequências, até então, composta como um ato voyerista imaginário que versa sobre amor obsessivo (“Paparazzi”), pactos de excessos (“Just Dance”) e ambição (“Beautiful, Dirty, Rich”, e “The Fame”). Seria como se este primeiro disco fosse uma saga cinematográfica lançada antes, mas que na cronologia narrativa deve ser assistida depois (do sucesso, no caso).
A expressão “Fake it till you make it” (finja até conseguir, em tradução livre) pensada como artifício de observação de seu alter ego transformou o sonho da cantora e compositora nova-iorquina em eras de aparições-vídeos que provocaram a forma como um hit poderia ser visto, ouvido, fazer sucesso no charts ou cantado ao vivo com verve teatral.
No ano seguinte, sai The Fame Monster com oito faixas adicionais, entre elas “Alejandro”, “Telephone” e “Bad Romance”. Gaga evolui de Madonna, Bowie, Queen, Cher, Depeche Mode… vivendo no tempo dos realities de observação. Homenagem aqui a sua habilidade inegável de pensar manifestos na mesma reprodutibilidade da pop art e levar a outro patamar a canção que é vídeo, moda, documento pessoal vulnerável de identificação.
Este disco-profecia faz parte da lista dos 100 maiores álbuns-debut da Rolling Stone e trouxe a dose ousada de provocação visual e um mix sonoro que flerta com electro, synthpop e dance dos anos 2000 em que tudo parece novo — e familiar. Não é da música pop a pretensão permanente de reinvenção do mundo, mas é também dela a intenção de capturá-lo como um guilty pleasure. — Ademir Correa
Born This Way (2011)
Todo artista tem um álbum definitivo. O que vem depois pode ser ainda melhor, ou uma derrocada para o esquecimento, mas aquele momento vai estar marcado na história como uma virada de chave, que mudou não só o artista, mas a música em si. Beyoncé fez isso com seu quinto disco de estúdio, que carregava o nome dela, lançado de surpresa em 2013. Britney Spears também passou por quatro álbuns — e diversas crises pessoais — antes de dar vida ao impecável Blackout, em 2007.
Taylor Swift conseguiu em menos tempo, com o seu quarto lançamento, 1989, de 2014; enquanto Charli XCX caminhou ainda mais, lançando cinco discos antes do fenômeno Brat, de 2024. Com Lady Gaga, a grande virada veio com o lançamento de seu segundo álbum, Born This Way, em 2011. Apesar de abusar de uma identidade visual bastante distante do pop das pistas de dança que a introduziu ao mundo, apostando em uma estética fora do comum e até monstruosa, já apresentada na reedição de seu primeiro álbum, The Fame Monster, lançado em 2009, a artista investiu ainda mais pesado no pop, em um disco que “soa como a trilha sonora de uma sequência perdida de Eddie, o Ídolo Pop [longa de 1983], no qual Eddie é crucificado por soldados romanos, enquanto Gaga fica sob a cruz chorando e enviando mensagens obscenas para o DJ”, como definiu Rob Sheffield, da Rolling Stone, classificando a artista como uma “visionária do pop” na ocasião.
A associação religiosa não é à toa e está bastante presente no trabalho, com destaque para hits como “Judas” e “The Edge of Glory”, o que trouxe consequências na época. No Líbano, Born This Way foi banido e retirado das lojas. Nos Estados Unidos, os discos também sumiram das prateleiras, mas por motivo diferente: foram rapidamente subtraídos por um séquito de Little Monsters, ansiosos para devorar as preciosas palavras da artista. Em apenas uma semana, vendeu mais de um milhão de cópias apenas no país, algo que não acontecia desde 2005, com The Massacre, de 50 Cent.
Dez anos depois, o dia 23 de maio seria oficializado como o “Born This Way Day”, data comemorativa do lançamento da obra. Porém, além dos sucessos de venda, destaques nas paradas e reconhecimento internacional, Gaga foi ainda mais longe com o single autointitulado.
Inspirada por Carl Bean, um homem gay, negro e religioso, que fundou a Unity Fellowship Church Movement, para acolher pessoas LGBTQIAPN+, e pregava sobre autoaceitação, a cantora ouviu e deu voz a quem, até então, estava acostumado a ser silenciado e repreendido por ser quem era. “Eu sou linda do meu jeito, pois Deus não comete erros. Eu estou no caminho certo, amor, eu nasci assim”, declamava a artista no refrão de “Born This Way”.
