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David Bowie estava secretamente escrevendo um musical sobre Londres do século XVIII antes de morrer


David Bowie começou secretamente a trabalhar em um musical ambientado na Londres do século XVIII nos meses que antecederam sua morte, em 2016, segundo novas notas encontradas trancadas em seu escritório em Nova York.

De acordo com a BBC, o projeto tinha o título provisório The Spectator, e nem mesmo os colaboradores mais próximos de Bowie sabiam da existência do trabalho até que as notas foram descobertas. Os documentos foram doados ao Museu Victoria and Albert, em Londres, que adquiriu o restante do vasto arquivo de Bowie em 2023.

Bowie começou a esboçar a história e a pensar em possíveis personagens para The Spectator, que parecia misturar fatos e ficção. Ele considerou tornar o ladrão e fugitivo folk-hero “Honest Jack” Sheppard um dos personagens principais, junto de Jonathan Wild, figura proeminente do submundo criminoso londrino, responsável por prender e condenar Sheppard à morte.

Uma das maiores inspirações de Bowie parece ter sido o periódico também chamado The Spectator, publicado entre 1711 e 1712. Bowie manteve um caderno inteiro dedicado à publicação, no qual anotava histórias-chave e até as classificava numa escala de 1 a 10. Algumas ele considerava para possíveis subtramas, como uma narrativa moral sobre uma mulher bonita, mas “vaidosa e severa”, cujo pretendente a abandona pela irmã simples, porém agradável.

Outras notas fazem referência aos Distúrbios de Gordon — uma revolta em 1780 impulsionada pelo sentimento anti-católico — e aos Mohocks, uma gangue violenta de jovens da alta sociedade que ficavam embriagados e atacavam pessoas. Para uma cena mais extrema, ele imaginou uma execução pública, seguida de “cirurgiões brigando sobre cadáveres”.

As notas sugerem que Bowie se sentia atraído pela Londres do século XVIII porque o cenário permitiria explorar temas como crime e punição, o desenvolvimento da arte e da sátira, e a sempre fascinante interseção entre a cultura erudita e popular.

“Londres apresentava tantas justaposições diferentes. Justaposições entre o alto e o baixo, entre o virtuoso e o criminoso, e essas coisas existiam lado a lado”, disse o professor Bob Harris, especialista em século XVIII da Universidade de Oxford. “Acho que havia tanto que encantava os contemporâneos, mas também claramente algo que Bowie próprio achava fascinante”.

Bowie também demonstrava interesse em fazer com que seu musical comentasse sobre o próprio gênero e seu desenvolvimento durante o século XVIII. Madeleine Haddon, curadora do V&A, destacou que, naquela época, “musicais eram usados para sátira política” e disse a respeito de Bowie: “Parece que ele estava se perguntando: ‘Qual é o papel dos artistas nesse período? Como os artistas criam um tipo de comentário satírico?’”

Nesse sentido, ela também observa a possível relevância de Bowie estar trabalhando em um projeto como esse nos Estados Unidos, em 2015, considerando a situação política do país naquele momento. Estaria ele refletindo sobre isso: o poder das formas de arte para gerar mudanças dentro do nosso próprio contexto político?

As notas de Bowie para The Spectator teriam sido presas à parede de seu escritório em Nova York. Mas, como apenas ele e seu assistente pessoal tinham a chave da sala, os arquivos só foram descobertos quando os arquivistas começaram a catalogar todos os seus pertences. As anotações poderão ser vistas quando o David Bowie Centre for abrir no V&A East Storehouse, em Londres, no dia 13 de setembro.

Para Bowie, a decisão de dedicar sua energia criativa a um musical nos últimos meses de sua vida parece ter sido uma escolha bastante apropriada. Em uma entrevista à BBC Radio 4, em 2002, Bowie disse:

Desde o princípio, eu realmente queria escrever para o teatro. E acho que eu poderia ter simplesmente escrito para o teatro na minha sala de estar, mas acho que a intenção sempre foi ter um público considerável.

Embora ele nunca tenha chegado a concretizar The Spectator, Bowie completou outro musical antes de sua morte: Lazarus, que estreou Off-Broadway em novembro de 2015. O espetáculo incluía canções de toda a carreira de Bowie, incluindo algumas faixas de seu celebrado último álbum, Blackstar.

Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Jon Blistein, no dia 5 de setembro de 2025, e pode ser conferido aqui.

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Fonte: rollingstone.com.br

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