Cardi B venceu o debate. E o julgamento também.
Uma semana após viralizar por chamar seu interrogatório no banco das testemunhas de “debate”, e não de “altercação”, a rapper vencedora do Grammy recebeu uma vitória retumbante em seu processo civil sobre alegações de que agrediu fisicamente uma segurança que ela acusou de filmá-la.
Os jurados levaram menos de uma hora deliberando no caso acompanhado de perto. Embora precisassem de apenas nove votos para o veredito no tribunal civil, todos os 12 jurados disseram que concordaram por unanimidade que Cardi não atacou a autora da ação, Emani Ellis, nem arranhou o rosto da mulher durante uma discussão acalorada no quinto andar de um prédio médico em Beverly Hills, sete anos atrás.
“Direi isso no meu leito de morte: eu não toquei naquela mulher. Eu não toquei naquela garota. Não encostei minhas mãos naquela garota”, disse Cardi B, nascida Belcalis Almánzar, ao sair do tribunal em Alhambra, Califórnia, com seus advogados Lisa F. Moore e Peter Anderson. Parando para tirar algumas fotos com fãs, Almánzar disse que “vai ser boazinha” desta vez. Ela pediu a seus apoiadores para não “incomodarem” Ellis após o veredito. Mas, ela avisou, não será tão indulgente no futuro.
“A próxima pessoa que tentar mover um processo frívolo contra mim, eu vou contra-atacar com outro processo, e vou fazer você pagar, porque isso não é certo”, disse ela. “Eu não sou aquela celebridade que você processa e acha que vai conseguir um acordo. Eu não vou fazer acordo. Especialmente quando sou super completamente inocente. Eu sei que tenho uma certa reputação, mas juro por Deus, sou inocente. Juro por Deus. Tipo, eu sou inocente de verdade, pra valer.”
Almánzar disse que perdeu o primeiro dia de aula dos filhos por causa do julgamento e que está trabalhando horas extras em seu novo álbum, previsto para ser lançado ainda este mês. Ela disse que não foi fácil acordar todas as manhãs às 5:30 para se preparar para o tribunal. Ela disse que sua testa está “em carne viva, viva, viva” pela variedade de perucas que usou.
“Foi difícil”, disse ela sobre o julgamento de quatro dias. “Espero que isso seja algo que eu deixe para trás, que ela deixe para trás”, disse ela sobre Ellis.
Dois jurados que falaram com a Rolling Stone após o veredito disseram que a decisão não foi nem um pouco acirrada. “Não havia outra forma de isso terminar. Honestamente, foi bem direto. Nós passamos pelas perguntas e todos concordamos. Você viu como o caso se desenrolou”, disse um jurado que se descreveu como estudante de enfermagem.
“Nós discutimos. Com certeza demos a volta na mesa, e todos deram suas opiniões. Mas todos chegaram à mesma conclusão. Não houve agressão”, disse uma jurada que trabalha como fotógrafa profissional.
Em sua alegação final, o advogado de Ellis, Ron Rosen Janfaza, tentou convencer o painel de jurados de que sua cliente estava em uma patrulha de rotina quando Almánzar saiu de um elevador no quinto andar em 24 de fevereiro de 2018, brigou com Ellis e supostamente cortou a bochecha esquerda da mulher com uma unha.
Fora do tribunal após o veredito, o advogado disse que seu lado planejava apelar. Ellis disse aos repórteres que permanece “firme” em sua versão dos acontecimentos.
“Eu não acho que [o veredito] reflete a verdade, mas não estou desapontada. Sabemos que o sistema de justiça às vezes é falho. Infelizmente, esse foi o meu caso”, disse Ellis antes de sair com sua mãe e avó. “Acho que travamos uma boa luta. Mais importante, a questão é sobre responsabilidade. Eu tive meu dia no tribunal. Mantive minha cabeça erguida. Posso ir embora e dizer: eu compareci, e ela teve que me olhar nos olhos.”
A única coisa em que ambos os lados concordaram foi a faísca que iniciou o confronto entre as mulheres. Eles concordaram que o conflito explodiu pela alegação contestada de que Ellis estava filmando a rapper de “I Like It” enquanto ela esperava secretamente seu primeiro filho com o rapper Offset, do grupo Migos. Anderson disse que Almánzar ainda não havia contado a seus pais que estava grávida e considerou as ações de Ellis uma violação de sua privacidade em torno de algo “sagrado”.