Nascia, naquele momento, a Mother Monster, com todas as implicações que o apelido maternal poderia carregar: agora, Lady Gaga era a mãe de milhões de jovens, ao redor do mundo, que se sentiram acolhidos ao se identificar com o jeito fora do comum de fazer arte da extravagante, provocadora e absurdamente talentosa persona construída pela nova-iorquina de ascendência italiana Stefani Germanotta, que abandonou o sonho de se tornar atriz — algo que eventualmente se tornaria realidade — para abraçar uma carreira na música.
“Eu tive aquele tipo de momento de revelação de que aquelas três palavras, ‘Eu Nasci Assim’, eram a resposta para muitas das questões que me fiz ao longo dos anos: ‘Quem é você? Quem é você de verdade?’ Eu nasci assim”, declarou Gaga à Rolling Stone em 2011. “E o significado disso fica maior a cada dia. Diariamente, os meus fãs percebem o peso dessas palavras.”
Ainda que não seja um discurso LGBTQIAPN+ ao pé da letra — “Não importa se você é negro, branco ou amarelo. Se é latino ou oriental. Eu estou no caminho certo, amor, eu nasci para ser corajoso”, também canta Gaga, em outro trecho —, esses fãs tomaram “Born This Way” para si como um hino.
“Lembro-me de chorar assistindo-a anunciar o nome do disco e cantando um trecho da música no MTV Movie Awards”, confessou Daniel Garcia, que dá vida à drag queen Gloria Groove, em entrevista à Rolling Stone Brasil. Naquele momento, recorda, sentiu-se abraçado e incluído. “Esse será para sempre um dos grandes discos que marcaram a minha vida.”
E não foi só na música e entre os Little Monsters que Born This Way criou ondas: um ano após o lançamento, em 2012, Gaga se juntou à mãe, Cynthia Germanotta, para fundar a Born This Way Foundation, organização sem fins lucrativos para “capacitar e inspirar os jovens a construir um mundo mais gentil e corajoso que apoie a sua saúde mental”, que continua firme e forte mais de dez anos depois, ajudando jovens pelo mundo inteiro.
Mesmo abraçada por tantas pessoas, que sentiam que alguém realmente as via do jeito que eram e as encorajava a se amar daquela forma, Gaga chegou a ser acusada de se apropriar da comunidade LGBTQIAPN+ para ganhar dinheiro: “Eu diria que as principais coisas em que penso todos os dias da minha vida, além dos meus fãs, de amar música, minha família e ser saudável, é em justiça social e igualdade de direitos”, declarou à revista The Advocate em 2011. Não havia necessidade de se justificar. Nem um único Little Monster faria uma acusação tão absurda. Afinal, desde criança, nós aprendemos a respeitar as nossas mães. — Henrique Nascimento
Artpop (2013)
Artpop chegou logo após o sucesso impressionante de Born This Way. Superar as expectativas do público e da indústria era um desafio — e Lady Gaga respondeu com um disco que virou tudo de cabeça para baixo.
Vale ressaltar um contexto que também contribuiu na criação do álbum. A cantora se recuperava de uma lesão grave no quadril que exigiu uma cirurgia, além de um afastamento forçado dos palcos. Isso, lembrando, muito antes do cancelamento do Rock in Rio 2017.
No primeiro single, “Applause”, já deixava claro: “I stand here waiting for you to bang the gong / To crash the critic saying, ‘Is it right or is it wrong?’” (“Estou aqui esperando você bater o gongo / Derrubar o crítico dizendo: ‘Está certo ou errado?’”) Gaga aponta o dedo para a necessidade de validação e a relação conflituosa entre arte e mercado.
Visionária, criou um álbum-manifesto onde vulnerabilidade e espetáculo coexistem. Para reforçar esse conceito, chamou Jeff Koons para criar a capa, que mistura sua escultura metálica com O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, e Apolo e Dafne, de Gian Lorenzo Bernini. Gaga se transforma em objeto e crítica, musa e criadora.
Essa fusão entre arte e cultura pop se estende a visuais e performances: o primeiro vestido voador, colaborações com Marina Abramovic´ e o clipe de “Applause”, inspirado em Pierrot. Musicalmente, Artpop mergulha no EDM (Electronic Dance Music) com letras sobre dor, trauma, fama e empoderamento. Em “Aura”, Gaga pergunta: “Do you wanna see the girl who lives behind the aura?” (“Você quer ver a garota que vive por trás da aura?”) — um convite a olhar além da persona.
