O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apresentou novas versões sobre o envolvimento do coronel Marcelo Câmara, outro ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em episódios envolvendo a chamada “minuta do golpe” e o “monitoramento” que teria sido realizado, em dezembro de 2022, do ministro Alexandre de Moraes. A defesa de Cid negou contradições.
Na presença de Moraes, Cid e Câmara fizeram uma acareação, nesta quarta-feira (13), no Supremo Tribunal Federal (STF), para esclarecer divergências sobre esses dois casos. Cid recuou de algumas suspeitas que havia lançado sobre o colega nos depoimentos do processo, que foram lidos por Moraes na audiência.
Em depoimento, Cid havia confirmado que Câmara tinha ciência da tramitação, no Palácio da Alvorada, da “minuta apresentada nos meses de novembro e dezembro de 2022” – uma referência ao texto de um decreto, discutido por Bolsonaro com comandantes militares, para realizar novas eleições.
Câmara teria conhecimento da minuta de decreto porque, no dia que foi apreendida uma cópia na casa do ex-ministro Anderson Torres, em 12 janeiro de 2023, ele escreveu a Cid, por mensagem de WhatsApp, que “o documento não andou, pois poderia não ter viabilidade jurídica”.
Em interrogatório sobre essa mensagem, Cid foi indagado “se a mensagem encaminhada por Marcelo Câmara afirmando que “o documento não andou, pois poderia não ter viabilidade jurídica” estava se referindo à minuta apresentada nos meses de novembro e dezembro de 2022”. Na ocasião, segundo o registro oficial do depoimento, Cid “respondeu que acredita que sim, e não soube de outro tipo de documento que tramitou no Palácio do Alvorada”.
“Confirma que o coronel Marcelo Câmara tinha ciência da tramitação da minuta de decreto. O senhor confirma isso?” perguntou a ele, no interrogatório, Alexandre de Moraes. “Sim, senhor”, respondeu Cid.
Em seu interrogatório, Câmara afirmou que não sabia do documento e que, ao comentar sobre ele com Cid, referia-se à reportagem sobre a apreensão. “Eu comentei que a matéria não teria amparo legal e que não iria prosseguir, e que essa era a verdade”.
Na acareação, Cid esclareceu que, no depoimento, “não quis afirmar que essa minuta era aquela apresentada por Filipe Martins ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro”. Segundo a denúncia, Martins teria apresentado a Bolsonaro o texto de um decreto para decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ou um estado de sítio ou estado de defesa que levaria à realização de novas eleições.
Ainda assim, na acareação, a defesa de Cid pediu que ficasse registrado “que em momento algum o réu colaborador teria afirmado que o réu Marcelo Câmara teve contato com a minuta do golpe apresentada por Filipe Martins”.
Os advogados de Cid disseram que “houve uma interpretação equivocada, inclusive pela imprensa, que acabou levando a defesa do réu Marcelo Câmara a solicitar a acareação, porém, a defesa do réu colaborador faz questão de afirmar que em momento algum nesse ponto houve contradição entre as versões”.
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Monitoramento de Moraes
Em relação ao suposto “monitoramento” de Moraes, Cid foi questionado, em depoimento, sobre mensagens que trocou com Câmara entre 12 e 16 de dezembro, e depois, em 21 de dezembro de 2022, sobre deslocamentos e agendas do ministro.
Cid disse que, no primeiro monitoramento, “possivelmente” Câmara “não estava sabendo” que o objetivo seria repassar as informações para o major Rafael de Oliveira, um militar que, segundo a denúncia, estaria envolvido no plano Punhal Verde e Amarelo, que teria por finalidade matar Alexandre de Moraes.
A execução desse plano teria sido iniciada em 15 de dezembro de 2022, na chamada Operação Copa 2022, que foi abortada, pois Bolsonaro não assinou o decreto para rever as eleições.
Em depoimento, Cid foi questionado se, no segundo “monitoramento”, em 21 de dezembro, Câmara “talvez estivesse sabendo, estivesse ciente do que estava acontecendo” – insinuando que o colega saberia do plano para matar Moraes.
Câmara sempre disse que não sabia desse plano. Na acareação desta quarta, Cid afirmou que a finalidade do monitoramento era “verificação de agenda”, convergindo assim para a versão de que o objetivo seria checar se Moraes estava se encontrando, na época, com o então vice-presidente Hamilton Mourão.
“O réu colaborador [Mauro Cid] confirma seu depoimento e reafirma que não ficou sabendo que o coronel Marcelo Câmara tivesse qualquer conhecimento sobre o monitoramento realizado para a citada operação ‘Punhal Verde e Amarelo’, no que há concordância do réu Marcelo Câmara”, diz a ata da acareação. Novamente, a defesa de Cid negou qualquer contradição.
Questionada pela Gazeta do Povo sobre as novas versões de Cid, a defesa de Marcelo Câmara disse que “ele explicou melhor, não mudou a versão”. “Isso vai contribuir muito para as alegações finais e estamos confiantes. A absolvição”, afirmou o advogado Eduardo Kuntz.
Fonte: Revista Oeste