Em sua alegação final de contrapartida, o advogado de Cardi, Peter Anderson, disse aos jurados que Ellis foi a agressora. “A autora enlouqueceu”, disse ele em seus próprios comentários finais antes do início das deliberações, por volta das 14:15, horário local. “A autora avançou em direção a Cardi, gritando e berrando, forçando Cardi a recuar.”
Anderson argumentou que Ellis era uma fã declarada que sabia que a rapper de discos de platina visitaria o prédio médico naquele dia. “Apenas com esses fatos, vocês podem inferir que ela estava, na verdade, de tocaia. Ela queria fotografar e filmar Cardi”, afirmou ele.
E mesmo que o encontro do lado de fora do elevador tenha sido uma coincidência, disse Anderson, Ellis testemunhou que Cardi B deixou claro que acreditava que Ellis estava a filmando. “A autora teve a chance de ser profissional e evitar tudo isso, bastava guardar o telefone. Só isso que ela precisava fazer. Mas as evidências mostram que ela manteve o telefone na mão o tempo todo enquanto avançava contra Cardi B no corredor”, argumentou o advogado Anderson.
Durante o julgamento, o obstetra que Cardi B estava visitando, junto com a recepcionista do consultório, disse aos jurados que ouviram a discussão alta entre as duas mulheres e correram para o corredor para intervir. Eles testemunharam que Ellis estava com o celular na mão o tempo todo.
Durante seus dois dias de depoimento, Almánzar (nome real de Cardi B) foi categórica ao afirmar que não fez nada de errado. Ela alegou que Ellis foi quem a perseguiu pelo corredor e a encurralou contra uma parede. Em um depoimento cheio de frases que viralizaram nas redes, Almánzar disse que ela e Ellis tiveram apenas um “confronto verbal”. “Ela não me bateu. Eu não bati nela. Não houve contato físico”, testemunhou.
Anderson disse que a versão de sua cliente era “puro bom senso”, já que Ellis não foi ao pronto-socorro nem procurou um médico imediatamente após o incidente. Ela também nunca registrou um boletim de ocorrência.
“Ela nem sabia se o arranhão que supostamente arruinou sua vida estava sangrando”, disse o advogado, citando o depoimento de Ellis da semana passada. “Ela afirma que Cardi praticamente a atacou, cortou seu rosto, e o que ela fez? Foi para casa e tirou um cochilo. Isso foi o que ela mesma disse.”
Ele afirmou que as evidências, incluindo os depoimentos do médico e da recepcionista, sustentavam a tese da defesa de que Ellis foi a agressora. “Cardi não fez nada de errado, apenas tentou proteger seu bebê e chegar ao médico”, disse.
Em suas declarações finais ao júri, o advogado de Ellis, Ron Rosen Janfaza, disse que sua cliente não estava pedindo os “milhões” que supostamente teria exigido de Almánzar antes do início do julgamento. Segundo ele, Ellis merece uma compensação pelas despesas médicas, além de US$ 250 mil por danos morais e sofrimento passado.
“Ela foi abusada. Ela foi ferida. Ela foi agredida e atacada por Cardi B, e Cardi B precisa pagar por isso”, afirmou.
Ellis, de 32 anos, processou Cardi pela primeira vez em fevereiro de 2020. Em sua queixa de 13 páginas, ela alegou que Almánzar a “atacou violentamente”, cuspiu nela, proferiu “insultos raciais” e depois “usou sua fama para fazer com que [ela] fosse demitida”. Quando o julgamento começou na semana passada, o advogado de Ellis confirmou que sua cliente havia retirado a acusação relacionada à suposta tentativa de fazê-la perder o emprego.
No banco das testemunhas, Ellis disse aos jurados que fazia suas rondas de inspeção quando viu Almánzar sair do elevador e, surpresa, disse o nome da rapper em voz alta. Ela afirmou que não estava falando com ninguém ao telefone nem gravando a artista. “Ela ficou extremamente irritada”, testemunhou Ellis. “Ela colocou o dedo na minha cara.” Ellis disse que a situação a deixou “profundamente traumatizada”.
Por sua vez, Almánzar declarou que estava em Los Angeles a trabalho e marcou a consulta médica porque estava se sentindo “estranha” e queria fazer um exame de gravidez. Segundo ela, Ellis chegou a admitir que a estava filmando.