“MANiCURE” brinca com o exagero feminino e subverte clichês de gênero. Já “Swine” é um grito visceral sobre abuso, que ganhou uma performance impactante no SXSW com tinta vomitada ao vivo. Mesmo com desempenho abaixo do esperado, o disco foi crucial para Gaga romper padrões e se reinventar.
Na faixa-título, declara: “Pop culture was in art, now art’s in pop culture, in me.” (“A cultura pop estava na arte, agora a arte está na cultura pop, em mim”). Mais do que um álbum, Artpop é um registro atemporal de subversão e criatividade. — Daniela Swidrak
Cheek to Cheek (2014)
Até uma das movimentações mais conservadoras de Lady Gaga tem um quê de rebeldia. Àquela altura da carreira, não se esperava por uma parceria com Tony Bennett. Mas aconteceu — e encaixou. Cheek to Cheek nasceu de um papo entre Bennett e os pais de Gaga, após a dupla ter se apresentado durante um evento beneficente em 2011. Mais tarde naquele ano, regravaram “The Lady is a Tramp” em Duets II, disco de Tony. Poderia ter se limitado a isso, porém, virou álbum. Ainda bem.
Gravado ao vivo em estúdio, o material é de extremo bom gosto, seja pela seleção do repertório — que inclui clássicos de Duke Ellington, Cole Porter, Irving Berlin e mais — ou pela interpretações complementares de Gaga, uma potência de cantora, e Bennett, que entrega muito mesmo sem esbanjar notas e técnicas. A versão repaginada de “Nature Boy” é talvez o melhor exemplo disso.
O resultado? Topo das paradas americanas e frutos para ambos: Gaga obteve uma almejada validação artística e Bennett viu sua obra chegar a novas gerações. — Igor Miranda
Joanne (2016)
Enquanto shock rock se tornou um subgênero, “shock pop” nunca existiu. Geralmente, música pop não é feita para chocar. De algum jeito, Lady Gaga quebrou este bloqueio conceitual. Todavia, apesar do momento histórico recente de tentar nos provar o oposto, sempre chega a hora no qual algo chocante deixa de impactar.
Com Gaga, ocorreu em Artpop. O flop foi tão pesado que rendeu um rompimento com o empresário de longa data, Troy Carter, e um questionamento: largar ou não a carreira musical? A resposta foi “não”. Ainda assim, era preciso se reinventar. Tal processo já ocorria com Cheek to Cheek (2014), álbum gravado em 2013, e continuaria com a atuação na série American Horror Story: Hotel. Respirar ar fresco mostrou a Gaga que havia vida além do shock, do babado, do escândalo.
Nasceu daí Joanne, um disco que, sabe-se lá o porquê, é inspirado pela morte de uma tia que Gaga nem conheceu: Joanne Stefani Germanotta, que sucumbiu ao lúpus com 19 anos. Apesar desse detalhe — talvez a parcela de escândalo necessária para a cantora —, trata-se de um álbum consistente, do hit “Million Reasons” ao semiflop “Perfect Illusion”, passando por agradáveis lados B como o R&B feminista “Hey Girl” (com Florence Welch) e a quase-country faixa-título.
A reinvenção passou pela afirmação da cantora como artista completa. Se ela pode gravar jazz e atuar, por que não gravar um disco versátil, que vai do indie ao eletrônico e do country ao pop, onde
sua poderosa voz está no centro de tudo? Gaga is the real deal.
Aqui, ela também acerta ao cercar-se de músicos alheios ao segmento pop/EDM. A guitarra hipnótica de Josh Homme, do Queens of the Stone Age, engrandece faixas como “John Wayne” e “Sinner’s Prayer”, a bateria de Father John Misty confere potência à abertura “Diamond Heart” e a coprodução orgânica de Mark Ronson funcionou a ponto de rolar repeteco em “Shallow”, mega hit da trilha de Nasce Uma Estrela (2018).
Joanne não é uma obra-prima. Conforme o tempo passou, pareceu ter perdido um pouco de seu brilho. Mas foi o primeiro álbum lançado após Gaga ter cogitado — e desistido de — abandonar a música. Missão cumprida. — Igor Miranda
A Star Is Born (2018)
Após fazer show para uma plateia empolgada, um Jackson Maine, interpretado por Bradley Cooper, em crise busca escapar da própria realidade e entra no primeiro bar que vê na rua. No local iluminado por luzes vermelhas e azuis, ele senta no balcão despreocupado com todos a sua volta — menos no drink destilado. Porém, uma linda e misteriosa voz começa a cantar “La Vie En Rose”, composta por Édith Piaf e Louis Guglielmi. Jackson se impressiona na hora pela mulher, interpretada por Lady Gaga e chamada Ally Campana. É exatamente essa sensação que a trilha sonora do filme Nasce Uma Estrela (2018) passa.
