Vivenciar um show como esse é um perrengue chique ou um ritual sagrado, principalmente se o artista for o BK’que, com seus quase 10 anos de carreira, entregou (mais uma vez) um show lotado e com data extra no Espaço Unimed, em São Paulo.
Esse ritual/perrengue significou chegar às 19 horas na fila para ver um show que começaria às 23h, ver ambulantes vendendo carregador portátil, fotos estilo Polaroid, bebidas alcoólicas, copos personalizados (não oficiais) e tudo que desse para vender, revelando um comércio local estratégico que entrega uma experiência pré-show irritante, porém curiosa de se observar.
A casa de show abre. A fila anda. Ansiedade aumenta. O lugar tem um backdrop da DLRETour disponível para fotos e um DJ no palco “esquentando o rolê” com rappers da cena nacional, como Duquesa, Tasha & Tracie, Djonga e Luccas Carlos. Claro que ele também trouxe as músicas “Sem Os Vermes Pra Secar”, “Poetas no Topo”, “Dinheiro, Poder, Respeito”, faixas em que Abebe Bikila criou e/ou participou.
O show de abertura ficou na responsabilidade do rapper FYE, artista do selo Gigantes, que fez seu primeiro show solo na capital paulista. O mais interessante é o quanto se mostrou versátil, sempre trocando um pouco o ritmo de suas músicas. Ele também anunciou a produção de um novo álbum chamado Longe de Casae, durante as canções, pediu para o público balançar a mão, ligar o flash, etc.
Após 30 minutos de atraso do show principal, BK’ ainda não havia subido ao palco, deixando o seu público um pouco impaciente (principalmente os que haviam chegado mais cedo). Porém, assim que as luzes se apagaram, a experiência foi de outro universo.
Cantando “Você Pode ir Além”, o artista, seus dançarinos e FYE entregaram um início de show pesado e que chegou “para matar”. Emendando essa, com “Te Devo Nada” e “Eu Consegui”, o público pulava, cantava e entrava na vibe do álbum Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer. Visualmente, o telão atrás e as cenografias, uso de luzes, fumaça e fogo, potencializam a experiência e aproximam os fãs presentes do artista.
Foi entre seus interlúdios que DLRE trouxe o melhor momento. Dado instante, o palco escureceu e esvaziou por completo, decisão questionável se você analisar o tempo em que o público ficou “no escuro”, mas, de repente, sons permeiam o ambiente… sons “ancestrais” e um artista começa a tocar um atabaque, mas ele não era Abebe Bikila. Este outro homem era iluminado por apenas uma luz branca e, sem dizer uma palavra, ganhou aquele espaço inteiro.
A situação se potencializa quando BK’ entra no palco e começa a cantar “Monstro”, um interlúdio que, no ao vivo, marcou um momento de introspecção, conexão familiar e vulnerabilidade da apresentação. Não à toa, as músicas seguintes foram “Medo de Mim” e “Continuação de um sonho”. Lágrimas eram certas. Quem não se viu emocionado, sabia que aquele não era um momento comum e, novamente, o rapper conseguiu aproximar todas as pessoas através da música.

No setlist do show, Abebe misturou músicas do álbum novo com outros sucessos de sua carreira, dando as pessoas que não conheciam toda a discografia um tempo para respirar após gritarem e chorarem. Também foram destaques as participações de Febem em “Esse É Meu Estilo”; Maui em “Real”; as integrantes doFat Family em “Da Madrugada”; e Luedji Luna em “Abaixo das Nuvens” — mas sem a parte de Borges.
A participação de Luccas Carlos marcou bem o bloco amoroso. Cantando o clássico “Planos”, seguido do hit “Música de Amor Nunca Mais”, ele e BK’ proporcionaram para os casais e solteiros do lugar um misto de sentimentos. Foi bem mais difícil, naquele momento, ser a pessoa solteira, mas foi melhor ainda ver pretos e pretas se amando. Esses mesmos casais sentiam cada música de um jeito e, até os que não estavam tão próximos cantando as outras, ficaram melosos nesta parte do show.
Outro interlúdio. Começa a tocar “Só Eu Sei”. Não é a versão de BK’. Ninguém entende nada e… foi assim que entramos no último momento do segundo show da DRLE Tour.
Com uma sensação contemplativa, a versão original de Djavan toca, uma luz azul vai para o público e ele se torna protagonista ao aparecer nos telões. Na hora que o artista da noite volta, BK’ canta “Só Eu Sei”, “Dispiei”, “Amanhecer”, “Universo” e finaliza essa grande experiência com “Não Adianta Chorar” e bis de “Amém, Amém” para “abençoar seu público”.
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Fonte: rollingstone.com.br