“Eu falei: ‘Por que você está me gravando? Você não é segurança?’ E ela disse: ‘Ah, foi mal’. Mas então eu continuo andando e sinto que ela ainda está me seguindo. Então, enquanto caminho rápido tentando achar o consultório, viro de novo e digo: ‘Por que você está me seguindo?’”, lembrou a rapper.
“Ela está cada vez mais perto. Agora ela está na minha frente, e eu não consigo nem me mexer direito”, disse Almánzar. “Eu falei: ‘Você não é segurança? … Você está me gravando. Agora está me seguindo. Tipo, se afasta!’ E ela respondeu: ‘Faço o que eu quiser’.”
Almánzar contou que as duas acabaram ficando “peito com peito”, trocando palavras ásperas. “Eu pensei: ‘Essa garota é grande. Ela está de bota preta pesada’”, relembrou. “Eu fiquei: ‘Caramba, e agora? Ela está literalmente colada no meu peito, na minha cara, e nós estamos discutindo, eu mandando ela se afastar, e ela não recua’.”
Almánzar admitiu que a discussão terminou em xingamentos. “‘Bitch, sai da porra da minha cara’, eu lembro de ter dito”, testemunhou. “Nós estávamos literalmente gritando uma com a outra.” Ela afirmou que Ellis “perdeu o controle” quando a recepcionista chegou para separá-las. Almánzar também declarou que Ellis chegou a exigir US$ 24 milhões por supostos danos sofridos naquele dia.
As principais testemunhas de Almánzar, além dela mesma, foram a recepcionista e o médico. O Dr. David Finke disse que viu Ellis supostamente “bater” na recepcionista, Tierra Malcolm. Ele afirmou que Ellis estava fora de controle e “agitando os braços” durante o que descreveu como uma “discussão épica aos gritos”.
“Havia muito grito, muito dedo apontado”, disse o médico. “Minha recepcionista foi atingida, não com força, mas no ombro.” O doutor contou que tentou acalmar a situação. Ele relembrou que repetiu várias vezes para Ellis, em voz alta, que “aquilo não era aceitável” e que ela precisava “parar e fazer [seu] trabalho”. Finke disse que estava a cerca de 30 centímetros de Ellis, olhando diretamente para o rosto dela, enquanto a encaminhava para o elevador para que fosse embora. Ele disse que não percebeu nenhum ferimento na bochecha dela.
Em seu depoimento separado, Malcolm disse que parecia que Ellis havia “meio que encurralado” Almánzar no corredor. Ela afirmou que as duas mulheres estavam “xingando uma à outra”, mas que não ouviu Almánzar usar insultos raciais. “Eu as vi no canto, Cardi B com as costas encostadas na parede, e só ouvi muita discussão”, relatou Malcolm. “Imediatamente fui até lá e fiquei entre elas.”
Malcolm disse que ficou de frente para Ellis, com Almánzar atrás dela. Depois do incidente, percebeu um arranhão em sua testa, que sangrava levemente. Ela não tinha certeza de como se machucou, mas se lembrava de ver Ellis “tentando passar os braços por cima de mim”.
“Eu só via braços voando na minha frente”, disse ela. “Não senti nada e também não vi nenhuma mão vindo por trás de mim.” Quando questionada se ouviu Ellis gritar: “I will fuck your shit up” (“Eu vou acabar com você”), Malcolm respondeu: “Sim, algo mais ou menos com essas palavras.”
Malcolm disse ainda que, alguns meses após o incidente, Ellis ligou perguntando se ela ajudaria em algum tipo de processo relacionado ao caso. Malcolm afirmou que recusou. “Eu não achei que, se contasse a minha verdade, isso a ajudaria”, testemunhou.
Almánzar, que está prestes a lançar seu segundo álbum de estúdio, Am I the Drama?, no dia 19 de setembro, já venceu vários outros processos civis anteriormente. Ela conquistou uma indenização de US$ 4 milhões contra a blogueira de fofocas Latasha Kebe, conhecida profissionalmente como Tasha K. Mais tarde, um juiz de Nova York decidiu a favor de Almánzar e arquivou um processo por difamação que a nomeava como ré junto com sua irmã, Hennessy. Além disso, Almánzar também venceu um julgamento federal na Califórnia no qual era acusada de usar parte da tatuagem nas costas de um homem na capa de sua mixtape de estreia, Gangsta Bitch Music Vol. 1.
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Fonte: rollingstone.com.br