Existem duas versões de A Star Is Born Soundtrack: uma com inclusão de alguns diálogos, outra só com as músicas, divididas entre covers e composições autorais de Gaga, Cooper e outros colaboradores. Em entrevista à Harper’s Bazaar, Diane Warren, uma das compositoras da canção “Why Did You Do That?”, exaltou o trabalho da artista.
“Gaga estava determinada a me tirar da minha zona de conforto e conseguiu, mas foi muito divertido. Geralmente fico no meu quarto compondo sozinha. E ela cantou lindamente”, afirmou. “Estávamos apenas tentando compor uma música legal e divertida da Gaga. Queríamos um toque retrô/moderno”.
Apesar do filme ser o terceiro remake de Nasce uma Estrela (1937), ele se destaca pelas atuações, direção de Cooper e, principalmente, a trilha sonora original e envolvente, que foi sucesso na temporada de prêmios: venceu três Grammys (Melhor Compilação de Trilha Sonora para Mídia Visual, Melhor Performance de Duo/Grupo Pop e Melhor Canção Composta para Mídia Visual) e o Oscar 2019 de Melhor Canção Original por “Shallow”.
A sonoridade de A Star Is Born Soundtrack foge daquele pop megalomaníaco que estamos acostumados a ouvir Gaga cantar e fazer história na carreira solo. Ao longo das músicas, o trabalho ganha bastante força com country, rock e blues. Vale destacar o vocal rouco e surpreendentemente bom de Bradley Cooper.
Nasce Uma Estrela tem um final trágico e traumatizante para Ally. A trilha sonora acaba com esse tom mais sombrio, mas potencializa toda a trama — e te faz querer escutar as músicas no dia a dia. — Felipe Grutter
Chromatica (2020)
Após um período de experimentações com influências de country, soul, jazz e R&B, Chromatica foi celebrado como um retorno às origens de Lady Gaga. No álbum, ela resgata o pop eletrônico e dançante que a consagrou no final dos anos 2000.
Seguindo a linha de projetos anteriores, Gaga mergulha em temas pessoais, como saúde mental, dor, superação e aceitação. As faixas compõem uma jornada de autoconhecimento e cura. “Quando fiz esse álbum, eu estava me esforçando para fazer música, porque eu estava realmente triste. Eu nem queria criar. Então Chromatica, para mim, é a forma que encontrei para dançar durante toda a minha dor”, revelou à ABC.
A capa também reflete essa jornada. Gaga aparece de cabelo rosa, usando trajes metálicos futuristas, presa a uma estrutura inspirada em uma onda senoidal. “O som foi o que me curou durante um período da minha vida, e me curou novamente ao fazer este disco”, explicou. A mensagem, aliás, encaixou perfeitamente com o contexto no qual o disco foi publicado: a pandemia de Covid-19, que adiou o lançamento em quase dois meses.
O disco também é marcado por colaborações de peso. Ariana Grande empresta usa voz em “Rain On Me”, o grupo sul-coreano Blackpink participa de “Sour Candy” e Elton John aparece em “Sine From Above” — uma parceria que nasceu de uma amizade de mais de uma década. Isso sem contar o trabalho de produtores renomados como BloodPop, Skrillex, Axwell e Tchami.
Musicalmente, o retorno às origens traz a nostalgia do pop com pitadas de house e eurodance dos anos 1990. Embora seja tratado como um trabalho de resgate, Chromatica é mais do que isso. Muito bem recebido pela crítica e pelo público, o álbum reafirma o papel da artista como uma das mais influentes do gênero nos dias de hoje e mostra que Lady Gaga é amada por sua capacidade de abordar temas complexos e verdadeiros, mas sempre de uma maneira lúdica e performática. — Rodrigo Tammaro
Love for Sale (2021)
Love For Sale é o segundo disco de Lady Gaga vindo da amizade com Tony Bennett. Desta vez, a dupla trouxe uma coletânea de versões de Cole Porter, ícone do jazz, com músicas gravadas por Frank Sinatra e Ella Fitzgerald.
