Se você está ligado nas redes ou curte futebol, já deve ter percebido o bafafá em torno da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, torneio que reúne os campeões continentais (!) em busca do título de melhor time do mundo (!!), que é super legal porque pode ter jogo de sei lá, o Palmeiras com o Abel Ferreira xingando o Messi do nada. Mas enfim, dessa vez, não é só o futebol que está em alta: a trilha sonora oficial virou assunto à parte e está na boca (e nos memes) de todo mundo.
Então se você acha que já ouviu esse “na-na-na-na-na-na-naaaa” antes, provavelmente está certo. O tema do Mundial de Clubes 2025 é, na verdade, uma reinvenção moderna de um velho conhecido dos fãs de música e de futebol: “Freed from Desire”, hit eurodance lançado em 1997 pela italiana Gala. O que começou como trilha de balada noventista atravessou décadas, ressurgiu das arquibancadas em 2016 e agora ganha status de hino esportivo global.
A história começa em Nova York, quando Gala ainda era estudante de fotografia. Durante uma turnê com um DJ europeu nos EUA, ela foi convidada a cantar uma faixa e assim nasceu “Freed from Desire”, lançada como single e logo transformada em hit europeu. Mas como uma música dançante sobre liberdade e desejo virou trilha sonora de futebol?
A resposta está nas arquibancadas britânicas. Em 2016, um torcedor do modesto Wigan Athletic, então na terceira divisão da Inglaterra, criou uma paródia da música para homenagear o atacante Will Grigg, autor de um gol histórico contra o Manchester City. A nova letra dizia: “Will Grigg’s on fire, your defense is terrified”. Ele publicou no YouTube e o resto é história.
A canção viralizou nos estádios, pubs e redes sociais. Torcedores da Irlanda do Norte adotaram a paródia durante a Euro 2016, fazendo a versão original da Gala voltar às paradas musicais. Versões começaram a pipocar por toda a Europa: Milan, Ajax, Manchester City e dezenas de clubes personalizaram a melodia para seus próprios craques. Até o duo Blonde lançou uma regravação oficial.
Hoje, o próprio Will Grigg joga pelo Chesterfield, da quarta divisão inglesa. Mas o legado de sua “fogueira sonora” continua vivo.
A FIFA, atenta ao potencial viral da melodia, escolheu uma adaptação da música como trilha da Copa do Mundial de Clubes 2025. A versão atual, com vocais digitais e sem letra, mantém a estrutura original e o refrão chiclete, que foi o suficiente para reacender a obsessão.
Esse fenômeno não é isolado. A cultura musical das arquibancadas é parte essencial do futebol, especialmente no Reino Unido e na Europa. Canções e gritos de torcida criam identidade, empolgam jogadores e conectam gerações. “Seven Nation Army”, do White Stripes, é outro exemplo clássico: o riff “Ô-ôôô-ô” se tornou universal.
Torcedores frequentemente adaptam músicas populares, criando versões próprias para celebrar ídolos, provocar rivais ou simplesmente marcar presença sonora. As letras evoluem com o tempo, acompanhando jogadores, fases dos clubes e até crises políticas. O resultado é uma mistura de nostalgia e criatividade. Muitas vezes, essas novas versões viralizam em redes sociais, graças a vídeos de torcidas cantando em estádios, bares ou até no ônibus a caminho do jogo.
E plataformas como TikTok, Instagram e Twitter impulsionam essa cultura como nunca. É possível conhecer os cantos de times de outros países em tempo real, criando um intercâmbio sonoro global. Isso fortalece laços entre torcedores e espalha ainda mais rápido os refrões grudentos como “Na-na-na”.
A música que já foi trilha de pista de dança hoje embala estádios, vídeos virais e gritos de arquibancada. Porque no futebol (e na cultura pop) quem tem melodia, nunca morre.
Veja abaixo outros exemplos de músicas que foram adaptadas nas arquibancadas:
“Seven Nation Army” do White Stripes:
“I Predict a Riot” do Kaiser Chiefs na torcida da partida do Leeds United vs Leicester City:
“Fire” do Kasabian foi tema de abertura da Premier League:
“Don’t Look Back in Anger” do Oasis numa partida do Aston Villa vs Derby County:
“Blue Moon” composta por Richard Rodgers e Lorenz Hart em 1934 é o hino do Manchester City:
… que já teve versão do super-fã do time, Liam Gallagher, com seu finado Beady Eye:
E porque não uma da Xuxa adaptada pelo time uruguaio Peñarol?
Na-na-na-na-na-na-naaaa… e segue o jogo.
Fonte: rollingstone.com.br