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Black Pantera mostra no The Town que deveria estar nos palcos principais


Em 2022, o Black Pantera já era uma banda em franca ascensão quando se apresentou pela primeira vez no Rock in Rio, festival dos mesmos realizadores do The Town. Na ocasião, os mineiros de Uberaba–MG executaram um breve set ao lado dos Devotos, dividindo o repertório com o grupo pernambucano. Parecia não haver muita confiança no potencial deles, mas por se tratar de uma estreia, fez algum sentido.

Com o lançamento de Perpétuo (2024), seu quarto álbum de estúdio (eleito o segundo melhor do ano pela Rolling Stone Brasil), o trio composto por Charles Gama (voz e guitarra), Chaene da Gama (voz e baixo) e Rodrigo Pancho (bateria) cresceu ainda mais. Naturalmente, passou a ocupar espaços valorizados em festivais. Mas a volta ao Rock in Rio, também em 2024, se deu como atração de um palco alternativo, o Supernova. É como se tivessem sofrido um “downgrade”.

A impressão continua no The Town 2025. O grupo tem força em diversos sentidos para se apresentar, sem convidados ou outros artifícios, no Skyline ou The One, mas acabou escalado no último domingo, 7, para o Palco Quebrada, novidade também alternativa da atual edição do evento. Disputaram as atenções com o Bad Religion, substituto do Sex Pistols no palco principal, e obviamente perderam uma fatia considerável de público em função disso.

Soa como se a curadoria do evento paulista, a mesma do carioca, estivesse com medo de bancar aquela que é a maior banda brasileira de metal da atualidade, considerando apenas nomes surgidos no século XXI. Preferiram apostar em nomes como Capital Inicial, CPM 22 e Pitty, veteranos que já tocaram nesses espaços mais valorizados do Rock in Rio — no caso da cantora baiana, também do próprio The Town, em 2023.

Ainda assim, nada disso importou para Charles, Chaene e Pancho. Diante de um público considerável levando em conta a situação — mas claramente menor que o merecido —, o trio se apresentou como se estivesse no maior dos palcos, para a plateia mais ampla e diante de uma transmissão no Multishow em vez do canal Bis. Até porque a realidade deles é de turnês “raiz”, tocando até hoje em todo tipo de lugar, inclusive botecos e “inferninhos”. Para quem vem do underground, este domingo, 7, foi só mais um dia dessa trajetória.

E se foi só mais um dia, a performance do Black Pantera no Palco Quebrada seguiu à risca o que os tornou conhecidos: uma fusão própria de thrash metal com hardcore, mas não a ponto de virar crossover thrash, e capricho extra no groove. Guitarra pesada com linhas bem diretas formando uma dobradinha curiosa com baixo ora funk, ora punk, mas sempre em evidência e, por que não, protagonismo. Por trás, bateria que também vem à frente, acompanhando e também guiando as transições entre swing e quebradeira. E, obviamente, mensagem antipreconceito — para além do antirracismo — permeando as letras, mas nunca em tom de palestrinha. É um show divertido pra cacete, e que só gera hate em rede social.

Candeia”, escolhida para a abertura, é antecedida por uma gravação de berimbau. Rítmica, a canção é uma das melhores e mais fortes da trajetória do trio. “Boom!”, mais puxada para o hardcore, motivou as primeiras rodas visíveis — e os primeiros gritos de “fogo nos racistas” vindos organicamente da plateia.

A partir daí, só ladeira abaixo — no bom sentido. As rodas só cresceram, ganhando sinalizadores e, consequentemente, seguranças tentando apagar. O público ficou na palma da mão do trio. O palco Quebrada virou palco Black Pantera. A sonoramente grosseira “Provérbios”, a autoexplicativa “Fogo nos Racistas” (sucedida por gritos “sem anistia” também vindos dos presentes), a balada única da noite “Tradução”, o funk-thrash “F&deu”, a pesadaça “Cola”… é tarefa difícil selecionar destaques do set.

Ao fim, permanecem duas perguntas a respeito de futuro. Primeiro: para onde o Black Pantera irá expandir sua sonoridade no próximo álbum, dada a evolução entre Ascensão (2022) e Perpétuo? Segundo: quando é que os dois maiores festivais do Brasil vão colocar o trio nos palcos principais, onde merecem estar?

Setlist do show do Black Pantera no The Town 2025:

1. Candeia
2. Boom!
3. Provérbios
4. Padrão é o Car&lho
5. Fogo nos Racistas
6. Perpétuo
7. Seleção Natural
8. Tradução (antecedida por trecho de Mama I’m Coming Home, de Ozzy Osbourne)
9. F&deu
10. Cola
11. Ratatatá
12. Sem Anistia
13. Unf&ck This
14. Revolução é o Caos (antecedida por trecho de Anesthesia — Pulling Teeth, do Metallica)

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Fonte: rollingstone.com.br

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