Com mais de 95 anos e um diagnóstico de Alzheimer, o álbum marcou também a despedida de Bennett, que morreu cerca de dois anos depois. Em Love For Sale, Gaga aparece um tanto quanto diferente do habitual: menos performática e mais sutil; ainda assim, intensa. Acompanhada da voz de Bennet e dos metais característicos do jazz, a artista confirma que sua voz tem presença.
O trabalho pode estranhar quem está acostumado com a versão pop da Mother Monster. Mesmo assim, atesta a versatilidade de uma artista que nunca se preocupou muito com rótulos. Conhecida pela rebeldia e pela habilidade de inovar sem medo de quebrar paradigmas, Love For Sale mostra que Lady Gaga é capaz de revolucionar sem deixar de ser clássica. — Rodrigo Tammaro
Harlequin (2024)
Para Lady Gaga, não bastava interpretar Arlequina: ela precisava ser Arlequina. E fez isso através da música. Antes de Coringa: Delírio a Dois (2024) provar que não viveria o sucesso de seu antecessor, de 2019, o longa inspirou Gaga a explorar a vilã longe das telas, no álbum Harlequin.
“Foi incrível poder conhecer essa personagem por meio da música, do roteiro, da dança e toda essa colaboração espetacular”, afirmou a artista ao Sky News na época do lançamento. O compilado traz canções inspiradas pelo enredo do filme, como “The Joker”, releitura da canção do musical britânico The Roar of the Greasepaint – The Smell of the Crowd, lançado na década de 1960. Antes, a faixa também foi gravada pelo pianista e arranjador brasileiro Sérgio Mendes no álbum Herb Alpert presents Sergio Mendes & Brazil 66, de 1966.
Um ano e um fracasso cinematográfico depois, Lady Gaga continua apaixonada pelo trabalho. Ao responder a uma brincadeira, que destacava a ausência de canções do álbum no setlist de seus shows no Coachella 2025, Gaga afirmou: “Harlequin é uma das produções das quais mais me orgulho”. — Henrique Nascimento
Mayhem (2025)
Quando Lady Gaga foi vista deixando a Soho House, em Malibu, em agosto de 2024, com os cabelos tingidos de castanho escuro, os fãs entenderam o recado: uma nova era estava a caminho. Lançado em março de 2025, Mayhem é um mergulho em múltiplas identidades sonoras e estéticas — um disco sem centro, composto de fragmentos, distorções e espelhos partidos.
Gravado em Malibu, com produção de Andrew Watt, Cirkut e Gesaffelstein, o álbum trafega por terrenos que vão do techno ao grunge, do synthpop à eletrônica industrial. Gaga se inspira em Purple Rain, nas batidas do Depeche Mode e nos riffs de bandas dos anos 1990. O resultado é um trabalho que visita versões anteriores de si, como se The Fame, Artpop e Chromatica fossem refreados e reorganizados em um espelho quebrado.
“Tem momentos no qual levamos o som ao limite. Em outros, tudo gira em torno do amor, num clima etéreo e sonhador. Esse contraste, para mim, é o verdadeiro caos”, disse Gaga à Rolling Stone. A faixa de encerramento, “Die With a Smile”, parceria com Bruno Mars, cumpriu a missão comercial. Mas é com “Disease” e “Abracadabra” que Gaga entrega potência, ambiguidade e pistas sobre a natureza do caos que propõe. Há crítica em “Perfect Celebrity”, há memória em “Garden of Eden” — reinterpretação de uma demo nunca lançada, agora tema da Fórmula 1. Mayhem revisita o passado com estética dark e um olhar teatral sobre o presente.
As baladas, como “Blade of Glass” e “Vanish Into You”, habitam um espaço entre o vazio e a entrega, enquanto “Shadow of a Man” se destaca como uma das narrativas mais densas do disco. É uma obra que se recusa a oferecer conforto ou linearidade. Gaga não busca coesão — ela oferece o contrário: um labirinto estético. — Aline Carlin Cordaro
*Matéria publicada originalmente na edição especial impressa da Rolling Stone Brasil sobre Lady Gaga. Veja mais informações abaixo.
Especial impresso da Rolling Stone Brasil sobre Lady Gaga
Para celebrar a vinda da Mother Monster para show gratuito na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio como parte do programa Todo Mundo no Rio, Rolling Stone Brasil produziu um especial impresso, que traz dossiê sobre a carreira de Lady Gaga, discografia comentada, manifesto sobre a nova era – de resiliência e caos – musical. Adquira na pré-venda neste link.
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Fonte: rollingstone.com.br